Dezesseis Facadas – É terror, é sci-fi, é comédia e é o máximo

Tal qual o mês de dezembro é marcado por aventuras de Natal sobre crianças que ficam sozinhas em casa, outubro traz com ele uma enxurrada de filmes de terror que aproveitam o Dia das Bruxas pra lotar salas de cinema e, agora, os canais de streaming.

Nesse embalo, a aposta do Prime Video foi Dezesseis Facadas (Totally Killer, 2023), dirigido por Nahnatchka Khan, de Meu Eterno Talvez (Always Be My Maybe, 2019) e estrelado por Kiernan Shipka, eternizada (ao menos em meu coração) por seu papel em O Mundo Sombrio de Sabrina (Chilling Adventures of Sabrina, 2018 – 2020).

Dessa vez Kiernan vive Jamie Hughes, filha de Pam (Julie Bowen), única sobrevivente de uma série de assassinatos que aterrorizou sua cidade mais de 30 anos atrás. Na ocasião, um assassino mascarado teria matado três adolescentes à golpes de faca (mais precisamente, 16 golpes), melhores amigas de Pam. Atualmente, tal cidade vive de um turismo decadente, que se apoia no mistério do final dos anos 1980, já que o assassino nunca foi descoberto.

Surpreendentemente (ou nem tanto), o criminoso volta na véspera da noite de Halloween de 2023 para  concluir o trabalho que começou, matando Pam. Tentando descobrir quem é o algoz  de sua mãe, Jamie acaba entrando por acidente em uma máquina do tempo e vai parar no ano em que ocorreram os assassinatos originais. Assim, ela tenta impedir que eles aconteçam para que sua mãe seja salva no futuro.

Como assim “máquina do tempo”?

Eu não sou capaz de imaginar o quanto pode ser difícil pensar em ideias criativas quando se fala em cinema de terror. Ainda mais se tratando do subgênero slasher. Aqui, os roteiristas buscaram um caminho menos convencional: a ficção científica. Mas, não só isso.

Dezesseis Facadas tenta ser um pouco mais que um filme de terror. Ele junta mistério, sci-fi, dramas adolescentes e… comédia! E talvez seja essa sua carta coringa. Não fosse esse um filme abarrotado de diálogos nonsense e tantas outras coisas esquisitas, que satirizam, na voz da personagem de Kiernan, as decisões idiotas que os personagens tomam, mesmo sabendo que há um assassino à solta, seria muito difícil digerir os furos de roteiro e as absurdas conveniências que esse roteiro furado nos entrega.

A mais evidente delas é, justamente, uma oportuna máquina do tempo em um parque de diversões. Criada por uma adolescente que se baseou nas anotações que a mãe dela fez na adolescência, lá nos anos 80, a máquina funciona bem quando uma faca atravessa seu painel! Faz sentido? Nenhum! Mas diverte e entrega uma cena de perseguição tão tensa quanto engraçada. E como essa conveniência é apenas mais uma dentre tantas outras – e acontece num momento em que você já está se ambientando com o enredo – não nos custa mais nada, nesse momento do filme, que não seja desapegar da descrença e simplesmente aproveitar o que está por vir.

A nada politicamente correta década de 1980

Muito provavelmente por conta de seu orçamento enxuto, o filme da Blumhouse em parceria com a Amazon Studios se esforça muito em apelar para o carisma. Não parece tarefa difícil para Kiernan. Prestes a completar 24 anos, ela convence bem como adolescente e uma das melhores sacadas do thriller é a sensação de deslocamento que ela sente por estar no passado.

Diferente do que faz, por exemplo, De Volta Para o Futuro (Back To The Future, 1985) que, inclusive, foi feito nos anos 80, Dezesseis Facadas tem o olhar de uma garota dos anos 2020 em uma década que a maioria das coisas que consideramos desrespeitosas hoje, era permitidas. E esse humor ácido, que mostra o quão perturbador e invasivo era o comportamento daquela época, chama a atenção para coisas que, felizmente, deixamos de naturalizar. É confortante perceber esse tipo de consciência.

Ao mesmo tempo, também é incômodo perceber que algumas coisas não evoluíram tanto, a não ser pelo modo de operação. O que muitas pessoas fazem, atualmente, mascaradas por redes sociais e perfis falsos na internet, não difere tanto dos comentários ácidos retratados nesse filme, proferidos palas adolescentes dos anos 80 que acabam mortas pelo assassino mascarado. O que nos faz torcer, um tanto, a favor de seus destinos fatídicos. Eu já comentei algo desse tipo no texto que fiz sobre Halloween Ends (2022).

Uma farofa gostosinha

Se você, assim como eu, ama cinema de terror slasher e gosta de referências, Dezesseis Facadas pode ser um deleite. Além de toda graça que ele faz com as incongruências de se voltar no tempo e tudo o mais que poderia dar errado quando se tenta mudar o passado, o filme está super recheado de citações, diretas e indiretas, à filmes como Sexta-feira 13 (Friday The 13th, 1980), Pânico (Scream, 1996) e o próprio Halloween – A Noite do Terror (Halloween, 1978).

De certo, apesar de divertido, o filme do Prime Video passa longe de ser um grande filme de terror. É provável que, com passar do tempo, se ele envelhecer bem, acabe se tornando um desses nostálgicos filmes de “terrir”, como fez Uma Noite Alucinante 2 (Evil Dead II, 1987) – sendo que o mais atual já nasceu com essa pretensão.

Seja como for, ele garante ótimos momentos e é, sem sombra de dúvidas, um delicioso passatempo: nonsense, ri de si mesmo, não faz muito sentido e é cheio de conveniências. Divertido, o filme acumula 86% da crítica especializada no site dos tomates, contra 80% da audiência e está disponível no Prime desde o dia 06 de outubro. Se você gosta de ver adolescentes fugindo de mascarados com facas e ainda rir desse universo ilógico, ou até se você for do tipo que adora procurar easter eggs e perceber referências, Totally Killer vale o play. Só não o leve muito a sério!


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