Liga da Justiça: Mundo Bélico – DC perdeu a mão com as animações?

Obs.: Esse texto pode conter spoilers

Em cartaz no serviço e streaming da HBO Max desde 23 de outubro deste ano, Liga da Justiça: Mundo Bélico (Justice League: Warworld, 2023) reúne a trindade “sagrada” da DC Comics, Superman, Batman e Mulher-Maravilha, em uma aventura sem graça, mal animada e absurdamente maçante!

Sim, eu realmente detesto começar análises com esse tom apocalíptico, mas, dessa vez, ficou realmente difícil defender a Warner/DC. O que me parece chocante, dado que, desde o lançamento de Liga da Justiça: A Nova Fronteira (Justice League: The New Frontier, 2008) o que melhor a empresa fez está atrelado aos seus lançamentos em animações. Nesse quesito, a DC errou pouquíssimas vezes.

No que pode ser o penúltimo produto da fase de animações batizada de “Tomorrowverse”, os três principais heróis da editora são enviados para um planeta que se “alimenta” de batalhas e, lá, eles vivem situações criadas apenas em suas mentes. Nesses termos, eles precisam enfrentar momentos em que, por mais que se esforcem, tudo tende ao fracasso. Isso faz com que suas vidas estacionem em batalhas eternas, obrigando-os a lutarem para sempre, satisfazendo assim, a fome do Mundo Bélico.

Mundo Bélico desperdiça o potencial dos personagens

Desde o início desse novo universo animado, com o lançamento de Superman: O Homem do Amanhã (Superman: Man Of Tomorrow, 2020), a Warner/ DC nos entregou animações com seus personagens agindo de maneira individual (com exceção de Segunda Guerra Mundial, que reuniu a Sociedade da Justiça). O que fazia parecer que a produtora estava guardando uma espécie de “o melhor para o final”, quando fatalmente reuniria Sups, Bats e Diana em uma única produção ou, talvez, a Liga “oficial” – e não a Legião do Super-Heróis que, convenhamos, pouca gente se importa.

Mas as produções tiveram um desempenho inverso dos trabalhos anteriores da editora. E Mundo Bélico conseguiu coroar a ladeira íngreme por onde descia o potencial de animações, marca registrada da DC, não conseguindo empolgar, mesmo sendo protagonizada pelos seus principais personagens.

No primeiro ato da animação encontramos Mulher-Maravilha presa em um cenário de Westworld, tentando salvar um pequeno vilarejo dos capangas de Jonah Hex. Já Batman aparece na era dos bárbaros, com se fosse uma espécie de Conan, enfrentando magos e maldições. Enquanto Superman se vê em um mundo sem saturação de cor, lembrando o clima noar detetivesco, muito comum nos anos 1950. Individualmente, os três pequenos arcos parecem boas histórias e até conseguem prender um pouco nossa atenção. O problema mesmo surge quando o roteiro junta os protagonistas.

Animação desanimada

Devo ser sincero com você e dizer que o estilo de animação adotado pela DC desde o fim do universo que retratava a fase dos Novos 52 (tentativa de reboot da editora nos quadrinhos) nunca me agradou. Eu considero bastante incômoda essa escolha de animações em 3D que “imitam” desenhos 2D. Não que eu ache que o estilo não funcione. As Tartarugas Ninja: Caos Mutante (Teenage Mutant Ninja Turtles: Mutant Mayhen, 2023) estão aí pra provar o contrário.

O que incomoda, na verdade, é a escolha de estética da Warner para os super-heróis. Feições lisas, com cores chapadas e sem um mínimo de profundidade. E piora quando as feições são todas animadas por inteligência artificial, com pouca ou nenhuma intervenção feita à mão. O que deixa os personagens inexpressivos, com lábios que se movimentam de forma artificial e pouco convincente. É um horror! Os movimentos são robóticos e lembram muito as animações em CGI feitas nos primórdios da utilização da técnica, nos idos anos 2000.

Pode parecer saudosismo da minha parte, mas o que a DC tinha em animações como Liga da Justiça: Ponto de Ignição (Justice League: The Flashpoint Paradox, 2013) e Grandes Astros: Superman (All-Star: Superman, 2011), não vai ser alcançado com esse estilo mais recente de animação, a não ser que haja um empenho gigantesco em melhorar a qualidade do que foi feito de 2020 pra cá.

Some isso aos roteiros lentos e pouco empolgantes do Tomorrowverse e a receita para o fiasco está dada: animações maçantes, com personagens inexpressivos e movimentações artificiais. Quase como uma novela da Rede Record protagonizada por atores ruins sob uma direção pior ainda.

Para não dizer que não falei de flores

Mundo Bélico certamente não é o melhor filme animado da DC. Mas passa longe de ser o pior. E nem tudo deve ser visto com tanta animosidade. Você pode ler uma crítica com uma visão bastante positiva a respeito de Legião dos Super-Heróis (Legion Of Super Heroes – 2023) aqui nesse link.  Além disso, mesmo sendo, nesta animação, personagens de outras Terras, juntar Clark, Bruce e Diana sempre é uma ideia que causa curiosidade pra qualquer pessoa que acompanha histórias em quadrinhos.

Ostentando 50% de aprovação no site dos tomates com míseras 6 avaliações de críticos e sem métrica para audiência popular, a mais recente animação da DC pode até entrar rápido na lista de esquecidos de quem acompanha os heróis da editora. Mas é inevitável citar o ótimo trabalho de vozes, tanto originais quanto brasileiras, que tornam a caminhada do espectador mais suportável, além das ótimas ambientações, cenários muito detalhistas e uma trilha sonora sempre bem colocada. Só não espere muito do roteiro, nem ache que vai ter grandes surpresas.

Depois de tudo, nos resta aguardar “Justice League: Crisis on Infinite Earths”, animação programada para 2024, que, dividida em 2 partes, promete encerrar o Tomorrowverse. A torcida, aqui, é para que a Warner não estrague uma experiência aguardada por quase todo mundo que gosta de quadrinhos de super-gente: uma animação pra adaptar o que é considerada, até hoje, uma das maiores sagas de HQ de todos os tempos. Voltaremos a conversar quando for a ocasião.


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