Caso tenha perdido, temos texto sobre os três primeiros episódios da série!
Este episódio foi o mais curto até agora e o que menos adaptou páginas do livro, mas nos trouxe razoável desenvolvimento de Annabeth e discussões interessantes sobre paternidade/maternidade.
Avisos importantes!
Eu estou escrevendo estes textos conforme os episódios são lançados. Então se eu apontar ou perguntar algo aqui que é abordado ou respondido em um episódio mais à frente, lembre que no momento da escrita deste texto eu não tinha como saber que isso aconteceria.
Durante o texto vou discutir o que pode/vai vir nos próximos episódios da série, então ele pode conter alguns spoilers do primeiro livro da série literária e da própria série.
O quarto episódio leva o título do décimo terceiro capítulo de O Ladrão de Raios e adapta o capítulo 13 e o início do capítulo 14. Foi dirigido por Anders Engström, assim como o episódio anterior. Assisti ao episódio duas vezes, uma vez dublado e outra legendado. Tudo continua muito bom e com alta qualidade, os incômodos que tive com a dublagem nos episódios anteriores não tive nesse.
O episódio inicia com uma cena irônica, mini Percy (Azriel Dalman) com sua mãe Sally (Virginia Kull) em uma piscina, se recusando a aprender a nadar e quando ela tentou argumentar dizendo que era algo importante de se aprender ele rebateu que não precisaria, pois ela estaria sempre ali. A pergunta que ficou no ar para mim foi: ele aprendeu a nadar, eventualmente? Ou vamos ter a pérola de um filho de Poseidon que não sabe nadar? Não vou mentir, seria engraçado. O sonho se torna um pesadelo e pela primeira vez o mini Percy fica de frente com a figura misteriosa das visões, que não tinha aparecido no episódio anterior, novamente no deserto, com o chão desabando atrás dele, mas o interessante mesmo foi o que a figura disse “um filho proibido chama atenção. Um herói proibido? Costuma chamar a ruína.” Só boas notícias.
Percy (Walker Scobell) acorda em um trem que, assim como o táxi para Nova York, não sabemos como nosso trio chegou, porque todo o momento na floresta com o poodle Gladíola (quem sabe, sabe) foi cortado, mas acho que é possível supormos que o grupo conseguiu algum dinheiro nas coisas da Medusa (Jessica Parker Kennedy) e assim pagaram as passagens.
Ele fala com Annabeth (Leah Sava Jeffries) sobre Thalia novamente e fica entendido que a birra da garota com ele é na verdade ela reproduzindo comportamentos da falecida amiga, melhor do que ser por conta da rivalidade entre Atena e Poseidon. O garoto volta a questionar o comportamento dos deuses e repito, isso é importante. O papo leva a um entendimento maior entre os dois, Percy teve uma mãe mortal que o amava e um pai imortal que – na sua cabeça – nunca se importou em conhecê-lo ou fazer parte da sua vida, enquanto Annabeth teve um pai mortal que a decepcionou profundamente e uma mãe imortal que – na sua cabeça – a auxiliou sempre que foi preciso e a recompensa quando ela merece, novamente, os dois estão em lugares opostos. O que não gostei nesse diálogo foi que a culpa recaiu muito sobre a madrasta de Annabeth, ficou algo muito “madrasta malvada”, sendo que no livro, o pai dela sempre a tratou com certa indiferença e a nova esposa dele (não era lá muito legal, porém) se preocupava porque Annabeth era um perigo, ela atraía monstros.
