8 quadrinhos nacionais que amamos

No dia 30 de janeiro comemora-se no Brasil o Dia do Quadrinho Nacional, em alusão ao que é considerado por muitos o primeiro quadrinho brasileiro, lançado por Anelo Agostini nesta data em 1869. Aproveitando o ensejo reunimos alguns apaixonados por HQs aqui do SMUC para falarem sobre seus queridinhos entre as produções nacionais, e o resultado é a lista maravilhosa e variada que você pode conferir aqui.


SARA B. JALES

DORA E A GATA, de Helô D’Angelo

Dora e a Gata é um quadrinho lançado em 2019 de forma independente por Helô D’Angelo e acabou sendo também o primeiro de muitos quadrinhos (e outros projetos também) independentes que eu apoiaria pelo Catarse. O que me fez conhecer muitas pessoas talentosas e belos trabalhos que muitas vezes o grande público sequer sabe que existe. Por isso decidi falar sobre ela aqui.

Conheci Helô por suas charges e quadrinhos com posicionamentos e falas muito importantes que me ajudaram bastante quando ainda estava entendendo um pouco mais sobre assuntos sérios dessa nossa sociedade, de uma forma fácil e acessível. Qual não foi minha surpresa quando ela começou a publicar Dora em seu Instagram, e claro, acompanhei fielmente toda semana.

Uma história em aquarela com um trabalho de cores incrível que conta a história de mulheres fortes e reais com quem é fácil se identificar e cheias de problemas, mas também sonhos, apesar da vida adulta muitas vezes dar uma atrasada neles. Até que Dora adota uma gata de rua que vai mudar toda a dinâmica da sua vida. Falando sobre relacionamentos abusivos, autocuidado, sororidade entre outros assuntos que podem ensinar muito a quem lê, enquanto curte uma boa história.

Helô é muito presente no Twitter e no Instagram, continua fazendo e publicando quadrinhos, com o @, helodangeloarte em ambos.


ARLINDO, de Luiza de Souza

O segundo quadrinho para falar aqui foi uma escolha mais difícil, mas ainda na minha ideia de falar sobre quadrinhos independentes escolhi o reizinho do twitter Arlindo Júnior.

Essa história eu comecei a acompanhar do meio, quando aleatoriamente no aplicativo do passarinho azul me apareceram algumas páginas cor de rosa com personagens amarelos e referências aos anos 2000. Foi amor à primeira vista, li todas as páginas que a autora Luiza de Souza já havia publicado e passei a acompanhar.

Arlindo me cativou muito, eu me lembro de em qualquer oportunidade mostrar algumas das minhas páginas favoritas para qualquer pessoa simplesmente chegando e dizendo “cê conhece Arlindo?” Então é óbvio que quando a história foi adotada pela Editora Seguinte e teve seu financiamento coletivo no Catarse eu participei e a história foi publicada em 2021.

Também tratando sobre questões muito presentes na nossa realidade, Arlindo é um adolescente do interior nordestino, fã de Sandy & Junior, mas que enfrenta o desafio de ser gay convivendo com um pai extremamente violento em uma cidade onde não é aceito por todas as pessoas. Mas ao longo de sua jornada ele descobre pessoas que o aceitam, que o amam assim como ele as ama e que vão viver sim suas próprias jornadas de descoberta, mas também vão ajuda-lo na sua e descobrir que “a gente não tá só”.

Agora para fevereiro de 2022 está prevista uma websérie sobre Arlindo, o vídeo promocional pode ser encontrado no instagram de Luiza.


THIAGO HENRIQUE SENA

MANUAL DO MINOTAURO, de Laerte

Certamente uma das formas mais interessantes de se produzir quadrinhos no Brasil é por meio de tirinhas. É um formato que se popularizou ao redor do mundo por ser uma leitura rápida e com teor crítico e social. Dentre os diversos nomes que produzem tirinhas em nosso país, destaca-se a Laerte. Em seu livro Manual do Minotauro, publicado pela Cia da Letras, sob o selo Quadrinhos na Cia, reúnem-se cerca de 1500 tirinhas publicadas entre os anos de 2005 e 2015. 

