Crítica | The Last of Us – 1×03: Long, Long Time

Em seu terceiro episódio, The Last of Us (2023 -) foca na história de Bill (Nick Offerman) e Frank (Murray Bartlett), personagens bem importantes para o jogo e para o desenvolvimento da narrativa. Aqui, as adaptações foram menos sutis. Aliás, parece que a cada episódio novo a série se desprende mais do seu material fonte e ganha personalidade própria. Apesar do plot geral se manter o mesmo, a maneira como está sendo contado é diferente, e isso agrega valor para a obra e seu mundo.

Esse texto contém spoilers leves.

O estilo narrativo permanece igual aos dos outros episódios. A constante troca entre os tempos passado distante, passado e presente dá uma dinâmica narrativa, um aprofundamento de perspectiva aos personagens. O desenvolvimento da história de Bill e Frank em um único episódio demonstra o poder de síntese da produção, isso sem renunciar à qualidade narrativa. No jogo, a história dos dois é menos desenvolvida, deixando a cargo do jogador preencher as lacunas. Aqui, a adaptação opta por demonstrar a relação entre os personagens em detalhes e isso faz com que possamos criar mais empatia por eles.

Falando em empatia, talvez esse seja meu episódio favorito até o momento. A forma como a personalidade dos dois é apresentada e filmada apresenta um dos momentos mais poéticos e bonitos da série. Mesmo com o mundo acabando e com as pessoas sendo escrotas umas com as outras, ainda é possível surgir amor e respeito. Isso fica bem óbvio, principalmente na cena do jantar à dois, do piano e do beijo. Que são cenas sequenciais, mas demonstram de forma doce como um amor pode surgir em meio ao fim do mundo. Os momentos intercalados da relação de ambos, a forma como cultivam alimentos e se comunicam dizem muito sobre os personagens. Essa relação cresce tanto que em determinado momento do episódio, quando há uma invasão à área de Bill, um deles é baleado e surge o principal medo daqueles que amam: a possibilidade de perder seu amor.

Esse episódio também traz uma reflexão sobre o fim da vida e como o amor serve de base de sustentação em tempos difíceis. Além de deixar pistas que estão presentes tanto no jogo quanto na série. A carta do Bill é um recado ao espectador, tudo vale para proteger quem se ama. Essa frase é forte, tanto para Joel (Pedro Pascal) que perdeu duas pessoas que lhe eram muito queridas, quanto para Ellie (Bella Ramsey), que também tem seu luto. É um recado ao público, uma mensagem bonita sobre o amor e o fim da vida. Isso se dá principalmente na relação do Bill ao abrir seu coração e a própria casa para Frank. A desconfiança virando amor, a vida que os dois têm juntos e principalmente o medo de perder a pessoa amada, outro fator que aproxima o protagonista deste episódio, Bill, de Joel.

A cinematografia, direção e design de produção estão, mais uma vez, de parabéns. O clima entre passado distante, passado e presente transparece uma transição, que mesmo que sutil, está ali. É como se o mundo que já era ruim fosse ficando pior, e isso transparece por meio da linguagem audiovisual, principalmente pela escolha da fotografia e figurino dos personagens. O encerramento do episódio conta com um dos planos mais bonitos até então, um traveling out da janela do quarto de Bill e Frank apontando para o horizonte melancólico do mundo de The Last of Us. Um plano que lembrou, inclusive, o menu do jogo.

Esse episódio cumpre bem seu papel de apresentar personagens novos e seguir o desenvolvimento da relação Joel e Ellie, que é base para o andamento da história. Ao passo que faz isso, amplia a construção de mundo e escancara narrativas que no jogo eram apenas sutis. O mundo de The Last of Us está mais vivo que nunca e vale a pena acompanhar seu crescimento a cada domingo.


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