RESENHA | Percy Jackson e os Olimpianos – Livro Um: O Ladrão de Raios, de Rick Riordan

Percy Jackson: O Ladrão de Raios

Com a estreia próxima da série adaptando o universo dos deuses, era inevitável falar sobre a saga de livros que dará origem a tudo que virá. Assim como também todo o processo que temos passado decepcionados com autores que se demonstraram alienados, omissos e até mesmo inimigos de várias minorias sociais, Rick Riordan, que nos apresentou Percy Jackson, demonstra ser um escritor conectado ao mundo em que vive e disposto a apoiar aqueles que fazem parte dos seus leitores.

Mesmo assim, alerto a todos que esse texto não será sobre Riordan e muito menos sobre o que eu senti ou achei sobre Percy Jackson e os Olimpianos. Esse texto será uma breve análise sobre o primeiro livro.

Por ser um livro infantojuvenil, a primeira missão de Percy é conquistar o leitor desde o início. Sendo em primeira pessoa, com o narrador personagem, parece ser mais fácil disso acontecer – mesmo que minha leitura não tenha sido feita pelo texto original, mas da 3º edição traduzida. A linguagem do personagem é facilmente comprada como feita por uma criança de 12 anos contando sua jornada: rebelde, sabichão e sarcástico, a narração do personagem conquista desde a primeira página.

A história segue a clássica estrutura da jornada do herói: uma criança comum descobre que é destinada a grandes atos. Após inúmeras situações inexplicáveis é apresentada a um mundo à parte do que sempre acreditou viver e, nesse mundo, deuses existem. Toda a mitologia ocidental existe. E, consequentemente, os filhos dos deuses existem, sendo que Percy é um desses filhos. Mesmo que em mais da metade do livro não saibamos a que deus ele pertence, é deixado várias dicas e piscadelas ao leitor, como a água do chafariz agarrando Nancy Bobofit, a valentona do internato. Ou a explosão dos canos do banheiro depois de ser ameaçado de ter a cabeça enfiada no vaso sanitário, já vivendo no acampamento meio-sangue, entre outros momentos antes da grande revelação.

Quando Percy é levado para o acampamento meio-sangue, local criado para os filhos dos deuses viverem em segurança, mesmo depois desses casos o ligando a água, o acampamento parece viver em negação. Todos torciam para que o mais novo membro pertencesse à linhagem de um deus menor, já que, depois da Segunda Guerra Mundial, causada pelos filhos dos três grandes deuses: Zeus, Poseidon e Hades, foi feito um juramento sagrado os proibindo de terem descendentes com mortais. Essa negação surge como uma neblina a todos os moradores daquele acampamento, sendo só dissipada quando Poseidon o reivindica.

No entanto, isso nos coloca na trama central desta introdução à saga. Zeus e Poseidon estão sob uma prevista guerra, pois o raio-mestre do deus dos céus é roubado durante uma visita dos semideuses ao Olimpo. Como honestidade e fidelidade nunca foi o ponto forte das divindades gregas, o mundo fica em suspensa tensão. E Percy é apontado como o autor desse crime, já que seu pai, junto de outros deuses, tempos antes, ameaçou tomar o trono de Zeus se não melhorasse como deus supremo. Desconfiar do filho do deus do mar faria todo o sentido.

Então a segunda parte do livro se fixa na Missão: Percy, junto de Grover (seu melhor amigo sátiro e também seu guardião) e Annabeth, filha de Atenas e a garota mais inteligente do acampamento – segundo Percy e ela mesma – partem atrás daquele que desconfiam ser o mandante do roubo e de quem mais lucraria com a guerra, Hades. Rumo ao submundo eles enfrentam monstros como Fúrias, Medusa, Quimera, Equidna e Cérbero. Todos popularmente conhecidos na mitologia grega.

Outro ponto importante é que a obra é sobre Percy Jackson. Mesmo que o subtítulo seja “Ladrão de Raios” e toda essa jornada seja em busca do objeto roubado. E isso não é esquecido em momento algum. O protagonismo, evolução e revelações são feitas ao leitor em conjunto ao personagem. Somos atraídos a participar de cada nova luta, conflito. Ficamos amigos dos amigos dele e temos vontade de criar intrigas com cada ser que vai contra ele. Mesmo que você mais de 12 anos ao ler, a história traz aquele calor da ingenuidade que só se tem nessa idade. A verdadeira identidade do ladrão só é revelada no final. Isso traz um arrepio gelado na nuca ao notar que Oráculos nunca erram em suas previsões.

Por fim, a missão de Riordan foi conectar o mundo mitológico com o mundo moderno e isso é feito de maneira bem criativa. Partindo do pressuposto que o leitor, para entrar numa história, precisa aceitar tudo o que é proposto, podemos acreditar que grandes ídolos famosos do mundo real são filhos de Afrodite. E que o “cheiro” de pessoas ruins é tão forte que disfarça os dos meio-sangue. Além da explicação sobre o Olimpo residir sempre onde está a maior potência do mundo, tendo já sido a Grécia e, agora, os Estados unidos. Assim como não existe uma anulação da crença cristã, do deus monoteísta. O que foi um bom plano, já que deuses vivem de amor e crença, mas não necessariamente voltada a eles.

Não sei descrever como foi incrível revisitar essa obra como adulto e com um olhar um pouco mais desconfiado sobre o que é proposto. Notei que a leitura tornou-se mais rica e com muito potencial para a continuação da saga. A saga de livros atraiu inúmeros adolescentes a estudar sobre filosofia e mitologia. Torço para que a adaptação consiga, também, atrair os adolescentes a atravessar essa neblina e descobrir um novo mundo.


Título original: The Lightning Thief

Editora: Intrínseca

Tradução: Ricardo Goveia

Publicação: 2014

Nº de Páginas: 385


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