Dando continuidade a sua proposta de trazer uma antologia de jogos de terror, a Supermassive Games lançou no último dia 30 de outubro The Dark Pictures: Little Hope. O jogo que leva adiante os conceitos já apresentados em Until Dawn (2015) e em Man of Medan (2019). A ideia, ao que parece, é lançar, ao todo, oito jogos, todos com uma temática baseada no folclore ou cultura americana. Aliás, esse aspecto já foi muito bem trabalho em Until Dawn, com a presença de várias lendas locais e de monstros como os Wendigos.
Little Hope utiliza símbolos já conhecidos dentro do gênero – uma pequena cidade fantasma do interior que sobre com alguma maldição ou é atentada por algum demônio. A referência ao jogo clássico de terror, Silent Hill, é mais que bem-vinda, principalmente por ter seus elementos bem representados. A névoa constante e o permanente mistério são o suficiente para prender o jogador logo nas primeiras horas. O jogo, por tratar da temática de bruxaria, tem uma base sólida na cultura pop. Logo no início da campanha, elementos referentes a filmes como A Bruxa de Blair (The Blair Witch Project, 1999) e A Bruxa (The VVitch, 2015) são evidenciados, todos apresentados de forma natural e com um tom de suspense que vamos descobrindo junto aos personagens.
O roteiro bem elaborado e com bons pontos de virada sempre foi um elemento de destaque nos jogos da Supermassive. São cinco personagens jogáveis, com uma perspectiva diferente para cada um deles. Ao todo podemos ver três vezes o lado da mesma história por cada personagem, e elas vão se completando ao longo das quase 8h de campanha. Além disso, o jogo conta novamente com a presença do Curador. Ele é um guia do jogador no mundo de The Dark Pictures, um sabe tudo. Ele também está presente em Man of Medan, mas em Little Hope sua atuação é mais primordial. O elemento do terror mais conhecido, o jump scare, está presente, e seu uso, apesar de recorrente, sempre é bem executado. Cada personagem possui características próprias e elementos de personalidade diferentes, isso faz com que sempre haja conflito entre eles, principalmente sobre decisões a serem tomadas.
No entanto, um elemento que pouco muda é a sua jogabilidade. Basicamente Little Hope aprimora os elementos de gameplay vistos nos jogos anteriores. O que de fato faz diferente são os modos de acessibilidades que, apesar de não contemplarem todas as necessidades, tornam a experiência melhor para algumas pessoas. O não incremento de muitas mudanças na jogabilidade não é um problema, pois ela continua bem, tal qual seus antecessores. A câmera fixa, e por horas móvel, é responsável por limitar uma exploração detalhada, contribuindo assim para o aumento de suspense em determinadas situações. Além disso, o jogo traz um sistema de controle cardíaco de cada personagem, permitindo que o jogador consiga manter a calma de determinada pessoa para dar tempo pensar em uma solução.
O não aprofundamento da história é fundamental para evitar spoilers e estragar a experiência dos leitores, mas é possível confessar que o clima soturno criado pelos elementos de bruxaria e de elementos sobrenaturais é um dos melhores criados pela sua desenvolvedora. Símbolos e objetos wiccanos são encontrados no decorrer da experiência e eles apresentam um domínio da história a ser contada, respeitando a origem das tradições e lendas daquele povo. Semioticamente é um jogo muito rico, cabendo análises mais profundas que talvez possam ser exploradas em futuros textos, por ora cabe a recomendação de jogar Little Hope de cabeça aberta e preparado para levar muitos sustos.
Contudo, a experiência não foi completa. Cabe o registro que o jogo apresentou problemas, principalmente no PlayStation 4. Por diversas vezes ele interrompia sua execução, gerando assim um problema de salvamento corrompido, sendo necessário rejogar tudo novamente. Comigo, a solução foi periodicamente, de 30 em 30 minutos, fazer um backup do arquivo de save na nuvem, mesmo assim é uma situação chata em um jogo que não deveria apresentar esse problema. Essa situação foi relatada em diversas redes sociais e por variadas pessoas, portanto, não foi uma situação isolada.
Por fim, cabe ressaltar a boa história que a Supermassive conta em Little Hope. Ela é cheia de terror e mistérios e certamente irá surpreender aos jogadores. Aqueles que têm uma predileção pelo gênero será uma das melhores experiências em um jogo, os que estão chegando de primeira viagem certamente serão capturados pela a história. No final das contas o saldo é positivo, justamente por apostar no que eles sabem fazer de melhor: contar boas histórias de terror.
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Atual Vice-presidente da Aceccine e sócio da Abraccine. Mestrando em Comunicação. Bacharel em Cinema e formado em Letras Apaixonado por cinema, literatura, histórias em quadrinhos, doramas e animes. Ama os filmes do Bruce Lee, do Martin Scorsese e do Sergio Leone e gosta de cinema latino-americano e asiático. Escreve sobre jogos, cinema, quadrinhos e animes. Considera The Last of Us e Ocarina of Time os melhores jogos já feitos e acredita que a vida seria muito melhor ao som de uma trilha musical de Ennio Morricone ou de Nobuo Uematsu.