Percy Jackson e os Olimpianos – 1×05: Um deus compra cheeseburgers para nós

Caso tenha perdido, temos texto sobre os quatro primeiros episódios da série!

Rick Riordan não mentiu quando falou que a segunda metade da série ia ter muito o que amar e a partir do episódio 5 as coisas começariam a ficar mais interessantes! Tivemos bastante foco em Annabeth e eu nunca me senti tanto no universo dOs Olimpianos como agora.

Avisos importantes!

Eu estou escrevendo estes textos conforme os episódios são lançados. Então se eu apontar ou perguntar algo aqui que é abordado ou respondido em um episódio mais à frente, lembre que no momento da escrita deste texto eu não tinha como saber que isso aconteceria.

Durante o texto vou discutir o que pode/vai vir nos próximos episódios da série, então ele pode conter alguns spoilers do primeiro livro da série literária e da própria série.


O quinto episódio leva o título do décimo quinto capítulo de O Ladrão de Raios e adapta o restante do capítulo 14 até o início do capítulo 16. Foi dirigido por Jet Wilkinson, diretora australiana e a primeira mulher a dirigir um episódio na série. Ela já dirigiu episódios de séries bem famosas como Como Defender um Assassino (How to Get Away with Murder, 2014 – 2020) e vários episódios de séries da Netflix, incluindo Demolidor (Daredevil, 2015 – 2018), Warrior Nun (2020 – 2022) e Primeira Morte (First Kill, 2022).

Este é o primeiro episódio que começamos com Annabeth (Leah Sava Jeffries) e Grover (Aryan Simhadri), já mostrando que teremos um foco um pouco diferente nos próximos 40 minutos. O Gateway Arch está soltando fumaça de seu ponto mais alto, temos viaturas de polícia, caminhões de bombeiro, ambulâncias e todo outro tipo de veículo que tenha uma sirene, além de muitas pessoas curiosas. Annabeth e Grover estão preocupades, e nossa filha de Atena vê três senhoras sentadas atrás da fita de isolamento, bordando com lã azul. São as Parcas, divindades responsáveis pelo destino dos mortais. São elas: Cloto, a que tece o fio da vida, Láquesis, a que traça os caminhos e Átropos (Joyce Robbins), a que corta o fio da vida, controla a morte. Os créditos as colocam apenas como Parca #1, Parca #2 e Parca #3, então só foi possível deduzir qual era Átropos por ela cortar o fio, já que as outras duas estão tricotando, mas as outras atrizes são Cindy Piper e La Nein Harrison.

Originalmente este momento estaria no início da história e esse fio seria cortado para Percy ver, mas agora foi para Annabeth, uma mudança interessante, que só fará sentido muito mais para frente. Grover não parece vê-las e está mais preocupado com os policiais. Annabeth não acredita que o filho de Poseidon está morto, então vão procura-lo e claro, encontram Percy (Walker Scobell) saindo do rio Mississipi. No livro ele estaria seco, mas o mantiveram molhado, o que na verdade eu até acho melhor e deve custar menos para os efeitos. Ele também está curado do envenenamento e recebe um abraço inesperado de Annabeth, ao que eu gostaria de dizer: Grover bem podia ter tornado um abraço triplo, mas entendo o impacto deste momento.

Percy trouxe também um recado, seu pai quer encontrar com ele em Santa Mônica para prestar auxílio. Para a sorte do garoto, Santa Mônica é uma praia que fica em Los Angeles, então ninguém precisa mudar de rota, o problema na verdade é que agora procurados por terem destruído o trem e o Arco, nenhum meio de transporte é viável para viajarem então o que resta é irem a pé (curiosidade: levaria mais ou menos um mês fazer esse trajeto desse modo). O mais curioso, no entanto é a reação de Annabeth a essa conversa. Um misto de surpresa com talvez um toque de ciúmes? Por Percy estar em bons termos com seu pai enquanto sua própria mãe está zangada com ela?

Enquanto se resignam a humilhação de ir andando, nosso trio FINALMENTE fala mais sobre o raio-mestre. O que tem realmente me incomodado na série é a falta de senso de emergência com relação à missão, a sensação que uma guerra entre as forças da natureza está prestes a estourar, sinto falta de ocorrências de grandes tempestades, terremotos, o mundo em caos e coisas assim. Mas continuando, Percy começa a como ele diz “levar isso mais a sério”, por estar sentindo essa ligação com Poseidon, e a fazer as perguntas certas. Hades está com o raio-mestre, mas não foi ele quem roubou, então quem foi e qual seria o objetivo maior por trás disso? 

