Avatar: O Último Mestre do Ar: 1ª Temporada – Muito carisma, mas muito chroma key também

Avatar: A Lenda Aang. Imagem: Netflix/ Divulgação

Obs.: Esse texto pode conter leves spoilers de Avatar

É inegável que a série animada Avatar: A Lenda de Aang (Avatar: The Last Airbender, 2005 – 2008) conquistou uma legião fervorosa de fãs ao redor do mundo. O sucesso é tão grande, que já lhe rendeu uma continuação, contando a história da próxima encarnação do Avatar, a animação Avatar: A Lenda de Korra (The Legend of Korra, 2012 – 2014), e um filme para o cinema. Mas este, eu acredito, ninguém quer lembrar. Então vamos fingir que não aconteceu.

E, como tudo mais na cultura pop, seguindo a tendência de adaptações das quais eu já venho falando aqui em vários textos, não ia demorar pra que fosse feita, também, uma adaptação em live action em formato de série. Só faltava saber quem teria a coragem de enfrentar essa multidão de seguidores. Sabemos que essa turma pode ser bastante exigente e, se algum detalhe fugir aos olhos de uma produção mais desatenta, os espectadores não serão piedosos.

Chegamos em 2024 e a megaempresa de streaming Netflix colocou no seu catálogo a tão esperada adaptação. Avatar: O Último Mestre do Ar (Avatar: The Last Airbender, 2024 –) estreou no último dia 22 de fevereiro e parece ter divido as opiniões do público geral. Mas, ao que parece, o saldo tem sido positivo. Apesar da crítica especializada não ter se agradado muito (60% no site dos tomates), a audiência não tem reclamado de nada que não sejam detalhes que podem ser corrigidos mais pra frente (75%, no mesmo site).

Avatar: A Lenda Aang. Imagem: Netflix/ Divulgação

Tá igualzinho, mas nem tanto

É lógico que a versão live action não poderia ser totalmente igual à sua versão animada. E é comum que se façam ajustes. Mas também é perceptível o cuidado que se pode observar em Avatar. Caso você tenha assistido ao desenho muitas vezes, ou recentemente, isso pode se tornar mais evidente. Há realocação de fatos na cronologia, troca de personagens em alguns acontecimentos e até alguns propósitos que levam um ou outro personagem a tomar certas decisões. Mas, o cuidado do qual eu falo pesa no fato de isso não ter tirado dos eixos o caminhar da história. Tanto que, se já faz alguns anos que você não visita o material original, pode ser que você nem perceba tais mudanças.

As caracterizações estão eficientes. Houve um cuidado na escolha do elenco para que os atores fossem, de fato, das mesmas etnias que os personagens – e isso demonstra respeito pelos seguidores, além de atender as demandas por representatividade. A maioria dos personagens não sofreu alterações e, os que precisaram delas, não são tão radicais a ponto de se tornarem ofensivos.

Os cenários são de encher os olhos! Mesmo aqueles que não reproduzem com fidelidade a arquitetura do que vimos nos episódios dos desenhos, transmitem bem a essência das cidades. São familiares o suficiente para nos levar de volta no tempo, sem terem que se apresentar como cópias extas. Ponto alto para o trabalho de produção!

O elenco principal é agradável. O trio se comunica bem e o protagonista tem lá seu carisma. Mas, certamente, o destaque está nas meninas. Kiawentiio, como Katara e Elizabeth Yu, como Azula, são fantásticas em tela e ambas vão despertar sentimentos de torcida em você. Ainda que Azula seja uma vilã, não tem como não querer que ela se rebele contra as manipulações que ela sofre do pai. E também é gostoso ver personagens tão talentosas em suas próprias artes, independente de qual seja a motivação.

Avatar: A Lenda Aang. Imagem: Netflix/ Divulgação

Avatar é bom, mas pode melhorar

Nem sempre o trabalho de arte e figurinos da Netflix acerta. Podemos elogiar muito o que nos foi apresentado em One Piece (2023 –), ao passo que podemos repudiar as perucas esquisitas de Yu Yu Hakusho (2023 –). Eu não queria falar de perucas, mas, aqui também tem algumas que dificilmente vão passar despercebidas. A maioria das coisas, provavelmente, só desagradará à audiência mais fanática. Aquela que reclama de detalhes que só são importantes pra ela mesma. Algumas poucas, eu penso, podem parecer meio forçadas. Sim, é difícil lidar com a aparência do rei Bumi (Utkarsh Ambudkar), maquiado com as feições de um idoso, porém, com o corpo jovial e sem rugas (não me pergunte, eu não sei como resolver isso). E sim, eu sei que você também está pensando na peruca da princesa Yue (Amber Midhunder). Mas, como eu disse: detalhes. Nada que estrague sua experiência.

O que, talvez, pode se tornar um problema com o passar do tempo é o uso excessivo de chroma key. No caso específico de Avatar, nem sempre funciona e alguns cenários ficaram tão artificiais que foi impossível não perceber. E isso, sim, chama tanto a atenção que tira nossa concentração da história e nos faz perceber somente essa simulação de ambiente.

Não sei até que ponto se pode exigir dos efeitos em CGI. Animais ainda são difíceis de se reproduzir, ainda mais quando se exige certo grau de interação com eles. E mais ainda quando falamos de séries para TV (não que uma série não possa ter a qualidade de um filme para cinema, mas, até esses, em muitos casos, falham).

Avatar: A Lenda Aang. Imagem: Netflix/ Divulgação

Não devemos, mas, conseguimos não comparar?

É muito difícil não fazer comparações de materiais quando a Netflix conseguiu fazer um trabalho tão competente com One Piece. Antes desse acontecimento, eu mesmo era um espectador que fazia pouco caso tantas vezes fosse anunciado a adaptação de um anime para uma versão com pessoas. Porém, depois do inegável acerto da vermelha com a série do pirata, as expectativas ficaram altíssimas. Não foi diferente com Avatar.

Nesse ponto de nossa conversa, eu não consigo dizer se Avatar falha por não conseguir ter o mesmo carisma que One Piece teve, ou se, de fato, a qualidade da produção é inferior. E acho meio injusta a segunda opção. Isso porque, dada a grandiosidade que a jornada de Aang exige em termos de adaptação e efeitos visuais, não seria honesto colocar as duas séries em uma mesma balança.

O fato é que, em termos de live action,  Aang não conseguiu alcançar meu coração da mesma maneira que Luffy conseguiu (um efeito inverso, se falarmos de suas encarnações animadas). Provavelmente pelo tom muito mais sério que o monge mirim teve que adotar para esta versão, já que ela exigia mesmo uma carga dramática mais carregada.

De todo modo, a série diverte, cativa e vale muito a audiência. Seja pela nostalgia, seja pra novos públicos, a lenda de Aang ainda vai perdurar por mais um tempo. Talvez, não tão boa quanto os fãs antigos gostariam, mas, ainda assim, respeitando seu arco de evolução e os valores que ensinou, quinze anos atrás, quando o último dobrador de ar acordou de seu sono de 100 anos.


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