Stranger Things 4 – Mais maduro e mais sombrio

 

Não é só o elenco jovem de Stranger Things (2016 -) que está visivelmente mais maduro. A série retorna em sua quarta temporada mostrando que sabe muito bem onde está indo e como nos fisgar pelo caminho. Nesse novo ano da série, os Irmãos Duffer desdobram consequências da terceira e trazem também algumas novidades interessantes:

Onze, que junto de Joyce (Winona Ryder) e a família, deixou Hawkins ao final da temporada anterior, agora mora na ensolarada Califórnia. Somos apresentados a essa nova cidade e rotina e percebe-se que a personagem de Millie Bobby Brown se sente mais deslocada e perdida na nova escola onde é frequentemente vítima de bullying por um grupo de garotas. Todo o progresso que parecia ter acontecido anteriormente se perde aqui nessa tentativa de recomeço. Ela está longe de Mike (Finn Wolfhard) e, de certa forma, longe também de entender quem ela realmente é.   

Já para o núcleo de Hawkins, Mike, Dustin (Gaten Matarazzo) e Lucas (Caleb McLaughlin) entraram para um clube de RPG chamado Hellfire Club, é nele que conhecemos o que viria a ser um dos grandes, senão o maior, destaque dessa temporada, Eddie Munson (Joseph Quinn), o famigerado mestre do grupo. Lucas, no entanto, parece querer outras coisas agora e entre a grande final da campanha de Dungeons & Dragons e seu novo time de basquete, ele decide disputar a partida, mesmo que sempre fique no banco dos reservas. 

Além destes dois núcleos, temos também o arco de Hopper (David Harbour), que ao ser trazido de volta depois de sua suposta morte, precisava retornar à Hawkins de alguma forma. Nós o encontramos sendo mantido preso pelos Russos, tentando emplacar um plano de fuga.

E essa divisão vai se dar durante quase toda a temporada, com Mike indo visitar Eleven e integrando o núcleo Califórnia logo no primeiro episódio. Essa decisão foi, para muitos, prejudicial para o ritmo da série. Pessoalmente, todavia, não chegou a me incomodar. Embora exista sim uma óbvia predileção, desde a primeira temporada, pelo núcleo das crianças (que posteriormente meio que virou o núcleo Hawkins), os demais personagens me intrigam e me importam também, quase que na mesma medida, então nenhum núcleo chegou a ser um fardo de verdade. 

Outro ponto ligeiramente polêmico para o público foi a divisão da temporada em duas e a duração de longa-metragem de alguns episódios que, de novo, não pesaram em nada pra mim. Me peguei, inclusive, checando quantos episódios ainda restavam antes da primeira parte acabar, com medo de acabar rápido demais. A direção é inventiva e o ritmo da montagem dos episódios me pareceu, pelo menos na primeira parte, bem eficaz. Com destaque para as eletrizantes sequências de ação da invasão na casa dos Byer e da fuga de Onze do laboratório. Sem falar do melhor episódio de toda a série até agora, “Querido Billy” que desenterrou o hit Running Up That Hill (A Deal With God) e apresentou Kate Bush para toda uma geração de tiktokers.

Já a segunda parte não pode dizer o mesmo, ali sim temos um recorte que parece muito mais inchado e arrastado, principalmente no momento mais decisivo. Ainda assim, nada que comprometa muito o que foi feito até aqui. Em quase 13 horas de percurso, é um deslize aceitável, eu diria.

Outro ponto alto da temporada para mim foi ter abordado bem o Satanic Panic, muito em voga nos anos 80, principalmente no contexto do RPG e o modo como os personagens da cidade, como Jason (Mason Dye) e o resto dos adultos se envolveram com o tema. De pontos negativos, destaco a quase inexistente participação de Jonathan Byers (Charlie Heaton) na trama que parece estar recebendo o tratamento inverso ao de Steven (Joe Keery) no quesito desenvolvimento de personagem. Seu único espaço para brilhar é quando contracena com o Will de Noah Schnapps

Me preocupa também a trajetória de Mike, sinto que a liderança e importância dele para aquele grupo que conhecemos na primeira temporada, cujo papel inclusive é enaltecido por Will em uma das mais importantes linhas de diálogo da série, tem parecido cada vez mais imposta do que mostrada em cena, o que sempre é um problema, porque nós, espectadores, não sentimos o mesmo peso que os personagens, a coisa toda vem esvaziada de sentido. 

Entretanto, eu quero aguardar a próxima temporada pra saber exatamente onde tudo isso vai dar e como essas questões e outras problemáticas da série vão se resolver. De modo geral, o grande trunfo de Stranger Things é que, independente dos personagens que se despedem, os que chegam e os que voltam, eles sempre conseguem fazer com que eu me interesse o suficiente para esperar a próxima aventura ansiosamente. 


VEJA TAMBÉM

10 filmes para ver após terminar a Parte 1 da 4ª temporada de Stranger Things

Stranger Things 3 – Crescer dói 

#64 – Falando Série, vimos Stranger Things 4