O Mar da Tranquilidade – Água, o bem mais precioso e letal

As produções coreanas estão ganhando mais espaço a cada ano, e em 2021 não foi diferente. Com a explosão de audiência de séries como Vincenzo (2021 -) e principalmente Round 6 (Ojing-eo Geim, 2021 -), todas as novas narrativas que surgem, atiçam o interesse do público. No final do ano passado tivemos três bastante interessantes, Profecia do Inferno (Jiok, 2021 -), My Name (Undercover, 2021 -) e O Mar da Tranquilidade (The Silent Sea, 2021 -), seguindo um modelo mais próximo das produções hollywoodianas, focando em episódios menores e em menor quantidade, são mais acessíveis e ainda trazem a criatividade das histórias coreanas que são entretenimento da melhor qualidade.

Meu texto é exatamente sobre a última citada, O Mar da Tranquilidade, um thriller de ficção cientifica intenso que conta a história de um grupo de astronautas que tem que como missão chegar a uma estação de pesquisa científica coreana na Lua e recuperar uma amostra que pode significar a resolução do problema de falta de água sofrido pelo Planeta Terra num futuro não muito distante do nosso.

A narrativa tem como protagonistas as estrelas Bae Doona e Gong Yoo, a primeira é a cientista Song Ji-An, que foi escolhida para a missão, pois sua irmã era líder de pesquisa da estação Balhae, que sofreu um misterioso incidente escondido pelas autoridades sul coreanas na Terra. O segundo é Han Yoon-jae, o líder de segurança responsável pelo transporte dos tripulantes e por guiar a missão até a estação espacial em solo lunar.

A minissérie não perde muito tempo e no seu piloto seguimos a missão em andamento no ótimo Balhae Lunar Research Station (1×01), com uma chegada cheia de problemas à lua enquanto o roteiro começa a explorar a personagem de Song em flashbacks que vão elucidando suas motivações em aceitar a missão. A série tem uma vibe que mistura filmes de ficção científica como Enigma do Horizonte (Event Horizon, 1997) e Alien – O 8º Passageiro (Alien, 1979), além dos recentes Ameaça Profunda (Underwater, 2020) e High Life (2018), para citar alguns exemplos, caso você queira entender o tom da trama.

O roteiro foca primariamente nos perigos espaciais da missão antes de abraçar o mistério e o suspense após o grupo chegar na estação de pesquisa, onde o tom muda para um thriller cheio de momentos impactantes. Gosto como a narrativa vai entregando aos poucos os elementos de sua mitologia, preparando o público para revelações que estão por vir. Nos episódios Three Storages (1×02) e Cause of Death (1×03) nos deparamos com uma estação inóspita cheia de mistérios, poucas respostas e muitas mortes.

O seriado cresce bastante ao optar por uma narrativa que vai subindo o nível de tensão a cada novo episódio e apesar de alguns não terem ganchos propriamente ditos, são bons o suficiente para você assistir em maratona, que é o formato mais interessante a ser seguido nesses oito episódios. A narrativa segue a equipe na lua, mas existe um arco interessante na Terra que vive um conflito e uma escassez de água que secou de forma drástica, causando conflitos globais e uma crise humanitária sem precedentes num contexto que soa não só atual, mas assustadoramente real, de algo que poderemos viver sim num futuro próximo.

Com esse contexto atual, O Mar da Tranquilidade consegue fazer da água seu principal foco ao mostrar que a amostra que a equipe precisa recuperar é um tipo de “água lunar” e é neste ponto onde o suspense toma conta fazendo eclodir conspirações governamentais, conflitos de interesse entre os tripulantes, traições, uma ameaça escondida nas tubulações das instalações e um perigo ainda mais denso que o expectador com certeza não está preparado, como é revelado nos episódios The Truth Comes Out (1×04) e Secret Storage (1×05).

O mais interessante dessas produções coreanas é a criatividade de entregar um enredo que é cheio de reviravoltas onde nada é previsível e tudo tem uma consequência que vai gerar ainda mais tensão, levando você a não tirar os olhos da tela do início ao fim. Sem revelar os mistérios da trama, posso dizer que esta super produção acerta por não subestimar seu público e usar uma temática atual para criar um thriller bem acabado, bem atuado e muito bem dirigido gerando um entretenimento de primeira.

Os três últimos episódios são alucinantes e onde os aspectos técnicos ficam mais evidentes. A produção tem uma fotografia linda, com enquadramentos interessantes tanto dentro quanto fora da estação, o uso de cores variam no ambiente à medida que vão descobrindo mais setores do lugar. Os efeitos visuais são bons, talvez pareçam um pouco superficiais em alguns momentos, mas no geral são bem feitos. A trilha sonora é interessante e, apesar de não ser marcante, cumpre seu objetivo de acentuar o suspense e tensão no ar.

O elenco é muito bom, além do show de atuação de Bae e Gong, podemos destacar Kim Sun-young como a Dra Hong, a atriz mirim Si-ah Kim, além do rosto conhecido de Heo Sung-Tae que fez parte do fenômeno Round 6. Com uma produção tão cheia de pontos positivos, fica difícil achar algum defeito na série, talvez minha única ressalva seja o arco que se passa na Terra, que poderia ser melhor explorado, principalmente em relação a diretora Choi, dona da  empresa responsável pela missão lunar e também todo o incidente antes desta missão com a irmã de Song que dá um gostinho interessante de quero mais, como fica evidente no episódio Key to Salvation (1×06)

De uma forma mais conclusiva, O Mar da Tranquilidade é um thriller de suspense cheio de ação que traz o melhor do sci-fi cheio de boas revelações e mistérios impressionantes em uma minissérie que só cresce em episódios de tirar o fôlego como Luna (1×07) e o episódio final The Silent Sea (1×08), que entrega uma conclusão satisfatória, melancólica e a prova de que as produções coreanas entregam produtos com alto nível de qualidade, que não devem em nada a nenhuma produção ocidental em um épico espacial simplesmente de tirar o fôlego e que vale cada segundo investido.


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