A cena também nos apresenta a um dos conceitos mais… estranhos dessa saga: a concepção da prole de Atena, isso gera muito debate entre ês fãs. Na mitologia, Atena é uma das três deusas virgens, ou deusas donzelas, junto com Ártemis e Héstia, deusas que fizeram juramentos ou solicitaram nunca casar ou gerar filhes. MAS tio Rick Riordan aparentemente queria muito essa dualidade Poseidon e Atena acontecendo no trio principal, então ele criou toda uma ciência para Atena ter filhes, sem quebrar seu juramento. – Ártemis e Héstia aparecem ao longo da saga de livros, mas assumem formas de crianças e realmente não tem filhes. – Inspirado no mito do nascimento da própria Palas Atena, tio Rick inventou que ela dá a luz pela sua cabeça, como um pensamento, não existe relação sexual, ela só precisaria se apaixonar pelo mortal em questão e conceberia magicamente ume bebê.
Isso gera muitas perguntas. Se a prole de Atena é gerada só por ela, sem contribuição genética de mortais, então seus filhes seriam deuses, e não semideuses? Seria possível ela se apaixonar platonicamente e gerar uma criança sem um relacionamento, tipo uma stalker? E se ela só precisa se envolver romanticamente, isso significa que Atena poderia gerar uma criança com qualquer mortal, independente de sexo ou gênero, aproximando-a de ser alguém LGBTQIAPN+ no Olimpo? Até onde eu sei, tio Rick evita o assunto, Ananbeth apareceu em um berço dourado na frente da porta do pai e é isso, meus parabéns, agora cuide da sua filha pra qual você nem fez um enxoval.
Voltando para o principal, algo entra no trem enquanto o trio está tomando café da manhã. Annabeth fala que as profecias são difíceis de interpretar e finalmente Grover (Aryan Simhadri) fala sobre Pã, o deus da natureza que desapareceu há milhares de anos e desde então a humanidade vem destruindo o meio-ambiente. Para tentar encontrá-lo, sátiros saem para procurá-lo, os chamados Buscadores, essa era a missão do tio Ferdinando quando foi pego pela Medusa. Não foi mencionado Grover querer ser um buscador, mas a semente foi plantada. O quarto aonde a coisa chegou era o dos nossos protagonistas e fez um baita estrago, o que leva nossas crianças a serem detidas, o que foi muito estranho, mas aparentemente tinha uma testemunha. Foi uma situação bizarra, mas levou a mencionarem o raio-mestre mais uma vez em muito tempo, então fiquei feliz.
A tal testemunha era uma mulher simpática, mas tão simpática que lembra aquelas pessoas tão legais que na verdade se tornam sinistras. A mulher é Equidna, a Mãe de Monstros, muito bem interpretada por Suzanne Cryer, capaz de nos fazer tremer com um sorriso aparentemente amistoso, e velha conhecida para quem assistia a Rede Record nos anos 2000 e acompanhou Hércules: A Lendária Jornada (Hercules: The Legendary Journeys, 1995-1999) e Xena: A Princesa Guerreira (Xena: Warrior Princess, 1995 – 2001). No livro ela é enviada por Zeus, mas aqui parece estar por conta própria.
Assim como Medusa, ela tem um ótimo diálogo. Gosto de como os monstros tem ganhado personalidade e levantado discussões nesses últimos episódios, sendo melhor explorados e se tornando mais do que apenas criaturas que vão morrer. O que ela fala, pode ser resumido com o bom e velho: todo mundo é o herói da própria história. Para os monstros, os semideuses é que são os monstros, toda a mitologia grega é um grande Casos de Família, o que separa heróis e vilões pode ser até considerado arbitrário, todes compartilham a mesma linhagem em certo ponto. Ela até mesmo menciona que sua avó, é a bisavó delus, em referência a Gaia, uma entidade primordial que se tornaria a mãe do titã Cronos, pai de grande parte dos deuses do panteão grego. Ela é inclusive irmã das górgonas, ou seja, irmã da Medusa.
Porém fiquei novamente INDIGNADA por tirarem a piada que Percy faz, perguntando se “equidna” não seria o nome de um animal. Da bolsa de transporte ouvimos um rosnado de cachorro que se torna o rosnado de um animal muito maior, que estava farejando o medo do nosso trio e que a princípio mostra apenas sua cauda com ferrão. Desnecessário dizer que eu amei ver o trem tremendo e sacudindo, mas quando os mortais olham veem um chihuahua, é sobre isso, afinal é uma criança novinha, ainda aprendendo a caçar.