O livro em si é bastante bonito e com um tamanho muito bom para uma coletânea de tirinhas. O mais interessante ao se ler é que, à medida que passamos pelas tiras, podemos mergulhar num universo riquíssimo de humor e de crítica, coisas que são fundamentais para o exercício do gênero. O humor ácido é acompanhado com uma mudança do estilo gráfico da artista. Suas críticas rompem os limites do político, chegando a uma revisitação de uma espécie de costumes da sociedade brasileira, tocando em pontos tão sensíveis e caros à população, mas que ainda assim precisam ser ditos. 

Laerte é uma artista incrível que atua no mercado de quadrinhos brasileiros há mais de 30 anos e que possui uma riqueza incrível (e inestimável) para nossa cultura. 


CHICO BENTO: ARVORADA, de Orlandeli

Chico Bento é sem dúvida um dos personagens mais queridos já criados pelo Mauricio de Souza. Para dar uma vazão a um personagem simples, ele foi (e é) uma potência narrativa quando utilizado para contar histórias envolvendo etapas e reflexões sobre a vida. Em Chico Bento Arvorada, Orlandeli retrabalha o personagem de Mauricio de Souza e apresenta uma das versões mais bonitas de seu protagonista. Sem entrar em muitos detalhes para evitar o spoiler (já que essa HQ merece ser lida e deliciada), o quadrinista entrega uma das versões mais filosóficas do personagem e traz reflexões sobre luto e aproveitar a vida, um Carpe Diem que só o Chico Bento seria capaz de transmitir.  

Essa obra carrega tudo de essencial que o personagem tem. Acompanhado é claro do traço lindíssimo de Orlandeli que emociona página a página, seja belo pelo trabalho artístico ou pelo seu emocionante roteiro.


RODRIGO PASSOLARGO

CARNIÇA E A BLINDAGEM MÍSTICA, de Shiko

Dispensam comentários sobre a arte gráfica e roteiros desse que é para mim o maior quadrinista brasileiro. Shiko faz de Carniça e a Blindagem Mística um Frederico Pernambucano de Mello em quadrinhos, com a inclusão da figura feminina na teoria do Escudo Ético, este que é o cerne da filosofia sertaneja. Um quadrinho Armorial!


TABU, de Amanda Miranda, Lalo, Jéssica Groke

Três HQs da coleção que toca de maneira magistral assuntos que são tabus na sociedade. O que não se fala em voz alta está lá. Um trabalho que entende a linguagem e extrai o que a oitava arte tem a oferecer para que tais assuntos não só impactem, mas que façam refletir diante das possiblidade óticas.


ELVIO FRANKLIN

WOOD & STOCK, de Angeli

Angeli foi um dos quadrinistas mais importantes e proeminentes do Brasil, criando personagens e histórias que me encantaram desde que o descobri em alguma revista velha que publicava suas tirinhas. O estilo galhofa e irreverente do artista estava representado em seu traço e na forma como pintava tipos comuns da nossa sociedade. Foi de sua mente que surgiram ícones como Rê Bordosa, Bob Cuspe, os Skrotinhos e meus preferidos, a dupla Wood e Stock, dois ripongas contemporâneos, que passam seus dias fumando orégano e tocando bongô e violão, tendo os diálogos mais incrivelmente hilários que eu li na minha adolescência.


MAR MENINO, de Paulo Moreira

Sempre que sai uma tirinha nova nas redes sociais de Paulo Moreira eu nunca deixo de me impressionar como aqueles traços tão simples e diálogos tão curtos conseguem me arrancar tanta identificação. Tanto pelas histórias que falam de um cotidiano que me é muito reconhecível, como duas mulheres conversando em cadeiras de balança numa calçada enquanto passam os pés no pelo de um cachorro, quanto nas gírias, ou nas sacadas inesperadas que são uma das marcar de seu humor. Mar Menino compila algumas de suas tirinhas, e mais recentemente o artista lançou outro com as histórias de Ana, Mosquinha e Lagartixinha, mas o grosso de seu trabalho você pode encontrar em seu Instagram e/ou Twitter.


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