Arsène Lupin é um dos personagens mais famosos da literatura ficcional francesa e talvez até mundial. O “ladrão cavalheiro” apareceu pela primeira vez em 1905 num livro escrito por Maurice Leblanc que, além de inúmeras continuações até a década de 1940, inspirou várias peças de teatro, filmes, séries e até mesmo o famoso mangá Lupin III (Rupan Sansei), de Kazuhiko Kato, que por sua vez originou um anime de sucesso que até hoje rende frutos, longas e até live actions. O personagem basicamente é um charmoso ladrão, conhecido por usar cartola e monóculo, mestre na arte dos disfarces e dos golpes super elaborados. Quase um contraponto ao detetive britânico Sherlock Holmes de Arthur Conan Doyle.
A série francesa Lupin (2021), um dos primeiros grandes lançamentos da Netflix em 2021, é mais uma dessas obras que tem como inspiração o personagem criado por Leblanc, só que, dessa vez, com uma roupagem moderna. De início, e voltando à sua contraparte mais famosa, esperava encontrar algo próximo à série Sherlock (2010 – 2017), estrelada por Benedict Cumberbatch e Martin Freeman, mas logo nos primeiros minutos do piloto percebi que não se tratava apenas de uma adaptação para o mundo contemporâneo. O protagonista da série não é o ladrão Arsène Lupin de fato, mas sim um grande fã de suas aventuras e que, não por acaso, também é um ladrão. Assane Diop (Omar Sy) é charmoso e esperto como seu ídolo, mas suas motivações são bem diferentes.
Na série já conhecemos Assane como um ladrão experiente e aos poucos vamos entendendo e conhecendo melhor seu passado e as motivações por trás do grande roubo que está planejando, um valioso colar de diamantes que pertenceu à rainha Maria Antonieta e que se encontra no famoso Museu do Louvre aguardando o momento em que será leiloado por milhões de euros. A escolha do carismático Omar Sy como intérprete do protagonista foi extremamente acertada para que nos identifiquemos imediatamente com o personagem e logo de cara o aceitamos como um bom ladrão, ou melhor dizendo, um ladrão bom. Não alguém ganancioso, que rouba o que pode apenas para enriquecer, mas uma pessoa que, mesmo que ainda não os conheçamos, deve ter seus bons motivos para fazer o que faz, o que é cada vez mais reforçado quando vamos conhecendo seu passado através de flashbacks.
O roteiro de George Kay e François Uzan não chega a ser extremamente complexo como se poderia esperar, mas isso acaba sendo até benéfico em certa medida por manter uma leveza no tom da trama. Assane é inteligente e consegue com muita habilidade colocar seus planos em prática, mas ao mesmo tempo muitas vezes se deixa levar pelas emoções e sentimentos, o que nos causa ainda mais empatia. Deste modo tememos por sua vida ou sua liberdade em diversos momentos. Ainda assim o ritmo me pareceu extremamente corrido, o que para mim se explicava pela pequena quantidade de episódios que a série contêm (apenas cinco), e nos dois últimos episódios temi por um final mal resolvido e com soluções fáceis demais. Mas fui pego de surpresa quando percebi que o quinto episódio não seria o último, teremos uma segunda temporada (ou uma segunda parte desta temporada única) com mais cinco episódios.
Lupin se mostrou um entretenimento leve e descontraído. Com bons momentos de ação e humor, personagens interessantes e uma trama simples, mas que nunca podemos subestimar. Estou ansioso para ver nosso ladrão de casaca fugindo pelas ruas de Paris novamente e completando seu grandioso plano de vingança.
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Cineasta e Historiador. Membro da ACECCINE (Associação Cearense de Críticos de Cinema). É viciado em listas, roer as unhas e em assistir mais filmes e séries do que parece ser possível. Tem mais projetos do que tem tempo para concretizá-los. Não curte filmes de dança, mas ama Dirty Dancing. Apaixonado por faroestes, filmes de gângster e distopias.