The Boys: 3° Temporada – Os garotos de ouro no ápice do entretenimento

Quando a série da Amazon Prime, The Boys, estreou em meados de 2019 em pleno auge da era de super-heróis, se tornou um fenômeno não só pela violência e ação intensas, mas por trazer uma história que invertia o papel dos super-heróis como pessoas do bem e honradas. Ao invés disso tínhamos pessoas inescrupulosas, gananciosas e extremamente perigosas, e com uma gangue de humanos tentando desmascara-los a qualquer custo, mostrando o quão podres esses seres poderiam ser.

É claro que esta obra baseada em quadrinhos criada por Garth Ennis e Darick Roberton em 2006, só se tornou o que é hoje devido à bem sucedida empreitada do showrunner Eric Kripke em apostar no elenco certo e também na qualidade do material fonte para criar um seriado que não tem medo de polemizar e entretém de uma forma que faz o expectador embarcar numa jornada louca e insana.

Após uma sólida primeira temporada e uma segunda temporada ainda melhor que ajudou a consolidar The Boys como o maior sucesso da Amazon Prime atualmente e uma das melhores séries da atualidade, tivemos um terceiro ano que não só prometia muito, como colocava as expectativas dos fãs do seriado num patamar bastante alto aguardando uma temporada ainda mais eletrizante após os eventos do final do segundo ano.

A temporada anterior terminou com a derrota da nazista Stormfront (Aya Cash) pelas mãos do filho de Homelander (Antony Starr), o pequeno Ryan (Cameron Crovetti). O super-herói mais famoso deste universo também saiu derrotado, ao ser chantageado por Queen Maeve (Dominique McElligott) e Billy Butcher (Karl Urban), abrindo mão de ficar com o filho em detrimento da sua própria imagem e prestígio. Outro gancho que encerrou a temporada foi a revelação de que Victoria Neuman (Claudia Doumit) era o super que estava explodindo a cabeça de vítimas em uma série de assassinatos que permeou a temporada.

Foi seguindo esta linha que a terceira temporada começou a tomar forma nos dois primeiros episódios “The Payback” (3×01) e “The Only Man in the Sky” (3×02), onde vemos Hughie (Jack Quaid), Billy Butcher (Karl Urban) e os outros membros do bando trabalhando com a recém criada “Agência Federal de Assuntos de Super-Heróis” liderada por Victoria Neuman, na busca de investigar ações ilegais e indevidas dos supers.

A série neste começo explora a ascensão de Starlight (Erin Moriarty) como co-capitã do grupo dos Sete, além do seu relacionamento cada vez mais forte com Hughie. A série também junta Queen Maeve com Billy Butcher na busca por uma arma mais forte que possa derrotar Homenlader. A série também explora através de Butcher, o experimento baseado no composto V, chamada V24, uma composição que dá poderes temporários de super a pessoas normais.

É através destas narrativas que The Boys começa a moldar seu terceiro ano e é desta forma que a série se mostra cada vez mais consistente sabendo exatamente aonde ir, resultando sempre em boas reviravoltas e ganchos empolgantes. Fica bem nítido que a crescente das duas temporadas anteriores, também se torna uma constante neste terceiro ano, mostrando também que a série tem total domínio do que funciona ou não.

Os episódios “Barbary Coast” (3×03) e “Glorious Five-Year Plan” (3×04) são movimentados entre as conspirações governamentais e briga de ego entre supers que acontecem na “Vough International” colocando Homelander, Starlight e o líder da empresa Stan Edgar (Giancarlo Esposito) em rota de colisão, enquanto em um plot paralelo, temos Butcher e seus amigos investigando antigos supers que acabam levando a revelação de um dos maiores trunfos desta temporada, Soldier Boy (Jensen Ackles).

Uma das melhores características de The Boys é a forma como trabalha a inescrupulosidade dos super-heróis de forma a fazer o público ama-los para odiá-los logo em seguida. A entrada de Jensen Ackles na série é uma grata surpresa e enriquece ainda mais um lore de uma série que cada vez se desafia mais, seu Soldier Boy é tão ou mais sádico do que Homelander, deixando no ar uma sensação de verdadeira ameaça, principalmente quando ganhamos flahbacks dos primeiros supers nos tempos do Vietnã.

E a série não para por aí, o roteiro trabalha bastante bem a relação e conflitos ao longo da temporada entre Hughie, Billy Butcher, Kimiko, Frenchie (Tomer Capone) e Leitinho (Laz Alonso), este último com um desenvolvimento interessante ao explorar a relação com a filha e também seu passado ligado a uma tragédia familiar causada por Homelander. 

O mais bacana é perceber que o seriado também, além de amadurecer sua escrita, começa a explorar outras vertentes, resultando em uma sequência musical entre Frenchie e Kimiko (finalmente vemos a personagem falar) que é inusitada, mas mostra que a narrativa é corajosa o suficiente para explorar outros gêneros dentro da proposta deste universo tornando tudo ainda mais atrativo para os expectadores.

Com a chegada de Soldier Boy na trama, temos aqui a tempestade perfeita que resulta no melhor episódio da série até o momento, “Herogasm” (3×06). Dirigido por Nelson Cragg e escrito por Jessica Chou, este episódio reúne todos os elementos que fazem The Boys uma das séries mais empolgantes da atualidade, temos violência, sexo, intrigas e embates que ninguém poderia esperar (talvez apenas aqueles que já leram os quadrinhos) numa narrativa que traz viradas impressionantes em uma das horas mais memoráveis e arrepiantes já vistas na TV, daqueles episódios para ver e rever sendo posicionado na prateleira mais alta do panteão televisivo.

O mais legal é que a série não diminui o ritmo depois de um episódio memorável, os dois últimos que fecham a temporada “Here Comes a Candle To Light You To Bed” (3×07) e “The Instant White-Hot Wild” (3×08) são excelentes em unir arcos e causar boa antecipação antes de confronto esperados acontecerem. A verdade é que a obra chega no seu auge apresentando um equilíbrio excelente entre suas partes técnicas e também no quesito atuação fazendo desse terceiro ano o melhor até o momento.

Por tudo que foi comentado, a série The Boys se consolida como uma das melhores da atualidade, misturando ação, política e violência gráfica, a narrativa ainda encontra momentos para inserir questões sociais envolvendo supers que aqui funcionam organicamente. O roteiro não mede esforços para se reinventar mesmo com cerne que soe familiar em relação as duas primeiras temporadas. Ao mesmo tempo que a série atinge seu pico de qualidade, também cria um problema de colocar as expectativas imensas para o quarto ano. 

O final da temporada é bastante competente, mas começa a deixar a sensação de que a série precisa lidar com Homelander de uma forma mais definitiva, evitando que tudo se torne repetitivo em futuras temporadas, mas se a trama continuar surpreendendo assim como aconteceu neste terceiro ano, o seriado de Eric Kripke com certeza terá uma longevidade ainda maior.


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