Bill & Ted: Encare a Música – Um filme excelente em ser ele mesmo

Das duas primeiras aventuras de Bill e Ted eu lembrava muito pouco. Apenas algumas pequenas coisas ficaram comigo por todos esses anos, coisas como a amizade entre os dois personagens; a icônica cropped de Bill no primeiro filme; o ato de tocar guitarra imaginária e, a mais importante, a frase “be excellent to each other”, que na versão dublada – versão que eu fiz questão de rever pra escrever este texto – ficou imortalizada na voz de Oberdan Júnior (dublador de Bill, do Hércules, do Tintim e de muitos outros personagens incríveis) como: “sejam legais uns com os outros”, uma frase que talvez eu tenha levado para a vida sem nem mesmo perceber onde tinha aprendido.

Uma frase meio ingênua de sua própria simplicidade, romântica até. Só que, para mim, é justamente esse sentimento a essência desses filmes e desses personagens, que podem não ser muito espertos, mas tem o coração tão no lugar que conseguem resolver todos os problemas do mundo com a sua música.

Isso nos leva diretamente para a terceira e mais recente jornada dos Garanhões Selvagens, Bill & Ted: Encare a Música (Bill & Ted: Face the Music, 2020), que marca o retorno de Keanu Reeves e Alex Winter aos seus papéis principais como Bill e Ted, respectivamente, além de Hal. Landon Jr como o pai de Ted, o capitão Logan, e William Sadler como dona morte. Com a continuação vindo tantos anos depois, eu me perguntei o que mudaria antes de assistir: Será que a história teria um tom completamente diferente, com um amadurecimento dos personagens (junto com o dos atores)? Será que tentariam modernizar os temas ou tornar o roteiro mais complexo? Já que seria lançado em um mundo de expectativas completamente diferente de antigamente, somos um público muito mais exigente agora. Depois de ter assistido, creio que a escolha que fizeram foi na verdade muito acertada.

Em Bill & Ted 3, nossos roqueiros favoritos continuam apaixonados por suas princesas, cada um tem uma filha – Billie e Thea – e continuam tentando engatar com a música, agora donos de uma carreira mais de altos e baixos. O começo parece brincar com uma história que poderia ser de fechamento de ciclo, amadurecimento, mudança na relação praticamente simbiótica dos dois, seria o mais sensato e maduro a se fazer e talvez até funcionasse dessa forma. Mas, no decorrer da trama percebemos que esses personagens não cresceram de verdade e que isso é ótimo, porque é meio que a cara deles. De certo modo, foi a coisa mais autêntica que poderia ter sido feita.

Digo isso porque, assistindo ao filme, senti uma sensação de mais do mesmo, mas não de uma forma necessariamente pejorativa. Acabei fazendo uma maratona dos três filmes e o terceiro foi muito bem-vindo no sentido de que talvez não fizesse mal ao mundo de hoje um pouco dessa ingenuidade boba, de um sentimentalismo barato, um otimismo romântico que morreu um pouco diante da nossa realidade que só vai de mal a pior. Sinto que o mundo carece um pouco dessa ideia de que uma música pode salvar toda a humanidade, deixando de lado as diferenças, todos os conflitos e “é isso aí, pessoal” nos moldes da “We Are the World” da ação USA for Africa e o Live Aid de 1985.

Então, sim, é um filme bem levinho e bobo, de humor antiquado e que se apoia bastante na nostalgia dos filmes anteriores, com retorno de personagens e reafirmações de arcos e eu poderia muito bem focar apenas nesses pontos durante a crítica que não estaria errado. Na verdade, sinto que com certeza havia espaço para o filme ser muito melhor do que é. Mas, falando apenas da experiência e das sensações que eu tive durante o longa, o que ficou foi, novamente, essa faísca de ingenuidade ao me pegar pensando “E se a gente só parar tudo e começar a ser legal uns com os outros? Como seria o mundo?” e, honestamente, era exatamente isso que eu estava precisando quando assisti: um tiquinho de esperança.


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