As categorias do Oscar que menos atraem atenção e mais despertam aquele sentimento de “anda logo, quero ver logo se a Meryl Streep ganha de novo” provavelmente são as dos curtas-metragens, com toda certeza por serem filmes de difícil acesso e poucas pessoas conseguirem assisti-los, mas graças a nossa (nem sempre) querida internet e às plataformas de streaming, essa realidade tem mudado e temos conseguidos assistir a alguns desses filmes, como os de animação que vou falar aqui.
Toca
(Burrow, 2020)
Dirigido por Madeline Sharafian, Toca preenche a cota anual da Pixar nessa categoria, sendo o curta que teria estreado junto com Soul (2020) nos cinemas. Como a maioria dos curtas que passam antes dos longas da empresa, a primorosa animação 2D que conta a história de uma fofa coelha, não tem diálogo nenhum, mas é muito lúdica e didática em sua mensagem.
A coelha tem uma tarefa muito simples, construir sua casinha, sua toca, mas acaba esbarrando em vizinhos e suas próprias casas o tempo todo e começa a duvidar um pouco de seu próprio projeto.
Em um extra do curta, Madeline diz que o filme fala sobre algo que ela tenta trabalhar muito em si mesma: saber pedir ajuda. Tudo bem não conseguir fazer algo sozinhe e precisar de uma mão ou mesmo uma orientação, você pode pedir ajuda se precisar e é essa a lição que a coelha aprende.
Toca pode ser assistido no Disney+ junto com outros curtas muito legais na coleção Sparkshorts, projeto da empresa que incentiva produções dos funcionários.
Se Algo Acontecer… Te Amo
(If Anything Happens I Love You, 2020)
Dirigido por Michael Govier e Will McCormack, esse provavelmente foi um dos curtas mais assistidos nos últimos tempos, por ter estreado na famosa locadora vermelha, de certo modo ele explodiu. Streamers reagiram, inúmeros vídeos e críticas surgiram pela internet, algo que eu nunca imaginei de uma animação independente de 12 minutos.
A animação 2D conta com uma semiótica muito eficiente e símbolos fáceis de entender para contar a história de um casal que está passando por uma crise em seu relacionamento e tentando conviver com o pior tipo de dor, a emocional, a psicológica. Ao longo de flashbacks começamos a entender o que aconteceu, mas talvez nada nos prepare para o impactante final.
Com uma animação bonita, uma linguagem sofisticada e trazendo um tema muito relevante, ainda mais para os Estados Unidos, em sua pequena duração, acredito que esse seja o filme a levar o prêmio.
Se Algo Acontecer… Te Amo pode ser assistido na Netflix, assim como alguns outros curtas e media-metragens.
Yes-People
(Já-Fólkið, 2020)
Dirigido por Gísli Darri Halldórsson, que trabalhou em outros curtas indicados ao Oscar, esse talvez seja o filme que está mais atrás na corrida pela estatueta.
O curta 3D é modesto e pautado no humor do cotidiano de um prédio onde a única coisa que as personagens dizem é “já” (“sim” em islandês), mas em diferentes tonalidades e modos de falar a mesma palavra, então nem sempre ela expressa a mesma coisa.
Segundo o diretor, os islandeses são frequentemente chamados de “yes-people”, ou “pessoas do sim” por seus vizinhos das Ilhas Faroé, um território dinamarquês, por ser justamente uma palavra muito usada pelo povo, mas que muda dependendo do contexto, daí teria vindo a ideia das falas que surgiria apenas depois no processo.
As personagens têm realidades e rotinas bem diferentes entre si, tornando cada espaço que teoricamente é igual, único. O desafio é simplesmente viver o dia mesmo naquele clima frio e escuro de inverno. A rotina segue normalmente até que no final, algo que acontece em um apartamento acaba atravessando todos os outros.
O cotidiano do prédio me fez pensar até mesmo sobre o que será que meus vizinhos de cima estão fazendo agora?
Yes-People pode ser assistido bem aqui, no canal do Youtube do The New Yorker.
Genius Loci
(2019)
Dirigido por Adrien Mérigeau, que trabalhou em A Canção do Oceano (Song of the Sea, 2014) é o diferentão da categoria e o mais experimental, de longe, mas também o mais poético.
Com influência cubista e uma trilha sonora muito bem trabalhada (feita pelos pais do diretor, inclusive) acompanhamos Reine, uma jovem poetisa que transita por uma Paris caótica e noturna, repleta de símbolos. O estilo que busca simular um caderno de esboços, para demonstrar algo pessoal, a visão de mundo da pessoa, revela bem seu aspecto introspectivo, estamos dentro da cabeça da protagonista que segue um fluxo ao mesmo tempo em que não consegue se conectar com nada.
É aquele famoso tipo de filme “que não é para todo mundo”, você precisa se abrir e entender que é uma experiência, apesar de existir uma narrativa, ela não é o foco.
Genius Loci ainda está circulando por festivais então para assisti-lo você tem que se ligar nos festivais de animação ou de cinema fantástico, o filme esteve disponível com legendas em português, online e de graça durante o Fantaspoa 2021, onde foi premiado.
Opera
(2020)
Dirigido por Erick Oh, que já trabalhou na Pixar, Opera foi o último que consegui assistir e talvez o que eu tenha gostado mais. É o meu favorito apesar de achar que tem poucas chances.
O curta foi pensado para ser exibido em loop, ou seja, funciona como um ciclo que ao terminar você pode reassistir infinitas vezes. O formato se deve por ter de fato, uma história cíclica, a história de uma sociedade, ou talvez da própria humanidade, com suas alegrias e conquistas, mas também suas catástrofes, e tudo isso acontece de novo e de novo, sem parar porque as pessoas tomam sempre as mesmas decisões e atitudes.
Para ajudar na visualização, a história se passa em uma pirâmide com diversos setores interligados, que dependem um do outro para funcionar e se influenciam. Os personagens transitam entre esses setores, realizam várias tarefas e seguem para a próxima, sem nunca ter um fim.
Opera é um filme para ver e rever, voltar um pouquinho e ver aquilo de novo, pausar e prestar atenção em como aquele detalhe estava ali o tempo todo sem você notar, por horas sem você se cansar.
O curta também está circulando em festivais então é preciso atenção a estes para poder assistir.
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Bacharel em Cinema e Audiovisual, roteirista, escritora, animadora, otaku, potterhead e parte de muitos outros fandoms. Tem mais livros do que pode guardar e entre seus amigos é a louca das animações, da dublagem e da Turma da Mônica. Também produz conteúdo para o seu canal Milady Sara e para o Cultura da Ação TV.