BRUNO COSTA
Não é exagero afirmar que Disco Elysium conseguiu uma façanha, especialmente para um jogo indie: criar um RPG que não se baseia em batalhas, mas sem abdicar da liberdade de escolhas para o jogador e com fator replay surpreendente. Você não vai salvar o mundo, talvez nem resolver seu principal mistério, mas é um jogo tão impecável em sua imersão que você não se importa em errar. Pelo contrário, ele te incentiva a viver as consequências dos atos de seu personagem, sendo desde investigador bruto e calculista a um idealista cujo objetivo é tomar os meios de produção. Disco Elysium é meu jogo do ano, mas outros merecem destaque pelas mais diversas razões. Control é uma obra-prima pela sua personagem principal e narrativa instigante, aprendendo com os erros de jogos anteriores, sendo ambicioso sem perder o foco. Devotion faz lembrar que toda produção que fazemos está inserida num contexto político: banido pela Steam após descobrirem um easter egg criticando o governo chinês, esse jogo de terror traz mistérios e hábitos de uma família taiwanesa nos anos 1980. É impactante, crítico e que vai muito além das tretas geopolíticas. Baba is You tem um conceito simples, mas é de longe o jogo mais difícil que joguei nesse ano. Um puzzle de gráficos simples, porém muito carismáticos, que consiste em blocos que você interage para passar de fase. Ele eventualmente faz você pensar fora da caixa, utilizando conceitos de lógica de programação e soluções nada óbvias e muito peculiares. Um jogo incrível feito por somente um desenvolvedor, ao contrário de toda a estrutura da Capcom para refazer Resident Evil 2, atualizando um clássico de Playstation 1 e aprimorando em todos os aspectos possíveis (exceto talvez pela ausência da rota B). RE2 foi meu jogo favorito vindo dos grandes estúdios, mostrando que as inovações e qualidades de Resident Evil 7: Biohazard (2017) não foram por acaso. E claro, Mr. X é provavelmente meu inimigo favorito desse ano. E que venha o remake do 3!
Disco Elysium (Robert Kurvitz) – ZA/UM
Control (Mikael Kasurinen) – Remedy Entertainment
Devotion (Doy Chiang, Tien Jung Huang, Hans Chen, Chuan Hsian Dang e Shun Ting Yao) – Red Candle Games
Baba is You (Arvi Teikari) – Hempuli
Resident Evil 2 (Hideki Kamiya, Shinji Mikami) – Capcom
TATIANA FERREIRA
Ah, 2019. O último ano de uma década cheia de puzzles e diversões, mas que ao mesmo tempo foi uma porta para o passado e o futuro, novas e velhas franquias se levantaram e trouxeram inovações para antigas mecânicas. Quem imaginava que um jogo poderia ter só 20 minutos? Bem, aí veio Outer Wilds e mostrou que é possível sim e pode até parecer um spoiler, mas acredite ele te dá a liberdade de passar milênios descobrindo e explorando planetas de um pequeno sistema solar. Falando de outro sistema solar, pulamos a bordo da Unreliable para a colônia humana do outro lado galáxia em Halcyon, cheia de jingles e personalidades distintas, The Outer Worlds nos relembra os bons anos de RPG com um universo imersivo, ampla jogabilidade e uma narrativa em que você faz escolhas e elas definem o tom e destino que você quer contar, você quer queimar ou salvar Halcyon? Está nas suas mãos, mas ao menos você irá fazer cantando um certo jingle: “It’s not the best choice, it’s Spacer’s Choice!”
Lá no passado, quando eu jogava no Kongregate, um pequeno jogo no Macromedia Flash divertia minhas manhãs, o nome era My Friend Pedro, um shoot ‘em up que utilizava um mecânica de time bullet parecida com Max Payne. Muito simples, mas competente e divertido para uma plataforma tão fraca. Não é a minha surpresa, quando do nada, o pequeno jogo renasce das cinzas com uma inteira nova gama de interações. A história continua a mesma, você ainda segue as indicações e missões de uma banana imaginária chamada Pedro, mas agora, o jogo está na sua forma que sempre quis ter, um full indie game com melhor performance, uma direção artística experimental e por fim, mandar bala pra todo lado. Me fez acreditar em evolução, na verdade, em refinar uma ideia, porque ideias nunca morrem, elas só ficam melhores e isso, me faz pensar ainda mais em Control, esse jogo maluco, lindo e ambicioso saído da mente insana e cool e descolada do Sam Lake. Eu acho que se um jogo consegue sintetizar tudo o que o Sam e a Remedy Entertainment vem fazendo ao longo desses 20 anos, é esse. Uma total atualização da mecânica, storytelling e level design. O que nos leva a ele, Disco Elysium. Queria eu ter tido mais tempo para resumi-lo aqui. Eu gosto de histórias de detetives, eu gosto de design meio dieselpunk e eu adoro narrativas. Disco é isso e muito mais. O fator que mais me surpreende, é um nível de storytelling absurdo em que tudo importa. O jogo é pesadamente focado na interação com mundo e isso, são pessoas, objetos e ambientes. Me lembra muito o formato do text-games, mas amplificado para caber num RPG. E isso foi 2019. Agora eu só posso esperar 2020 enquanto ouço a trilha sonora da Grimes pro Cyberpunk 2077.
Outer Wilds (Alex Beachum) – Mobius Digital
The Outer Worlds (Leonard Boyarsky, Tim Cain) – Obsidian Entertainment
My Friend Pedro – DeadToast Entertainment
Control (Mikael Kasurinen) – Remedy Entertainment
Disco Elysium (Robert Kurvitz) – ZA/UM
THIAGO HENRIQUE SENA
2019 foi um ano interessante para o mercado de jogos. Muitos lançamentos dos grandes estúdios e das desenvolvedoras independentes. Escolher os melhores jogos foi uma tarefa difícil e ao mesmo tempo um prazer. A escolha se deu com dois critérios: a qualidade da obra em si e o divertimento que tive ao jogar. Desse modo, a lista ficou dessa maneira: Untitled Goose Game é um dos jogos mais sem noção e divertidos já lançado em anos. É impossível jogar sem dar uma risada ou pelo menos passar muitas horas em frente a tela assumindo o papel desse ganso. Kind Words é um jogo necessário e atual. Em um mundo no qual a cultura do ódio e da intolerância vem ganhando cada vez mais força, um jogo que vai na contramão e prega palavras gentis a desconhecidos certamente deverá ter seu valor reconhecido e divulgado. Gris é um dos jogos independentes e de impacto social mais bem avaliados do ano, ele consegue mostrar por meio de sua história a luta de pessoas que sofrem com depressão, é um jogo visualmente lindo e socialmente impactante. O primeiro lugar da minha lista foi o mais difícil de escolher, amo as duas obras selecionadas: Death Stranding e Resident Evil 2. O jogo do Kojima é o aperfeiçoamento de um estilo e certamente uma obra de arte para os padrões narrativos e artísticos. Resident Evil 2 é um remake ou reimaginação de um dos maiores jogos de todos os tempos. No final das contas, eu deixei o lado afetivo prevalecer e, apesar de alguns defeitos, por seu gameplay preciso, por levar o jogador novamente à Raccon City e por revisitar um dos jogos de horror e sobrevivência mais aclamados de todos os tempos, para mim o jogo do ano é Resident Evil 2.
Resident Evil 2 (Hideki Kamiya, Shinji Mikami) – Capcom
Death Stranding (Hideo Kojima) – Kojima Productions e Sony Interactive Entertainment America
Gris – Nomada Studio
Kind Words – Popcannibal
Untitled Goose Game – House House
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