Depois, nosso elenco vai para o Gateway Arch, um monumento e Parque Nacional dos EUA, à margem do rio Mississipi. Novamente, criam um motivo muito melhor para irem até lá do que no livro, onde simplesmente Annabeth quer ver o lugar por ser apaixonada por arquitetura e Equidna só aparece por ali. Agora estão em perseguição e o lugar vai servir de abrigo. Ideia que me parece vir do filme de 2010, aonde ao invés de ir para Saint Louis, os protagonistas vão para Nashville, no Tennessee onde existe uma réplica do Partenon, templo dedicado à deusa Atena.
Agora o monumento foi criado por um filho de Atena, basicamente Annabeth jogando Eero Saarinen – o arquiteto que projetou o Arco – no canon de Percy Jackson como semideus. Isso rende um bom momento para mostrar o amor da garota por arquitetura, mas Grover aponta que o lugar não é apenas isso. O Gateway Arch também é conhecido como The Gateway to the West, ou seja, é um monumento à Expansão para o Oeste, não apenas uma analogia com a jornada do trio, mas basicamente a essa expansão nos EUA. Momento da história muito parecido a como foram as entradas e bandeiras aqui no Brasil. Expedições regadas de genocídio indígena, desmatamento e a dos EUA quase provocou a extinção dos bisões. Quem quiser pode pesquisar mais a fundo o assunto, sobre destino manifesto e conferir o site do monumento, que tem várias exposições sobre o assunto até hoje.
Em um momento a sós, Percy faz uma piadinha com sotaque inglês que arranca um sorriso de Ananbeth e quem torce pelo casal com certeza vibrou aqui. Percy entende a ligação e admiração que ela tem por Atena e ela sugere que ele tente falar com Poseidon por ali, afinal ainda é um templo, mas ele se recusa por achar que o pai nunca ligou para ele, e é quando fica claro que ele foi sim, envenenado pela criatura. Seus amigos tentam curá-lo na fonte, mas Annabeth deduz que precisaria ser de uma fonte natural, o que faz sentido, pois deuses controlam forças naturais. Então já fica fora de questão Percy se curar por água encanada.
Quando Equidna e Quimera estão chegando ao Arco, temos um momento em que ela anda na direção das crianças e a cena se repete, demorei um pouco para entender que seria uma referência a cena de Alecto (Megan Mullally) e Percy no primeiro episódio, em que em algum tipo de telepatia o monstro falou com ele pela mente. Equidna falou na mente de Ananbeth, que decide que precisam ir ao ponto mais alto do Arco para pedir por auxílio, mas se depara com um problema: Atena permitiu que os monstros entrassem no local, porque se aborreceu com a encomenda da cabeça da Medusa. É importante lembrar que foi Atena quem amaldiçoou a mulher, ela levou para o pessoal e ficou com o orgulho ferido, não bastasse sua filha estar ajudando o filho de seu rival, e pior ainda, o ladrão de raios. Provavelmente será mencionado no próximo episódio, mas com a demora para a devolução do raio-mestre, os deuses começaram a se dividir para uma guerra total, e óbvio, Atena ficou do lado de Zeus.
Sem a ajuda da deusa, a saída encontrada é alguém ficar para trás distraindo os monstros, enquanto os outros dois fogem e continuam a missão. Annabeth decide ficar, mas Percy consegue enganá-la e ficar no seu lugar. É quando vemos afinal o visual completo da Quimera, estrategicamente escondido até então para gerar tensão e dar aquela economizada nos efeitos. Achei o design todo muito bonito, ao invés de a fazerem parecer um animal misturado de cabeça de leão, corpo de bode e serpente como cauda, fizeram como uma unidade, então todos esses animais estão lá, mas misturados. Achei que também seria um momento de revelar Equidna em forma de monstro, que seria uma mulher-cobra, mas optaram por deixá-la em forma humana, acredito que para não encarecer ainda mais a cena. Equidna usou uma espécie de telecinese? Não entendi bem, foi um poder que ela poderia ter usado bem antes.
