A Grande Entrevista – Thriller jornalístico de qualidade

Existe um fato que a mentira nunca sustenta por muito tempo e a partir do momento que a verdade vem à tona, ainda mais com a era da internet e redes sociais, se torna uma bomba midiática de grandes proporções potencializada pelo olhar massacrante da opinião pública. Os thrillers jornalísticos costumam carregar essa tonalidade quando assistimos filmes que tem como função desenterrar verdades sobre celebridades, artistas ou pessoas famosas que o público julgava como íntegras.

É neste seguimento que o drama A Grande Entrevista (Scoop, 2024) da Netflix, lançado no dia 5 de Abril, baseado no livro “Scoops” de 2022 de Sam McAlister, conta a história verídica da famosa e desastrosa entrevista do Príncipe Andrew (Rufus Sewell) ao programa Newsnight, da BBC, que aconteceu em 2019 e gerou uma forte repercussão negativa na época, principalmente por conta do envolvimento do filho da rainha com o magnata Jeffrey Epstein, conhecido por ser cabeça de um esquema de tráfico sexual de menores.

O longa dirigido por Philip Martin é um thriller que inicialmente começa com um tom mais investigativo, ao passar pelo ponto de vista da jornalista Sam McAlister (Billie Piper), que através de uma foto tirada pelo paparazzo Jae Donnelly (Connor Swindells), consegue revelar a relação íntima de amizade do Príncipe com Epstein num estopim que gerou uma grande crise para realeza naquele período.

 

O primeiro ato do filme, estabelece bem Sam como personagem, mostrando a pressão no trabalho em momento de crise vivido pela BBC, além de tentar conciliar a vida em casa cuidando do filho, que normalmente fica com a mãe durante seu período de trabalho. Esta humanização da protagonista é apenas um detalhe para polir uma história que é carregada pela tensão e suspense num ritmo bastante eficiente.

É impossível assistir A Grande Entrevista e não pensar em alguns longas similares como o ganhador do Oscar Spotlight: Segredos Revelados (Spotlight, 2015) ou no recente O Escândalo (Bombshell, 2019), que aliás, se assemelha bastante por conseguir colocar em foco um trio de mulheres com Sam, a apresentadora Emily Maitlis (Gillian Anderson) e assessora pessoal de Andrew, Amanda Thirsk (Keeley Hawes). É através delas que o roteiro se desenvolve entre negociações e trâmites para que a entrevista aconteça. 

O filme apresenta uma escalada muito boa, traz um pouco de tempero político e cresce bastante quando abraça seu lado de thriller jornalístico enquanto vemos Sam conseguir uma exclusiva ao colocar Emily e Príncipe Andrew frente-a-frente, através de sua ligação com a Amanda. O melhor do roteiro escrito por Peter Moffat e Geoff Bussetil é usar evidências e descobertas como arma jornalísticas sem parecer piegas, mas para mostrar a verdade por trás dos fatos.

Outro ponto que fica escancarado é como os assessores a volta do Príncipe cometeram o erro de acharem que tinham tudo sobre o controle. É através desta vulnerabilidade que o filme se eleva na sua segunda metade no seu melhor momento, durante a esperada entrevista. Aliás, toda a sequência é muito bem dirigida com enquadramentos inteligentes que capturam emoções dando um pouco mais de complexidade e humanidade aos personagens, além de uma carga dramática e tensão muito bem estabelecidas.

É neste aspecto também que notamos que o elenco é o ponto forte do filme, a começar por Billie Piper no papel de Sam, com um olhar analítico e observador, a atriz consegue transmitir a expertise de uma personagem que tem talento em extrair informações. Outro destaque vai para Gillian Anderson no papel de Emily Maitlis, uma mistura de charme e inteligência que só ela sabe entregar. O ator Rufus Sewell, debaixo de uma pesada maquiagem, também entrega uma boa atuação na pele do Príncipe Andrew. Vale uma menção a Keeley Hawes no papel de Amanda Thirsk numa atuação as vezes contida, mas ainda assim notável. 

Com um elenco tão bom e uma história tão intrigante, para não dizer chocante em muitos aspectos, mostram que A Grande Entrevista um filme imperdível, daqueles que se você gosta do gênero, ficará bastante satisfeito quando os créditos começarem a subir. Dirigido de forma competente com um ritmo que não cai em nenhum momento, temos uma narrativa em busca da verdade que mostra que nem sempre quem detém alto poder aquisitivo ou “sangue azul”, consegue escapar dos próprios erros quando estes são escancarados através de fatos e verdades, neste ponto o longa acerta muito como um entretenimento poderoso da melhor qualidade.


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