A música sempre teve um papel transcendental para a espiritualidade humana. Desde os primórdios temos unido sons e ritmos como uma forma de despertar interior, de elevação mística ou mesmo de aproximação com o divino. É uma arte que é comum a quase todas as religiões de ontem e de hoje e que tem um papel fundamental para se incorporar crenças e fé – algo do campo subjetivo – ao corpo e seus movimentos – no campo do sensível. Dentre todas as religiões as que tem origem étnica nos povos originários africanos e americanos tem especial relação com a musicalidade, já que é através dos sons e ritmos, sejam vindos de instrumentos, seja pela oralidade cantada, é que a manifestação de suas rezas e orações se faz.
É neste ensejo que o diretor Edigar Martins ouve quatro umbandistas da cidade de Fortaleza, que nos explicam de forma simples e didática, mas ao mesmo tempo apaixonada e fervorosa, a importância da música como uma linguagem sobretudo espiritual, carregando – muitas vezes de forma literal – uma mensagem ao nosso corpo, mente e e alma. Francisco Oliveira (Ogã do Abassá de Omolu e Ilê de Iansã), Iranilson da Silva, o Pai Gugu (Pai de Santo do Templo de Umbanda Cego Velho da Jurema), Netinho Monteiro (Tambozeiro do Centro de Umbanda Casa Lírio Verde) e Pedra Silva (Iaô do Abassá de Omolu e Ilê de Iansã), dão depoimentos acalorados sobre suas próprias experiências na religião e na música, vivências diversas, mesmo que dentro de uma mesma matriz de crença. Destacam a ancestralidade sagrada que a música delega às mãos de quem toca os instrumentos, às línguas de quem canta e aos movimentos corporais de quem dança.
E é na dança e no cantar de Pedra que vemos a linda manifestação deste encanto, e como ela mesma diz: “eu rezo dançando, eu afasto o mal cantando e tudo é uma festa”.
Este texto faz parte da cobertura do 33º Cine Ceará, realizada pelo Só Mais Uma Coisa.
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Cineasta e Historiador. Membro da ACECCINE (Associação Cearense de Críticos de Cinema). É viciado em listas, roer as unhas e em assistir mais filmes e séries do que parece ser possível. Tem mais projetos do que tem tempo para concretizá-los. Não curte filmes de dança, mas ama Dirty Dancing. Apaixonado por faroestes, filmes de gângster e distopias.