O importante é que ela abre um buraco no chão. No livro, ela o desafia a pular por achar que Poseidon não vai ligar e antes de pular, Percy diz “Pai, me ajude.” Aqui no entanto, não é mais sobre ser um momento em que ele decide ter um pouco de fé no pai, não é sobre pedir ajuda, é sobre não precisar pedir ajuda, porque você não deveria precisar pedir ajuda para o seu pai, é sobre Poseidon se provar e mostrar que ele merece o respeito do filho. E ele cai. Uma queda que inclusive corrige um leve problema apontado por muitas pessoas na comunidade, que o ponto em que Percy cai e o rio, estão a vários metros de distância. Então na cena, a água o agarra e puxa para o rio.
No fundo do Mississipi ele acorda, preso pelo pé. Para fins comparativos, estar ali dentro do Mississipi é tipo estar dentro do rio Tietê. Uma nereida aparece e conta que Poseidon sempre o acompanhou e sempre quis estar perto dele. Ele estava orgulhoso e Percy não precisava provar nada, seu pai não precisa que ele prove nada. E o episódio finaliza com nosso garoto descobrindo que pode respirar embaixo d’água.
No geral, gostei do episódio, a trilha sonora nele foi muito boa, mas não vejo porque ele tem 10 minutos a menos em comparação aos dois anteriores. Sinto que a direção ainda deixa as crianças muito engessadas, Annabeth zangada e Percy chateado, mas neste pudemos ver algumas nuances. Continuam sumindo com a caneta quando ela se torna espada, o que me faz voltar ao meu ponto, tirar a tampa é tosco e deveriam ter deixado ela ser de clique. Apesar de ter achado o visual da Quimera lindo, percebi certa limitação nos movimentos dela, o que só não tornou a luta pouco crível por Percy estar envenenado e cambaleante. Dá a impressão que pouco dinheiro foi investido nos efeitos especiais, e sinceramente, a Disney+ não pode ficar com medo de gastar com CGI em suas séries, a Apple TV+ e o Prime Video tem feito tudo menos economizar nesse quesito e garantir os melhores efeitos possíveis, é cuidar para não ficar para trás.
Temos imagens do próximo episódio, mais especificamente: a entrada/fachada do que parece ser um parque chamado Waterland, Percy e Annabeth em um barquinho em uma espécie de túnel e uma luz no teto, Annabeth abraçando Percy, três senhoras tricotando com lã azul que sabemos que são as Parcas, que cortam um fio da lã, um escudo com um javali, Percy sentado em uma cadeira dourada e sendo coberto por ouro, os dois pulando do barquinho para dentro d’água, uma descida radical no túnel do barquinho, um homem de jaqueta – que sabemos que é Ares – fechando portas ao som de Percy narrando “ela disse que os deuses sempre se tratavam assim, esse é o tipo de família que eles são.”
Vale lembrar que em preparação para a série, também tivemos textos sobre o primeiro livro de Percy Jackson e os Olimpianos, e suas adaptações, o filme de 2010 e a graphic novel.
Nos vemos no episódio 5!
VEJA TAMBÉM
Percy Jackson e os Olimpianos – 1×03: Nossa visita ao Empório de Anões de Jardim
Percy Jackson e os Olimpianos – 1×02: Minha transformação em Senhor Supremo do Banheiro
Bacharel em Cinema e Audiovisual, roteirista, escritora, animadora, otaku, potterhead e parte de muitos outros fandoms. Tem mais livros do que pode guardar e entre seus amigos é a louca das animações, da dublagem e da Turma da Mônica. Também produz conteúdo para o seu canal Milady Sara e para o Cultura da Ação TV.