Legião de Super-Heróis – O protagonismo merecido da Supergirl, feito da forma certa

Após o longa animado Liga da Justiça Sombria: Guerra de Apocolipse (Justice League Dark: Apokolips War, 2020) houve o final do universo de filmes animados da DC. Com a estreia de Superman: Homem do Amanhã (Superman: Man of Tomorrow, 2020), onde foi narrada a origem e primeiros passos do Superman (voz original feita por Darren Cross) um novo universo de filmes animados nasceu, conhecido popularmente como Tomorrowverso. Sem contar tanto com histórias de origem, esse novo universo barrou através de longas animados histórias dos grandes heróis da DC, sem uma codependencia entre as narrativas apesar das histórias pertencerem a um mesmo universo. Tecendo este ao longo de vários filmes de uma forma diferente da feita anteriormente, esse novo mundo trouxe ao foco histórias e personagens não tão aproveitados em outras mídias. 

O lançamento de Legião de Super-Heróis (Legion of Super-Heroes, 2023), dando a Kara Zor El o protagonismo e não ao seu primo, foi de fato uma escolha bem criativa e trouxe muitos elementos interessantes da lore do Superman assim como da Legião dos Super Heróis. Um desses já tem diversas adaptações ao longo dos anos, então a forma como a mitologia do kriptoniano é abordada traz nuances de originalidade muito bem-vindas.

Dirigido por Jeff Wamester, o filme pode ter o nome Legião de Super-Heróis, mas o foco é realmente da kriptoniana e prima do Superman, a Supergirl. Aqui, é importante ressaltar o quanto foi bom ver uma Supergirl com a personalidade da personagem, diferente da versão do seriado cuja personalidade e história era ser o Superman de saia. A falta de paciência e de controle do temperamento de Kara a torna uma personagem muitíssimo interessante de se assistir, enquanto busca por seu lugar num mundo novo, já que Krypton foi destruído. É exatamente pela falta de controle de Kara que ela é mandada para esse futuro por seu primo, que acredita que ela têm muito a aprender com a Legião dos Super-Heróis. 

A história aqui é sobre como Kara deve aceitar a destruição de Krypton e se permitir existir nessa nova Terra onde as coisas não são como em Krypton. Claro, existe a preocupação do Cavaleiro das Trevas com uma kriptoniana sem total controle do seu humor ou da sua força, algo que pressiona Kal El a apresentar Kara para a Legião. Nossa protagonista tem sua voz original feita por Meg Donnely, cujo trabalho combina totalmente com a adaptação da Moça de Aço apresentada pela animação, garantindo ser capaz de acompanhar o protagonismo e a evolução da personagem ao longo do filme. As interações de Kara ao longo da obra entregam versatilidade e também aprofundamento, em especial com o personagem Braniac 5 (voz original por Harry Shun Jr) e Mon El (Yuri Lowenthal). Os três formam meio que um triângulo amoroso, ou quase isso, considerando que o filme não tem uma duração longa o suficiente pra sequer estabelecer a possibilidade desse triângulo e deixa bem claro qual será a escolha de Kara.

Mesmo não mergulhando muito na história ou sequer nos membros da Legião, há toda a expansão da história da equipe e da lógica do que é ser um super herói. Essa aqui é uma das partes importantes da história, por termos personagens cujos poderes não são exatamente “grandiosos” mas cuja vontade de lutar por justiça os definem mais do que seus poderes. É estranho como num universo onde o Batman e o Arqueiro Verde são membros da Liga da Justiça ainda tenha num futuro essa lógica boba de que alguns poderes não são heroicos o suficiente. Enquanto o arco do filme é sobre o Círculo Negro, essa organização criminosa que age tanto nos tempos modernos quanto no futuro, a alma da história também é sobre do que heróis são feitos. Kara teve seus poderes desde sua chegada na Terra pelo fato do Sol Amarelo dar essas habilidades aos kriptonianos, mas ela precisava do desenvolvimento do filme para aprender como e as razões para ser uma verdadeira superheroina. A própria Legião dos Super Heróis precisa aprender mais sobre seu papel como heróis, sobre o significado de serem heróis. Brincando sobre como nem tudo que brilha é ouro, nem sempre os mais poderosos são adequados para serem os melhores super heróis. 

A equipe titular do filme teve uma série animada própria – Legião dos Super-Heróis (Legion of Super Heroes, 2006 – 2008) -, protagonizada pelo Superman jovem, e esteve presente em seriados recentemente como Supergirl (2015 – 2021) e também Justiça Jovem (Young Justice, 2010 – 2022). Então é interessante como a história trouxe esse time sob uma ótica nova, focando em personagens não frequentemente explorados ao longo do tempo. Mas ainda assim, há uma certa sensação de não ter a Legião dos Super Heróis o suficiente para um filme com esse nome, como se ter o nome da Supergirl no filme fosse uma decisão mais adequada. Mesmo assim, o enredo funciona muito bem e traz questões importantes a serem abordadas numa animação baseada em quadrinhos, até mesmo explorando visualmente conceitos de ficção científica e até com um antagonista quase que saído de um filme de Evil Dead. Amarrando diversos acontecimentos mencionados ao longo da duração da obra, o filme cumpre muito bem o propósito e traz um certo brilho para a história, tanto da Supergirl, quanto da própria Legião, mas não muda que o título do filme fique muito em terceiro plano em meio a história. O filme está disponível no streaming HBO Max.


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