Crítica | The Last of Us – 1×05: Endure and Survive

Como nos foi prometido no final de  “Please, Hold to My Hand”, o quinto episódio de The Last of Us (2023 -), intitulado Endure and Survive focou na história de Henry (Lamar Johnson) e Sam (Keivonn Woodard), aprofundou o contexto político brutal da cidade de Kansas e colocou nossa dupla de protagonistas diante de novas responsabilidades e desafios. Em um capítulo que suspendeu, quebrou expectativas e recompensou o silêncio e a aparente calmaria do episódio passado com muita ação e muito drama. The Last of Us continua sua temporada com muito mais acertos do que erros ao não só adaptar como também agregar ao material original, sabendo aproveitar ao máximo o que cada uma das mídias tem a oferecer.

Este texto contém spoilers. Continue lendo por sua conta em risco.

Voltamos um pouco na linha do tempo, antes de Joel (Pedro Pascal) e Ellie (Bella Ramsey) serem emboscados em Kansas, para acompanhar Henry e seu irmão mais novo, Sam, foragidos, tentando esconder-se da armada revolucionária que expulsou a F.E.D.R.A da cidade, liderados pela contraditoriamente doce e insensível Kathleen (Melanie Lynskey), que agora estão comemorando a liberdade conquistada retaliando seus adversários e colaboradores. Henry, que delatou o líder anterior, irmão de Kathleen, tornou-se a pessoa mais procurada da cidade e por isso, precisa fugir o quanto antes. Mas, ele tem um problema, apesar de conhecer muito bem a vizinhança e conseguir usar isso a seu favor, Henry não é um sobrevivente experiente, como Joel é, por exemplo. E para proteger o irmão mais novo de apenas oito anos, ele vai precisar de mais do que um bom senso de direção e planejamento. E é aqui que entram os nossos protagonistas.

No episódio anterior vemos o Dr. Edelstein (John Getz) ser executado, então nós sabemos que ele não vai voltar para o esconderijo em que deixou Henry e Sam. Quando os dois deixam o sótão para trás, acabam dando de cara com o momento da emboscada de Joel e Ellie. Henry, testemunhando a performance de Joel contra os homens de Kathleen, vê nele uma grande oportunidade de aliança. Mais tarde naquele mesmo dia, os dois abordam nossos protagonistas, encontrando então o ponto em que tínhamos parado em Please, Hold to My Hand.

Tematicamente, a cada novo capítulo da série, somos apresentados a variações da mesma dinâmica, entre protetor e protegido, variações do mesmo instinto de preservação e afeto. Neste, o amor entre irmãos é o fio condutor dos conflitos: Michael e Kathleen, Henry e Sam e, claro, Joel com sua primeira motivação, sua busca por Tommy (Gabriel Luna). Eu não sei se você que está lendo tem irmãos, mas eu tenho e eu sinceramente não sei responder o que eu faria no lugar desses personagens. Kathleen com certeza é uma pessoa cruel e, como ela mesma afirma, não é uma pessoa bonita como Michael era, um personagem que até aqui é descrito com ares de Jesus Cristo. Acho inclusive um detalhe que me incomoda um pouco, fica difícil entender o lado de Kathleen tendo apenas o relato de outros sobre esse homem incrível e misericordioso que foi entregue às autoridades… Mas, divago. O que quero dizer é que Kathleen com certeza se dessensibilizou ao perder o irmão, mas será que eu reagiria diferente no lugar dela? Eu me pego pensando nessas coisas. Irmãos mais velhos muitas vezes são continuidade das figuras parentais, super-heróis aos olhos dos mais novos, sabem e fazem de tudo. O que você faria se perdesse o seu super-herói? Ou se você tivesse que ser essa figura, se você tivesse alguém que dependesse de você? São sapatos muito difíceis de calçar e espero de verdade nunca ter que calçá-los.

Depois de suspender o clímax ao máximo, o encontro de todos os núcleos acontece em uma explosão de ação, violência e correria. Devo dizer que, apesar de ser uma sequência empolgante, com o tão esperado Baiacu, como é chamado aquele infectado gigantesco, e de ter uma das perseguições mais desesperadoras que já vi, da mini – estaladora no carro com Ellie, esse pedaço que antecede o ataque da horda – porque o ataque em si foi insano  – não me agradou tanto. Senti que a movimentação e o diálogo entre Kathleen e Henry foram meio truncados, que a direção pecou um pouco em passar uma sensação de urgência e perigo, os soldados ali armados até os dentes simplesmente parados enquanto a líder e Henry negociam, mesmo com a ameaça de Joel estar armado com a sniper em uma posição privilegiada, sem falar nos diálogos em si, que podem soar um pouco expositivos demais. Essa cena somada com a terrível câmera lenta em Perry quando o Baiacu emerge do buraco me tiram totalmente da série, mas não se pode ganhar todas, não é? Como eu disse antes, The Last of Us sai de Endure and Survive com muito mais acertos do que erros.

E o grande acerto deste episódio é, sem dúvida nenhuma o estreante Keivonn Woodard, que trouxe tanta energia, inocência e sensibilidade em seu papel como o pequeno e frágil Sam, tornando a decisão que Henry tomou, cuja ética é posta em cheque durante seus diálogos com Joel, muito mais compreensível. Você, como espectador desse mundo tão brutalizado, que já entende como essa sociedade opera tendo os episódios anteriores como referência, quer intrinsecamente proteger essa criança, é instintivo. Então, quando Ellie, que é outra criança, sente-se responsável por ele, não tem como a situação ser mais angustiante. O que se desenha entre eles dois é um quadro ainda mais melancólico do que os desenhos de giz de cera nas paredes dos túneis que a comunidade que tentou sobreviver ali deixou para trás. Porque, de certa forma sabemos que, de uma maneira ou de outra, vamos ver a infância de um dos dois indo embora, as risadas, as fantasias das histórias em quadrinhos e das brincadeiras que eles compartilharam durante sua pequena jornada dando lugar para as preocupações desse mundo despedaçado, um mundo que ninguém merecia vivenciar, especialmente as crianças.

Importante ressaltar também que aqui temos um importante ponto de virada na construção da maturidade e personalidade de Ellie, que até esse momento trazia uma certa leveza à realidade assoladora em que se encontra com Joel, ela permite-se deslumbrar ao aprender coisas novas, conta piadas e se aventura. Ao final deste encontro, porém, Ellie não consegue mais sorrir, a demora de Joel em seguir adiante é um lamento, de não ter conseguido impedir que isso acontecesse, de não ter protegido Ellie de se machucar, de não poder ter protegido Henry e Sam. E gosto de pensar que é nesse plano em que Joel está à frente, parado e pensativo e Ellie está se distanciando e saindo de foco que os dois consolidam seus pontos de vista e tomam decisões que só entenderemos mais à frente na série. Mas, por enquanto, não há mais nada a fazer a não ser esperar as cenas dos próximos capítulos.


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