Depois de falarem sobre serem detetives e se esconderem na beira da estrada, Annabeth conta que viu as Parcas cortarem um fio, o que é um mau presságio e significa que em breve alguém vai morrer. Então ele surgiu. Em uma linda Harley-Davidson com adesivo de javali e ao som de Riptide: Ares (Adam Copeland). Eu simplesmente amei como ele foi retratado. Tiraram seus olhos que na verdade eram órbitas vazias e ao invés de ser completamente desagradável ele é instável, como se tivesse algum tipo de transtorno de bipolaridade ou de personalidade borderline, um jeitinho passivo-agressivo que parece que a qualquer segundo ele pode tirar uma arma do bolso e sair atirando sem critério, mas ao mesmo tempo amigável de um jeito que até faz sentido fazer um acordo com ele. Apenas perfeito. Só o que senti falta foi sua aura que deixa as pessoas agressivas, de um modo geral, os deuses tem sido representados sem essas auras, como que para se mesclarem melhor ao mundo mortal. Ele convida o trio para uma negociação em uma lanchonete o que pode ser uma boa chance para conseguirem ajuda.

Na lanchonete, – onde, diga-se de passagem, ele não pagou sanduíches para as crianças – Ares é claramente aquele cara que incomoda o ambiente, mas ninguém tem coragem de chamar a atenção, e claro, um briguento do Twitter, nada mais apropriado. Com ele também vem um celular. Ainda não tivemos maiores explicações de porque as crianças não podem ter um celular, se é que isso vai ser mantido até o final na série, e agora sabemos que o padrasto de Percy, Gabe (Timm Sharp) não só o está acusando pelo desaparecimento da sua mãe Sally (Virginia Kull) como por todos os eventos suspeitos pelos quais ele passou, agora ele é muito procurado e vai ficar na mira até mesmo do FBI.

Para além disso, Ares acredita que haverá guerra de qualquer maneira, quer o raio-mestre seja devolvido ou não, porque é do feitio dos deuses fazerem isso. Como ele diz: olimpianos brigam, traem e se apunhalam pelas costas o tempo todo, é assim que funciona e para ilustrar ele menciona Cronos e como ele foi derrotado por Zeus e enviado para o Tártaro. Aos poucos mais elementos da mitologia vão sendo mencionados. A insolência de Percy no livro dá lugar a uma insolência inédita de Annabeth, achando estranho o deus saber muito mais do que ela acha que deveria, o que é diferente, mas interessante, começando a mostrar a mudança na personagem. Ele quer que os semideuses recuperem seu escudo em um parque de diversões em troca de sua ajuda, enquanto isso ele ficará com Grover de refém, o que vai dar a oportunidade para a história deixar Percy e Annabeth sozinhos pela primeira vez desde o episódio 2.

Grover, no entanto, tinha planos para além de apenas esperar. Ele mostra uma face que ainda não conhecíamos sua, mais ardilosa. Obviamente ele também achou que Ares sabia demais e começou a jogar um verde para ele, tentando descobrir o que mais ele podia saber sobre o ladrão de raios. Na conversa dos dois, enquanto Grover vai amaciando o deus com uma conversa sobre natureza selvagem e lembrando-se de guerras pouco conhecidas, como a Guerra do Pregado, a Guerra da Lagosta – um conflito entre Brasil e França, olha só – e a Guerra dos 335 anos, FINALMENTE mencionam o solstício de inverno. No livro tinha sido apenas uma excursão ao Olimpo feita pelo Acampamento Meio-Sangue, mas agora é um evento anual onde semideuses fazem apresentações de suas habilidades para os deuses. A oportunidade perfeita para algum semideus roubar o raio-mestre, como Grover supões que aconteceu e é claro, uma ocasião que Ares odeia, mas quando Grover fala sobre ele pegar o ladrão, alguma chave vira na cabeça do deus.

Outro ouro dessa interação é o desenvolvimento de personagens, nos falando sobre a rivalidade entre Ares e Atena. Ambos deuses da guerra, mas um personificando o lado violento e agressivo e a outra o lado estratégico e honroso. Isso faz com que ele se sinta ignorado e subestimado pela irmã que também é a deusa da sabedoria e por isso também considerada mais inteligente do que ele. Ela é sim, só para constar, mas isso não vem ao caso.

