Crítica | The Last of Us – 1×04: Please, Hold to My Hand

Diante do sucesso que foi “Long, Long Time”, o belíssimo e emocionante episódio anterior, The Last of Us (2023 -) retorna com um capítulo curto, a menor duração até agora, com ares de introdução, ou melhor dizendo, de transição. Após deixarem a vila de Bill (Nick Offerman) e Frank (Murray Bartlett) para trás, Joel (Pedro Pascal) e Ellie (Bella Ramsey) seguem viagem em direção a Wyoming, onde Joel espera encontrar seu irmão, Tommy (Gabriel Luna) ao mesmo tempo que também espera encontrar pessoas que possam ajudar Ellie a chegar em seu destino final, junto aos Vagalumes. Aqui, somos apresentados a novos personagens, novas dinâmicas e novos dilemas. Um episódio que pode ser apontado por muitos como o mais fraco da temporada até agora, já que se comparado aos anteriores, “pouca coisa acontece”, mas que finalmente tem a oportunidade de trabalhar um dos pontos mais cruciais para o andamento da história, senão o mais importante de toda ela, a relação entre Joel e Ellie.

Este texto contém spoilers. Continue lendo por sua conta em risco.

No final do episódio anterior, Ellie encontra a antiga arma de Frank e a leva consigo, escondido de Joel já que ele se mostra totalmente contra a ideia de deixá-la carregar uma arma de fogo, deixando bem claro que o papel de protetor ali é somente dele. No começo da história deste domingo último, chamado Please Hold to My Hand, Ellie aproveita um momento de privacidade em um banheiro, para analisar melhor seu novo tesouro. Em um momento totalmente Taxi Driver, ela aponta a arma para o espelho, projetando uma posição de poder que ela ainda não tem, uma pessoa que ela ainda não é, mas aspira ser, uma figura que, de certa forma, é romantizada por ela, por conta de sua inexperiência e ingenuidade para com o mundo em que vive.

Podemos observar o contraste que caracteriza a personagem quando, na cena seguinte, ela tira da mesma mochila em que leva uma arma escondida, um livro de piadas e trocadilhos péssimos (que eu particularmente amo) e compartilha com um relutante Joel algumas de suas favoritas. Nas interações que se seguem, ela demonstra que acha que está pronta, que acha que é forte para este mundo, mas que na verdade precisa ser protegida e cuidada, como qualquer outra.

Please Hold to My Hand é também o episódio com mais fan service até agora, a começar pelo título, que é parte da letra da música Alone and Forsaken, de Hank Williams, música que ouvimos no jogo enquanto dirigimos a caminhonete, pouco antes de cairmos em uma emboscada dentro da cidade. Sequência que foi adaptada quase quadro a quadro na série: encontramos a mesma fita, ouvimos a mesma música e Ellie faz as mesmas piadas com Joel. Um deleite pra quem já era fã da franquia, ao mesmo tempo também que vai fortalecendo essa dinâmica entre eles pra quem está conhecendo-os agora.

Nesse mesmo começo, temos a oportunidade de ver Joel expor seu ponto de vista enquanto ele nos dá um background de quem é seu irmão mais novo, alguém que sempre quis ser herói, sempre quis salvar o mundo, uma ilusão aos olhos de Joel, já que Tommy também sempre precisa ser salvo pelo mais velho. E Ellie dispara uma pergunta que ecoa dentro e fora daquele mundo ficcional, “se não há esperança para o mundo, porque continuar?“, ao que Joel responde “continuamos pela família“. Afinal, o que nos motiva a fazer o que fazemos?

Por falar em motivações, conhecemos uma personagem inédita para os fãs dos jogos, Kathleen (Melanie Lynskey) e o núcleo em que ela está inserida, de um exército revolucionário que expulsou a FEDRA de sua cidade, são aprofundados e humanizados de uma maneira que remete muito à experiência de jogar The Last of Us Parte II, que, sem entrar em maiores detalhes para não estragar a experiência de quem ainda não jogou, coloca muito mais peso nos adversários que você enfrenta. Neles, nossos inimigos não são apenas soldados sem importância, eles tem nome, eles sentem a perda de seus companheiros. Lembrei muito disso ao entender Kathleen, que está procurando alguém chamado Henry, supostamente culpado pela morte do irmão dela. Ou quando, após enfrentarem o grupo que os emboscou e os fez baterem o carro, Joel e Ellie ficam frente a frente com Bryan, um jovem garoto, que tenta estabelecer uma conexão com Ellie após levar um tiro dela, tentando implorar por sua vida.

É como se a todo momento Ellie tentasse entender as noções de certo e errado dentro das regras daquele mundo, como quando ela pergunta para Joel se ele já matou pessoas inocentes, ou quando ele diz a ela que já esteve em ambos os lados na situação de armar uma armadilha para quem está passando e roubar seus mantimentos. Ao mesmo tempo, os eventos que tomamos conhecimento também brincam com a nossa própria percepção das coisas e dos personagens. E percebo que a série tenta não responder essa pergunta diretamente, assim como acredito que as respostas que são dadas nos jogos também são dúbias, fica muito na mão e na consciência de quem está assistindo, de quem está jogando. Novamente, domingo após domingo, a série continua reforçando a mesma mensagem que os jogos, nem todas as facetas do amor são bonitas de se ver, e em nome dele, somos capazes de fazer coisas impensáveis, como atirar no médico que fez o nosso próprio parto, por exemplo.

Chegando ao fim deste episódio, enquanto estão escondidos do exército liderado por Kathleen, que acredita erroneamente que eles sejam colaboradores de Henry, Joel e Ellie compartilham um momento muitíssimo bem vindo de cumplicidade e são surpreendidos horas depois por uma dupla de personagens que o episódio dá a entender serem Henry (Lamar Johnson) e Sam (Keivonn Woodard), ambos apontando armas para eles. Descobriremos mais sobre eles no próximo episódio que, excepcionalmente, irá ao ar na sexta-feira, em razão do Super Bowl, evento gigantesco que é o final da temporada da NFL, que vai acontecer neste domingo. Consequentemente, a crítica também sairá mais cedo. Então, até lá!


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