Loki: 1ª Temporada – Sobreviver a esse custo?

Apresentado no quarto filme do MCU, Thor (2011) de Kenneth Branagh, o personagem de Tom Hiddleston roubou a cena como o antagonista Loki e retornou no primeiro filme da quadrilogia Os Vingadores (The Avengers, 2012). Durante sua saga dentro do MCU o personagem fingiu morrer diversas vezes, perdeu a mãe por sua própria arrogância e egoísmo, perdeu o pai por uma razão similar, perdeu seu lar e finalmente teve sua história encerrada sob as mãos do vilão da Saga do Infinito – Thanos – em Vingadores: Guerra Infinita (Avengers: Infinity War, 2018). Amado por muitos fãs, o vilão transformado em anti-herói, poderia ter ganhado seu projeto solo há muito tempo como os fãs vinham pedindo desde Vingadores.

Quando sua série solo foi anunciada, a sensação foi semelhante àquela de quando resolveram anunciar o filme da Viúva Negra após a morte da personagem. Era tarde demais, o tempo já havia passado, o próprio personagem nem sequer estava mais vivo. Após os eventos de Ultimato o Loki vivo passou a ser aquele mesmo do filme de 2012, literalmente ao meu ver a pior versão do personagem pois saiu da óptica de um diretor incapaz de trabalhar a complexidade de um antagonista como ele. 

A cada detalhe saindo sobre o seriado lembro bem de não saber o que esperar, não ter exatamente muito expectativa para a série do que já foi o meu personagem favorito do MCU. Uma das minhas poucas referências sobre viagem no tempo prévias à série era Doctor Who (2005 -), uma grande série capaz de realmente trabalhar bem o conceito de viagem no tempo e paradoxos temporais. Mas quando eu fui ver Loki me lembro constantemente da expectativa de assistir o episódio da semana seguinte, esperando algo finalmente acontecer. Bem, foi uma sensação constante durante os quatro primeiros episódios, o desejo de ver mais, de acompanhar mais, mas nada disso vinha.

Imagina poder explorar diversas linhas do tempo ao longo de vários episódios, mal ser capaz de permitir um personagem passar mais de quinze minutos numa só época. Exceto por aquele planeta que ninguém liga, que ninguém conhecia, presente no episódio três e quatro do seriado. Era um lenga lenga que não acabava mais, levaram metade da temporada para sequer apresentar um enredo mais sólido com a motivação da personagem antagonista da série e seu plano. Tudo parecia muito perdido, até meio chato, levando em consideração a importância do personagem e o quanto os fãs pediam uma série dele ao longo dos anos. 

Mas se o enredo não andava a tempo, a série apresenta personagens bem interessantes e complexos. A primeiro olhar víamos uma coisa bem simplista de seus personagens, algo mais preto no branco, mas aos poucos o desenvolvimento do seriado conseguiu desenvolver os caminhos e personalidades dos personagens. No final o enredo entedia um pouco, mas os diálogos e as atuações fazem da série algo menos enfadonha. Seria interessante utilizar mais dos conceitos de outras linhas do tempo, viagem no tempo, mas não vemos muito disso aqui. 

Se não fosse pela tridimensionalidade da personagem da atriz Gugu Mbatha-Raw, líder da AVT, capaz de fazer escolhas moralmente duvidosas e nos fazendo a odiar, ou pelo carismático Owen Wilson como Mobius, o agente da AVT com quem faz amizade, o seriado não seria o mesmo. Além destes dois, temos também a presença de uma atriz de Lovecraft Country (2020), Wunmi Mosaku, como uma personagem original – até o momento – chamada Caçadora B-15. Esses personagens tornam toda a história da AVT, uma organização responsável por cuidar das linhas do tempo, mais interessante. Se não fossem por eles, suas relações e fidelidade à organização, o peso da trama envolvendo a AVT não seria o mesmo. 

Quando a série chega aos seus últimos episódios, eu finalmente fui capaz de me sentir animado, de gostar daquilo na minha tela em vez de ter expectativa para o que estava por vir. Para não mergulhar em mais spoilers, posso dizer que são meus episódios favoritos pela direção de arte, pelos diálogos, os ambientes e os roteiros. São os episódios com maior número de participações especiais dentro da série, de personagens não do MCU, mas dos quadrinhos. Episódios divertidos de se ver. 

Agora um parágrafo específico para a outra protagonista deste seriado, chamada Sylvie e interpretada por Sophia Di Martino. Ela é a variante do personagem titular e a antagonista primária da temporada. Posso dizer com o maior alívio e tranquilidade, sem essa personagem o enredo não andaria, além de todo o enredo geral da série, ela também carrega o enredo dramático consigo. É bem mais fácil ter alguma empatia por ela do que pelo Loki protagonista interpretado por Tom Hiddleston, especialmente por esse Loki ser algo do passado e que não traz o apego emocional dos anos de desenvolvimento do personagem. 

Um problema com a existência da Sylvie é simples: o Loki é uma mulher. Assim como Loki é um homem, ele é uma mulher, ele é ambos e nenhum, isso se chama ser gênero fluído. Isso é algo dos quadrinhos, é algo extremamente importante para o personagem, mas o MCU foi lá e fez uma personagem original para mostrar como o Loki ser uma mulher muda tudo. Isso cai numa outra crítica minha à série, uma fala sobre o personagem ser bissexual no episódio três, enquanto todo o enredo é pautado exatamente na grande reviravolta de Loki se apaixonar por uma variante sua, um homem por uma mulher. A versão feminina de Loki nos quadrinhos não é uma variante, é literalmente o mesmo Loki se apresentando sob uma estética de gênero diferente. O MCU falha com pessoas trans, assim como falha com pessoas bissexuais em uma só série. 

Bem, você pode assistir Loki no Disney+, mas honestamente é uma atividade pela qual eu não teria muita ansiedade quando se tem tantas obras melhores sobre viagem no tempo como Paper Girls (2022), Doctor Who e outras, em diferentes lugares pra você assistir. Séries estas capazes de não falar só sobre ficção científica mas trazer uma visão importante e sólida sobre problemas atuais. 


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