Enquanto isso, nosso casal PercaBeth foi ao parque de diversões Aqualândia, que a primeira vista parece ter tido dias melhores. Descobrimos que Annabeth nunca assistiu a um filme, o que me leva a reforçar: não foi culpa da madrasta, o pai dela era mau-caráter desde o início. E Percy diz que vão resolver isso, o que pode significar uma ida ao cinema ou uma maratona no Disney+. Já na entrada os dois são pegos em uma armadilha e FINALMENTE (muitos desses hoje) é explicado o que é o bronze celestial. Um metal que pode ferir deuses, monstros e semideuses, mas é inofensivo para humanos, então como semideuses, nossas crianças podem ser feridas por armas mágicas e não-mágicas.

Annabeth logo deduz que o parque inteiro é uma obra de Hefesto, o deus artesão, ferreiro e mestre do fogo e dos vulcões. Responsável por fazer várias das armas e símbolos de poder dos deuses gregos, incluindo o próprio raio-mestre. Ela claramente é uma fã dele, impressionada com o design das atrações do parque. Conversando os dois deduzem que Ares esqueceu seu escudo porque estava ali com Afrodite, deusa do amor e esposa de Hefesto, e deve ter saído com pressa. No livro, o casal usava o local por ser isolado e ter muitos espelhos no túnel do amor, Hefesto descobriu e armou uma armadilha para os dois. Agora, é uma afronta muito mais descarada, um desrespeito, um deboche, não é escondido, é para que Hefesto saiba. Vindo desse novo Ares, não me surpreende.

Os dois encontram o túnel do amor e acham um bom lugar para procurar e vão para lá. No livro o “túnel” é muito mais uma piscina vazia espelhada, na série ficou bem mais interessante. Inclusive para um “Emocionante Passeio do Amor”, o lugar é um pouco assustador, exceto quando começa a tocar What is Love?, esse foi o motivo do meu colapso. Um show de luzes começa e parece que a ida ao cinema dos dois chegou mais cedo, uma espécie de animação aparece nas paredes contando a história de Hefesto.

A história do deus é bem triste e torna o questionamento da música sobre “o que é o amor?” e o pedido “meu bem, não me machuque”, bem mais dramático do que cômico. Resumindo bastante e falando apenas das versões da história que a série está adotando: Hefesto foi gerado apenas por Hera, como em uma vingança por seu marido Zeus ter gerado Atena sozinho, mas ela o rejeitou por ser supostamente feio e ter uma perna menor do que a outra, o que o tornaria “manco” e portanto PCD (pessoa com deficiência). Ele foi jogado do alto do Monte Olimpo para a Terra, em algumas versões por Hera e em outras por Zeus, mas depois conquistou seu lugar no panteão. Ele teria se interessado por Afrodite, que também o rejeitou por sua aparência, o que o levou a aprisionar sua mãe até que os deuses concordassem em casá-lo com a deusa do amor, que logo começou a traí-lo com Ares. Na mitologia, eventualmente o casamento se desfez, mas no universo de Percy Jackson e os Olimpianos, Hefesto e Afrodite ainda são um casal e ela ainda o trai com Ares, se tornando uma espécie de joguinho dos três ao longo dos anos.

Percy conta que sua mãe contava essas histórias e reflexões para mantê-lo longe daquele mundo, mas Annabeth acredita que ela o estava preparando, para ele ser diferente e não ser manipulado pelos deuses. Logo o calmo passeio se torna uma montanha-russa que dá em uma espécie de ilha onde o escudo está. Isso também mudou em relação ao livro, fazendo mais ligação com os mitos e para trazer mais emoção. Quando os dois caem na água, Percy usa sua hidroquinese – habilidade de controlar a água – para salvar Annabeth da correnteza o que a leva a chama-lo de Cabeça de Alga, e com certeza todes que já conhecem a franquia soltaram um “ELA DISSE” nesse momento tão esperado. Os dois voltam a discutir para saber quem vai se sacrificar sentando na cadeira para que o outro possa recuperar o escudo.

