Viúva Negra – Não uma despedida honrosa, mas um legado a seguir

Apresentada pela primeira vez no filme dirigido por Jon Favreau, Homem de Ferro 2 (Iron Man 2, 2010), a personagem de Scarlett Johansson era uma agente dupla, seguindo ordens dadas por Nick Fury, diretor da S.H.I.E.L.D. interpretado por Samuel Jackson. A priori, um elemento de objetificação para o protagonista de daquele filme, uma femme fatale revelada como uma espiã infiltrada. Desde sua estreia no Universo Cinematográfico da Marvel, a personagem teve pouco aprofundamento em sua história ou seu desenvolvimento.

Natasha segue uma trajetória onde a espiã da Sala Vermelha frequentemente era associada aos enredos de personagens masculinos, raramente tendo a sua trajetória própria até se sacrificando em prol do personagem Clint Barton (Jeremy Renner) em Vingadores: Ultimato (Avengers: Endgame, 2019). Com um grande destaque entre os fãs, que clamavam por um filme solo desde 2010, quando ela teve aquela primeira aparição nas telonas, a Viúva Negra teve um final incapaz de explorar sequer um pouco seu material de origem. 

[Para saber mais sobre as histórias de Natasha Romanoff nos quadrinhos, a personagem fez parte de uma coletânea de textos no nosso site sobre personagens femininas mal aproveitadas.]

No filme dirigido por Cate Shortland, temos finalmente a personagem tendo o foco necessário, assim como explorando e desenvolvendo ao máximo sua personalidade. Bem, ao máximo possível porque, como citado anteriormente, a trajetória de Natasha Romanoff já chegou ao fim no MCU. Mas bem, falando muito menos sobre o enredo e evitando ao máximo estragar a possível experiência dos leitores deste texto, vamos focar em como o filme cuida bem de seus personagens. 

Quando falo sobre cuidar bem é exatamente sobre como os personagens têm seus propósitos dentro de uma trama e esses papéis são revelados nos primeiros minutos do filme. Seguindo uma jovem Natasha, interpretada por Ever Anderson, logo temos o conhecimento sobre quem essa garota iria se tornar. Nestes primeiros momentos de filme, vemos o fogo interior de Natasha, mesmo contra enormes adversidades. Uma incrível montagem de créditos iniciais nos mostra exatamente como a jovem se tornou uma Viúva Negra e o processo realizado pela Sala Vermelha. Aqui, sinto a necessidade de ressaltar o quanto o filme trata de temáticas importantes e até maduras demais em comparação aos demais filmes do MCU. 

Nossa protagonista escolhe o isolamento após os eventos de Capitão América: Guerra Civil  (Captain America: Civil War, 2016), e essa é a melhor parte do filme. O distanciamento de Natasha Romanoff de todo o drama dos personagens masculinos dos Vingadores é muito bem vindo e nos dá a experiência por muito tempo roubada de a ver por quem ela é, por si só. Até o próprio filme debocha sobre como Natasha frequentemente parecia servir a um papel e não éramos capazes de ver ela de verdade, mas apenas “uma personagem”. Até Cate Shortland chegar na jogada, a personagem de Scarlett Johansson só havia sido dirigida por homens – um deles, infelizmente, o mesmo responsável pela versão cinematográfica de Liga da Justiça.

Aqui temos um filme recheado de ação. De verdade, são pouquíssimos os intervalos dentro da trama para algo que não seja ação, perseguição, luta, explosões. Misturando elementos de espionagem como clássicos filmes do gênero, Viúva Negra (Black Widow, 2021) se consagra como um verdadeiro filme de ação recheado de lutas bem ensaiadas e visuais fantásticos. A forma como o filme é capaz de explorar os elementos do gênero de ação com uma personagem protagonista feminina é de realmente se admirar, como muitas vezes os filmes de ação tornam suas personagens mulheres alvo de objetificação. Para quem não havia dirigido um filme de ação, Cate Shortland fez um trabalho realmente magnífico com a primeira super heroína apresentada ao MCU. 

Para uma personagem capaz de se sacrificar porque ela não tinha uma família e seu companheiro de equipe tinha, o filme de fato ignora um dos maiores problemas que eu particularmente tenho com Ultimato. Fomos apresentados a uma família para a Viúva Negra, mais uma vez ao longo do MCU falando sobre como famílias não precisam ser perfeitas ou ter laços de sangue. Rachel Wheisz faz o papel de Melina, figura materna, e uma habilidosa cientista capaz de – como uma Viúva Negra – ser capaz de lutar contra ciclos viciosos em sua vida. 

Um dos pontos mais altos desse filme é a personagem Yelena Belova, normalmente uma antagonista e rival de Natasha nos quadrinhos, mas aqui uma verdadeira irmã. Florence Pugh a interpreta de uma forma única e cativante, a personagem é uma ótima (e também muito importante) adição ao Universo Cinematográfico da Marvel. Nos resta agora ver ela seguindo os passos – ou indo na direção oposta – de sua irmã mais velha falecida, e esperar pela germinação de mais uma potencialmente incrível personagem feminina nesse universo, torcendo que ela receba o desenvolvimento não recebido por Natasha ao longo dos anos. 

Um ótimo filme, que mistura elementos de ação, espionagem e aborda temáticas relevantes, mas decepciona quando se trata de se despedir de Natasha. O filme nos instiga para seguirmos mais aventuras da super espiã e os seus personagens de apoio, algo não mais possível com a saída de Scarlett Johansson do papel. Mas como consequência temos uma inevitável passagem do seu legado para sua família, uns mais do que outros. 

O filme estreou nas salas de cinema e também no Premiere Access do Disney+.


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