Era Uma Vez Um Sonho – Persistência ou desistência?

O desejo de se formar e de ser um profissional de sucesso. Quantos de nós não almejamos isso em um momento da vida? Muitos, com certeza. Alguns conseguiram, outros estão tentando. O protagonista de Era Uma Vez Um Sonho (Hillbilly Elegy, 2020), está nessa busca. J.D. Vance (Gabriel Basso) vê na carreira profissional a possibilidade de conquistar seu sonho de uma vida melhor. E se você passou o mínimo de dificuldades na vida em busca dos próprios objetivos e em especial, como eu, para cursar uma graduação, você entende que sentimento é esse. É por esse motivo que muitos vão se identificar com o personagem. Sejam aqueles que se encontram nessa fase da vida no momento ou que já passaram por ela. 

O Antagonista dessa narrativa é a mãe de J.D., muito bem interpretada por Amy Adams. Bev Vance é uma enfermeira desempregada viciada em drogas, além de emocionalmente instável. No desenrolar da estória vamos descobrindo uma série de acontecimentos que contribuíram para que ela chegasse a esse ponto. Inclusive há um ciclo de violência doméstica nessa família. Bev também deixa claro, por vezes, sua insatisfação com a própria vida e sempre atribui isso ao fato de ter tido filhos. E, ao mesmo tempo em que sentimos raiva da mãe pela forma como ela age, não a culpabilizamos, talvez por um sentimento de compaixão.

O filme, dirigido por Ron Howard, com roteiro adaptado por Vanessa Taylor a partir do livro “Era uma Vez um Sonho: A História de uma Família da Classe Operária e da Crise da Sociedade Americana”, escrito pelo próprio J.D. Vance, traz muitas violências e escancara injustiças sociais. Mesmo se tratando de um núcleo familiar específico, consegue trazer nele a representação de muitas famílias que vivem ou viveram circunstâncias semelhantes. A exemplo da avó, Mawmaw Vance (Glenn Close), que aceita criar o neto e permite, com isso, que ele tenha um futuro diferente do resto da família. Algo muito comum se tratando de famílias grandes e pouco abastadas. 

J.D. se depara com a difícil decisão: seguir sua vida pensando unicamente na carreira e esquecer os problemas do passado (se sentindo um egoísta) ou voltar para sua cidade natal (onde já não se encaixa mais) e auxiliar a mãe doente, mesmo sabendo que provavelmente será em vão. Ele faz uma escolha e nós, espectadores, ficamos a todo momento pensando se ele terá sua carreira prejudicada por ela ou não, visto que o título do filme (em português) “Era uma vez um sonho” é bastante ambíguo. Eu fiquei apreensiva até o final!

J.D. é um personagem real e é, inclusive, quem narra a história, visto que o livro onde foi baseada é de sua autoria. Porque esse é um filme do gênero biopic (biográfico), o meu preferido. Ao final, o filme traz uma atualização da vida dessa família, com imagens de arquivo. E é impressionante a semelhança do elenco com os personagens reais: a família Vance! Excelente trabalho de caracterização (Maquiagem e figurino) e de atuação, em especial para Glenn Close e Amy Adams!

Certas escolhas na vida precisam ser muito bem pensadas. Para quem olha “de fora” é aparentemente fácil. Mas conviver com o resultado dessas escolhas nem sempre é fácil assim. Por vezes precisamos ceder um pouco para ficarmos em paz com a decisão tomada. Não se pode ter tudo, então a gente tenta equilibrar aquilo que se pode ter.


VEJA TAMBÉM

Undine – A releitura moderna do mito

O Céu da Meia-Noite – O isolamento dentro de nós