Quando falamos em filme de Natal, nosso imaginário já coloca certos elementos no lugar e nos diz o que devemos esperar. Todo ano. E mesmo assim, filmes de Natal continuam sendo feitos, assistidos, unindo pessoas em frente a uma tela (seja um projetor, uma televisão, um computador ou até um aparelho celular) e aquecendo vários corações. Esta época do ano é, creio eu, quando a maioria das pessoas se torna suscetível a comprar histórias pouco críveis, seja no próprio realismo dramático ou não, e apenas se deixarem levar pelos sentimentos.
Normalmente vejo um ou outro filme de Natal pois a maioria não me chama muito a atenção, mas esse ano toda vez que eu abria a locadora vermelha vinha um filme sugerido para mim: A Invenção de Natal (Jingle Jangle: A Christmas Journey, 2020). Eu procrastinei um pouco até o dia onde finalmente sentei para assistir este filme com as pessoas que eu amo ao meu lado e, sinceramente, preciso tirar do meu peito o quanto me emocionei. Sou uma pessoa muito fácil para chorar em filmes, quem já assistiu alguns filmes ao meu lado pode comprovar isso com todas as palavras. Mas esse filme atingiu algo mais profundo, não foram meras lágrimas saindo de mim, era algo mais emocional e capaz de me colocar em contanto com minha própria infância.
O filme se passa em um mundo fantástico, não no nosso, só isso já chama muito a minha atenção, mas a forma como os personagens se apresentavam me vendeu totalmente a ideia. É um filme cujo elenco, salvo alguns figurante aqui ou ali, é completamente negro e/ou latino, algo não muito visto em filmes fantásticos de Natal. Quem já leu algo meu, sabe o quanto sou a favor de obras Hollywoodianas com elencos menos brancos, então o filme já ganhou muitos pontos por isso. Mas bem, isso já dava para imaginar pelas propagandas lançadas para mim pela própria Netflix, onde o filme está disponível.
Tenho uma grande surpresa nos primeiros minutos, quando me deparo com um incrível e contagiante número musical. Me criei assistindo os musicais da Disney, então sempre foi um gênero com um lugar especial em meu coração e uma das surpresas mais bem vindas foi descobrir que se tratava de uma fantasia natalina musical com elenco negro. Era um verdadeiro presente este filme dirigido e roteirizado por David E. Talbert, cujo currículo conta com alguns filmes de Natal. Enquanto a maioria dos outros filmes natalinos do diretor são do gênero comédia, este é um verdadeiro conto de Natal, não poupando com fantásticos efeitos e números musicais.
A trajetória do diretor no teatro é extremamente bem vinda quando ele se coloca a dirigir a obra natalina da Netflix. A coreógrafa Ashley Wallen, responsável também pelo aclamado filme estrelando Hugh Jackman, O Rei do Show (The Greatest Showman, 2017), é quem assina a coreografia de Uma Invenção de Natal. Embora os filmes sejam bem diferentes em vários pontos, a ideia de fantasia, de explorar o fantástico por meio de números musicais com apresentações de dança, permeia muito bem as duas obras. E é inegável a semelhança nos trabalhos de Ashley Wallen, cuja assinatura se torna bem presente enquanto assistimos a maravilhosa fantasia natalina.
Na história do filme acompanhamos um inventor chamado Jeronicus (interpretado em sua idade mais jovem por Justin Cornwell) e sua fantástica loja de invenções com sua linda família composta pela esposa Joanne (Sharon Rose) e a filha do casal Jessica (interpretada por Diaana Babnicova e também por Anika Noni Rose anos mais velha). A família perde tudo quando um livro de invenções de Jeronicus é roubado por seu aprendiz e um maquiavélico boneco dado vida pelo próprio Jeronicus (dublado por Rick Martin). Anos depois, seguidos de perdas, dívidas, separações, Jeronicus abandonou totalmente o trabalho de inventor e sua loja virou uma loja de penhores. Sua filha foi criada longe dele, o distanciamento de tudo que ama é um dos males que mais o assola, mesmo tendo sido fruto das escolhas dele.
Ao Jeronicus mais velho temos o incrível Forest Whitaker, um velho sem muito tato para lidar com as pessoas e sentindo falta do amor de sua família, algo que ele julga para sempre perdido. Bem, até a chegada de uma jovem moça cheia de sonhos e vontades de conhecer o grande Jeronicus, o Inventor. Sua neta, Journey (Madalen Mills), chega até a vida do seu avô para aprender mais com ele. Afinal, um dos dons da família é sim a capacidade de inventar, de compreender números e equações matemáticas que nem todos são capazes de entender. A incrível química exibida entre os protagonistas são realmente um dos maiores pontos positivos deste filme, como se já não bastassem todos já aqui citados.
Uma Invenção de Natal se concretiza como um filme capaz de trazer muito sem ser pretensioso, apresentando-se como uma divertida e até um tanto melodramática aventura fantástica de Natal. Através de seu enredo, o filme mistura elementos de magia com matemática, vistos pelos olhos de uma jovem garota negra que sempre sonhou com a possibilidade de se tornar uma inventora como seu avô. Os laços familiares, a capacidade de perdoar e também de acreditar e sonhar, isso tudo coberto com números musicais divertidos e emocionantes, tornam esse filme uma deliciosa receita para ser aproveitada ao lado de quem amamos numa época de Natal e festividades.
Em um ano cheio de acontecimentos ruins e sentimentos de solidão, desespero, o filme se mostra um verdadeiro presente capaz de trazer esperança e calor para os corações ao redor do mundo.
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Cineasta graduade em Cinema e Audiovisual, produtore do coletivo artístico independente Vesic Pis.
Não-binarie, fã de super heróis, de artistas trans, não-bináries e de ver essas pessoas conquistando cada vez mais o espaço. Pisciano com a meta de fazer alguma diferença no mundo.