Ele conta que a escolheu para que quando chegasse esse tipo de momento ela não hesitasse em sacrificá-lo pelo bem da missão, já que ela é mais preparada. Percy entrega sua caneta e senta na cadeira, é coberto por ouro, o escudo é liberado, mas todos se enganaram sobre Annabeth, talvez até ela mesma, já que ela ignora o escudo e tenta salvar o amigo. É então que ele aparece, ele mesmo, Hefesto (Timothy Omundson). Eu acabei não vendo nenhum spoiler sobre ele aparecer e sua aparência, mas imaginei pelo encerramento, que ele apareceria, já que nos desenhos vemos a jornada da temporada e além de Ares, Hades, Zeus e Poseidon que no livro já sabíamos que apareceriam aqui, Hermes, Hefesto e Atena também estão lá. Enfim, o visual dele foi diferente de como ele geralmente é descrito, todo suado e sujo de graxa, em alguma ferraria ou lugar quente. Aqui ele foi retratado quase como um relojoeiro, um mecânico sim, mas também uma pessoa habilidosa e inteligente, visual que me lembra um personagem de temporadas futuras.

O deus diz que sabe do desentendimento com Atena, mas agora Annabeth não está se importando com a mãe, ela questiona, ela mudou, não quer mais ser como era, ela quer salvar Percy, pois naqueles poucos dias um esteve lá para o outro como seus pai e mãe olimpianos não estiveram. Percy veio para trazer mudança para esse mundo e a primeira está exatamente ali: ele mudou Annabeth. E para a sorte dela, o deus em sua frente, ao contrário do que ele mesmo disse, não quer que tudo volte a ser como sempre foi, será e deveria ser. Se tem alguém que entende isso e adoraria uma mudança é Hefesto, ele sofreu e vem sofrendo na mão dos deuses há mais tempo do que qualquer semideus e se a chave para a mudança podem ser aquelas crianças, ele vai facilitar um pouquinho para elas. Usando uma espécie de apito, que funciona tipo a chave de fenda sônica de Doctor Who (2005 -) , ele liberta o garoto e diz que vai falar com Atena.

Para finalizar, o escudo é devolvido ao seu dono e eu espero muito que naquele corte de cena Ares tenha finalmente pago os cheeseburgers para essas crianças. Como um deus, ele poderia simplesmente transportá-los para onde precisam ir, mas ele não é tão legal assim. Então os coloca na carroceria bem fedida de um caminhão que aparentemente está levando animais. O caminhão vai até Las Vegas, para o Cassino Lótus onde poderão encontrar Hermes e ele pode mandar seu motorista os levar até Los Angeles. O que me deu uma esperança de afinal vermos Argos na série. Ele lhes entrega uma mochila com roupas, dinheiro, alguns dracmas, mas não sem antes provocar Percy, que agora sim, se irrita, sem ligar se está de frente para um deus que poderia transformá-lo em pó. Esse é o nosso garoto!

Dentro do caminhão, Grover diz que o deus da guerra não falou toda a verdade para o trio e que agora ele sabe quem roubou o raio-mestre. Um baita gancho para o próximo episódio! Me pergunto especialmente se Grover vai acertar quem é o ladrão de raios ou se vai errar e teremos esse mistério por mais um tempinho.

No geral, esse foi o episódio que a direção mais me agradou. Parece que aquela mão que segurava o elenco afinal o soltou e nossas crianças puderam entregar atuações com maiores nuances e muito mais impacto. Ares por mais diferente do original que seja, me conquistou demais, eu amei. Também gostei de terem falado mais sobre como Percy está trazendo mudança justamente por ter sido criado por sua mãe, por isso ela não o mandou para o acampamento logo de cara, ela queria que ele fosse melhor, e conseguiu, Sally Jackson é a verdadeira heroína dessa história. E claro, a menção a que o que está acontecendo, provavelmente muito maior do que roubar o raio-mestre e fazer Zeus e Poseidon brigarem.

Temos imagens do próximo episódio, mais especificamente: Grover colocando a cabeça para fora do caminhão para saber onde estão e é possível ver Las Vegas ao fundo, Annabeth segurando um prisma e projetando um arco-íris dentro do caminhão, o caminhão em que estão aberto e vários animais nas ruas de Las Vegas, o Cassino Lótus, imagem do exagero, da breguice e do luxo, Hermes em uma mesa que eu imagino que seja de roleta, o trio fugindo tentando dirigir um táxi e por último, Percy mais uma vez embaixo d’água. 

Vale lembrar que em preparação para a série, também tivemos textos sobre o primeiro livro de Percy Jackson e os Olimpianos, e suas adaptações, o filme de 2010 e a graphic novel.

Nos vemos no episódio 6!


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