Man of Medan – os mortos contam histórias

 

Em 2015 a Supermassive Games lançou o aclamado jogo Until Dawn. Um jogo de terror interativo no qual o jogador podia optar entre várias escolhas e assim determinar o rumo dos protagonistas. A ideia era seguir uma tendência de jogos de escolha, flertando sempre com uma linguagem cinematográfica, como exemplo temos Life is Strange também de 2015. O diferencial de Until Dawn, contudo, é o gênero narrativo ao qual ele se integra: o terror. Isso dá às escolhas um caráter decisivo, pois, uma escolha errada poderia levar a morte um dos protagonistas. O jogo foi bem recebido com sua longa campanha, mais de 8 horas em uma primeira jornada, mas que pelos múltiplos finais, obrigava o jogador há pelo menos jogar mais 3 vezes.

O sucesso foi tanto que logo se pedia uma continuação de Until Dawn. Em 2017 a Supermassive Games lançou Hidden Agenda, outro jogo de escolhas, mas dessa vez focado no multiplayer. Nele, era possível baixar um aplicativo no celular (com o mesmo nome do jogo) para que os jogadores pudessem decidir quem iria tomar a decisão do personagem, quanto mais jogadores maior a diversão. Embora tenha essa premissa, o jogo abandona o gênero terror e foca em uma história mais investigativa e de suspense. Por ser um game curto e com personagens não tão carismáticos, Hidden Agenda não consegue repetir o sucesso de Until Dawn do mesmo estúdio e passa longe do clássico jogo do gênero Heavy Rain (2010), que também explora a mecânica de escolhas em um ambiente de suspense. 

Com a promessa de resgatar o ambiente de terror desenvolvido em Until Dawn, em 2019 chega às lojas The Dark Pictures Anthology: Man of Medan. Esse jogo parte de uma premissa muito boa e comum ao gênero terror: a divisão em histórias. Man of Medan seria o primeiro jogo de uma série de jogos com a temática terror, nessa primeira aventura a história se passa em um navio abandonado e mal-assombrado. A história apresenta 5 protagonistas: Conrad e sua irmã Júlia; Alex, namorado de Júlia, e seu irmão Brad; por fim a capitã do navio de mergulhos, Fliss. Depois de mergulhar no mar do Pacífico em busca de um avião submerso da Segunda Guerra Mundial, esses jovens se deparam com um navio cargueiro abandonado e a história se desenrola.

De uma forma geral, a história é bem contada, não há inconsistências narrativas no seu roteiro. Os protagonistas são carismáticos o suficiente para você se importar em querer salvar todos, apesar de ser muito difícil às vezes. A jogabilidade, em relação à Until Dawn, melhora em alguns aspectos, mas piora em outros, sobretudo na movimentação dos personagens no cenário. O jogo contém muitos jumpscare, recurso comum em filmes de terror, esse excesso acaba prejudicando um pouco a jogatina, pois apresenta somente esse recurso. Em Until Dawn, por exemplo, o jumpscare é ligado ao uma trama psicológica bem mais desenvolvida, o medo lá é no ambiente e vem dos próprios personagens, é bem mais bacana. O fator replay também é utilizado aqui, pois sua campanha consegue ser menor que o jogo anterior, beirando umas 4h30 de jogatina, o que é um absurdo pelo valor pago pelo jogo nas lojas brasileiras. Além disso, o jogo apresentou engasgos em sua gameplay, demonstrando que ele não estava preparado para rodar em todas as plataformas. 

No apagar das luzes, Man of Medan é um jogo inferior a seu antecessor de 2015, mas que ainda assim diverte e dá medo em uma primeira jogatina, mas que se torna cansativo e previsível nas outras, seus personagens são carismáticos e o ambiente é imersivo e claustrofóbico. A jogabilidade e tempo de campanha são um problema, mas sua história é bem contada, o que o torna uma ótima porta de entrada para os demais jogos desta antologia.