Quando o universo Marvel se consolidou em meados de 2019 com o fim da Saga do Infinito, muito se discutiu o que viria a seguir nos próximos eventos da empresa. A pandemia deu a oportunidade de Kevin Feige e companhia trabalharem no futuro do Universo Cinematográfico da Marvel (UCM ou MCU) e apostarem em dois seguimentos diferentes, cinema e TV, aproveitando o forte investimento recebido para alavancar o streaming Disney+.
Nesta esteira, surgiu a ideia de adaptar uma saga dos quadrinhos popular entre os fãs de HQs da Marvel. A estreia de What If…? em agosto de 2021, foi a primeira oportunidade de mostrar que estávamos diante da Saga do Multiverso. Baseado nos quadrinhos de mesmo nome criado nos anos 70, brincava com a ideia de reimaginar eventos de arcos e histórias conhecidas do universo Marvel sendo contadas de uma forma diferente, seguindo linhas narrativas completamente inusitadas.
A animação 3D criada por A.C. Bradley, de Caçadores de Trolls: Contos de Arcadia (Trollhunters: Tales of Arcadia, 2016 – 2018)) e dirigida por Bryan Andrews, de Primal (2019 -), se passa pelo ponto de vista do Vigia (voz de Jeffrey Wright), que é responsável por observar sem interferir nas diversas linhas temporais que acontecem de forma simultânea em um multiverso sempre em constante mudança. É através desse ser poderoso que acompanhamos as nove tramas que compõe a primeira temporada deste seriado.
O que você precisa saber é que What If…? são narrativas alternativas, porém familiares, feitas para quem realmente gosta de explorar o universo expandido do UCM e buscar por algo que soe novo. Desta forma quando assistimos os dois primeiros episódios “What If…Captain Carter Were the First Avenger?” (1×01) e “What If…T’Challa Became a Star-Lord?” (1×02), que exploram Peggy Carter (voz de Halley Atwell) como uma versão feminina do Capitão América (no caso Capitã Britânia) e T’Challa (voz de Chadwick Boseman) sendo resgatado por Yondu (voz de Michael Rooker) e se tornando o Senhor das Estrelas, o impacto é imediato com tramas cheias de ação, reviravoltas e sequências de drama muito bem dosadas.
Talvez isto que faça a animação um produto bom de assistir, o equilíbrio entre ação e aventura com um forte senso de novidade impera em praticamente todos os episódios. Alguns possuem um ritmo tão alucinante que terminam com um gostinho de quero mais, outros mostram tramas tão bizarras que talvez possam causar certa estranheza para aqueles não estão familiarizados com estes contos alternativos.
A verdade é que What If…? foi feito para quem é fã das tramas de multiverso, a narrativa funciona como um laboratório de testes colocando personagens conhecidos como Loki e Doutor Estranho em situações caóticas acabando por gerar episódios memoráveis, como o belíssimo e sombrio “What If… Doctor Strange Lost His Heart Instead of His Hands?” (1×04), ou o surpreendente “What If… The World Lost Its Mightiest Heroes?” (1×03) que possui um fim bastante chocante para os maiores heróis da Terra.
E a primeira temporada não para, com uma primeira metade consistente e bastante viciante, tudo fica ainda melhor quando o excelente “What If… Zombies?!” (1×05) toma forma mostrando que a animação não tem limites para criar histórias envolventes. O fato é que a animação consegue explorar muito mais neste formato os limites do Universo Cinematográfico sem controle de orçamento ou seguindo uma linha narrativa pré-planejada.
Ainda que a trama perca um pouco de gás nos episódios “What If.. Killmonger Rescued Tony Stark?” (1×06) e “What If…Thor Were an Only Child?” (1×07) que apresentam tramas pouco inspiradas e criativas, ainda assim compensadas com muita ação e boas reviravoltas, o seriado parece entender que não precisa se levar tão a sério e pode se arriscar a medida que vai avançando.
Em termos técnicos, muitos tem preocupações em relação ao visual 3D, aqui os desenhos tem aparência agradável, ainda que pouco expressivas. A fotografia varia bastante e consegue dar mais imensidão aos lugares expandidos visualmente do multiverso de uma forma bastante crível, além da expansão no poder dos super-heróis que é algo bastante positivo, então personagens como: Thor, Capitã Marvel, Feiticeira Escarlate, Doutor Estranho e Ultron são mais poderosos e intimidadores de uma forma que suas versões em carne osso ainda não haviam conseguido atingir até aquele período de construção do UCM.
A trilha sonora do desenho é boa e o elenco de vozes trazendo em sua maioria os atores que participaram dos filmes (prepare-se para se despedir uma última vez de Chadwick Boseman) dão um pouco de autenticidade ao seriado, criando um senso de familiaridade para o expectador. Não espere dicas ou cenas pós créditos que façam ligação com o todo, o seriado faz questão de ser expansivo dentro do seu ambiente sem apontar o caminho para o futuro.
De uma forma geral, What If…? é uma animação caprichada, que entretém do começo ao fim, se você é fã do Universo Cinematográfico da Marvel, esta série será uma grata surpresa, principalmente por ter uma versão ultra ameaçadora de Ultron, que fez dos episódios “What If… Ultron Won?” (1×08) e “What If… The Watcher Broke His Oath?” (1×09) eventos de proporção gigantesca para fechar uma temporada muito boa com poucas ressalvas, mostrando que se Marvel fizer tudo certo e deixar a criatividade a serviço da qualidade prevalecer, terá um futuro bastante promissor pela frente.
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Engenheiro Eletricista de profissão, amante de cinema e séries em tempo integral, escrevendo criticas e resenhas por gosto. Fã de Star Wars, Senhor dos Anéis, Homem Aranha, Pantera Negra e tudo que seja bom envolvendo cultura pop. As vezes positivista demais, isso pode irritar iniciantes os que não o conhecem.