Amigas Para Sempre (Firefly Lane, 2021), mais nova série da Netflix, foi um sucesso de audiência em sua semana de estreia, figurando no Top 10 do serviço de streaming no Brasil. Eu sequer tinha visto o anúncio da série na aba de novidades do serviço e, portanto, não tinha ativado a notificação para a estreia, como sempre faço. Comecei a ver a série por indicação da minha irmã: “Tem uma série que comecei a ver, é legal. Coloca aí.” Pus o primeiro episódio, o segundo… Ao terminar, eu fiquei curiosa sobre a estória. Queria saber mais sobre as duas amigas que se conheceram na adolescência e, trinta anos depois, ainda mantinham um laço forte de amizade.
E então, noite após noite (por cinco delas seguidas), eu vi todos os episódios (dez no total). E a cada um deles eu conhecia mais dessas duas amigas. A narrativa é contada em terceira pessoa. O tempo em que se passa a estória recente de Tully Hart (Katherine Heigl) e Kate Mularkey (Sarah Chalke) é o ano de 2004. Ambas são jornalistas formadas. Porém, apenas Tully exerce a profissão, enquanto apresentadora de um programa de grande audiência e, portanto, muito famosa. Kate dedicou-se ao casamento com o então produtor de TV Johnny Ryan (Bem Lawson), mas está em processo de divórcio e deseja retornar ao mercado de trabalho. O Flashback é um recurso muito presente na narrativa e é através da revelação dos acontecimentos do passado que nos aprofundamos na história pregressa dessa amizade e de cada uma das personagens.
Há três períodos distintos explorados pela série: o ano de 1974, quando as duas adolescentes se conhecem e iniciam a amizade, então com 14 anos de idade, na Alameda dos Vaga-Lumes (que dá nome à série e ao livro, no original em inglês); o período em que estão na faculdade, dez anos depois, por volta de 1984; e a atualidade, no caso o ano de 2004, quando elas têm por volta de 44 anos de idade. Cada período apresenta situações envolvendo as amigas, juntas ou separadas, que de alguma forma impactaram em suas atuais posturas diante da vida. E talvez por isso muitos espectadores possam ter se identificado com a estória (eu mesma, por exemplo). Com certeza uma maioria de mulheres nesse público, porque, apesar de ter um aspecto “filme da sessão da tarde” (pelo estilo similar às comédias e dramas românticos), a série aborda temas difíceis como assédio sexual, estupro, aborto, homofobia, e atuais: mulheres bem sucedidas e independentes, sexo casual, etc.
A série desenvolvida por Maggie Friedman é baseada no romance Firefly Lane escrito por Kristin Hannah, que se tornou best-seller logo após seu lançamento em 2008. E, embora não colabore diretamente na escrita do roteiro, Kristin Hannah é co-produtora executiva da série, assim como a atriz Katherine Heigl. O livro conta a estória das três décadas de amizade de Tully e Kate de forma linear, encerrando-se num único livro. Já a série, finda a primeira temporada com uma pergunta em aberto, indicando que será respondida na segunda e quem sabe, uma terceira temporadas.
É normal que narrativas seriadas deixem questões em aberto. É por isso que ficamos aguardando ansiosos pelas próximas temporadas. Mas a forma que Maggie Friedman opta por fazer ao final da primeira temporada de Amigas Para Sempre, é bastante abrupta. Causa um estranhamento. Todo o último episódio vai encerrando assuntos tratados durante toda a temporada e deixando em aberto outros (a carreira de Tully, por exemplo), mas a última cena deixa uma grande dúvida (já sugerida em episódios anteriores) e que pode significar o fim da amizade entre Tully e Kate. Passa a impressão de que havia mais a ser dito e foi “cortado” bruscamente.
Embora o final seja inesperado e deixe a desejar, o drama conquista pelo carisma das protagonistas. Tully e Kate são o completo oposto uma da outra, uma tímida, contida e a outra extrovertida, falante, e talvez aí esteja o equilíbrio dessa relação de amizade que é tão duradoura. Elas têm desejos distintos em relação à vida, mas estão sempre presentes na vida uma da outra. Kate é sempre muito compreensiva sobre as atitudes de Tully, parecendo levar em conta o que ela viveu no passado (a irresponsabilidade da mãe, entre outras coisas). Tully está sempre buscando por atenção, mas demonstra à sua maneira, o carinho pela amiga. Uma relação de altos e baixos, realizações e decepções. Como acontece com todos nós. A vida não é plana. E a gente percebe, conforme envelhece que não cabe julgar o comportamento do outro, porque há muito mais na construção da personalidade e forma de agir de alguém, do que se possa imaginar.
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Bacharela em Cinema e audiovisual, adora maratonar séries e salvar vários filmes na lista da Netflix. Ama filmes clássicos e estórias com reflexões profundas. Às vezes escreve sobre audiovisual!