His Dark Materials: Fronteiras do Universo – 2×06: Malice

No penúltimo episódio da temporada, nos deparamos com um que, apesar de ter muitos momentos e informações importantes, deixou destacados os pontos fracos da série, como se negar a mostrar a violência que a obra de Phillip Pullman retrata para manter uma classificação indicativa mais baixa e tirar das feiticeiras descobertas e conhecimentos. Até agora, mesmo com ótimos momentos, esse episódio foi o pior (ou o “menos melhor”) da temporada para mim. 

Jamie Childs,que dirigiu os dois primeiros episódios desta temporada, retorna agora para dirigir os dois últimos, assim como fez na primeira. Jack Thorne volta para o roteiro, dessa vez em parceria com Lydia Adetunji, que escreveu alguns episódios de A Cor do Poder (Noughts + Crosses, 2020-), nova aquisição do Globoplay e que temos texto sobre bem aqui.

Muito terreno precisa ser preparado para o season finale e o episódio faz isso bem, com todos os personagens agora em Citagazze. Mas já é possível perceber que a falta do oitavo episódio centrado em Lorde Asriel (James McAvoy), cancelado por conta da pandemia, começou a afetar a montagem desses momentos finais. A direção de arte depois de uma Citagazze tão linda e detalhada acabou entregando uma floresta que me pareceu falsa, mas a fotografia continua caprichando em sua composição e mostrando por si só muita coisa. 

Certas escolhas de roteiro e direção me incomodaram ao longo do episódio, mas isso vou comentando ao longo desse (longo) texto, mas claramente temos alguns problemas em transmitir emoções.  No mais, Lee Scoresby (Lin-Manuel Miranda) e Jopari (Andrew Scott) são os maiores destaques desse penúltimo episódio com seus personagens interagindo durante a viagem de balão.

Começamos com as feiticeiras já no mundo de Citagazze vendo algo no céu que poderiam ser estrelas cadentes, mas elas reconhecem como anjos, seres poderosos que não se mostravam há séculos. Graças a nossa amiga Mary Malone (Simone Kirby) essa revelação não nos surpreende tanto, mas é a primeira vez que os vemos, mesmo que de longe, mas não será a último nos minutos seguintes. 

Então elas pensam que os anjos estão indo até Asriel, deixando um pouco no ar o quanto elas sabem da guerra que Jopari mencionou ou o quanto o roteiro está furado. Ruta Skadi (Jade Anouka) quer tentar trazê-lo de volta para a guerra contra o Magisterium, então voa até os anjos e aí… Nada. Eu fiquei muito feliz por alguns segundos, mas essa interação tão preciosa não foi mostrada. Provavelmente esse momento foi cortado por falta de espaço ou deveria estar no finado oitavo episódio.

Serafina Pekkala (Ruta Gedmintas) não se importa de deixa-la ir e fica com duas feiticeiras aleatórias ainda na busca por Lyra. Como Kat Barcelos bem mencionou em seu vídeo sobre o episódio, muito do que as feiticeiras descobrem ou sabem foi retirado delas, o que penso que talvez tenha reduzido o núcleo a só falar sobre a profecia.

Enquanto isso, Lyra (Dafne Keen) e Will (Amir Wilson) estão com problemas, já que a ferida de Will não melhorou e na verdade parece até ter piorado, ainda tendo visões sobre sua missão como portador, ele está bem doente e Lyra tenta ajudar como pode.

Nesse momento começa uma cena muito bem conduzida de início, com as crianças chegando para emboscar os dois liderados por Angelica (Bella Ramsey), de um jeito que deixaria os serial killers de filmes slasher orgulhosos, e surge uma urgência para fugir. Mas com dor e pressionado, Will não consegue usar a faca e são cercados pelas crianças, com destaque para Paola (Ella Schrey-Yeats), que chega com um incrível e mortal graveto para ameaçar os dois. 

Sinceramente esperava pelo menos pedras nas mãos daquelas crianças. Assim que Lyra e Will foram cercados a urgência se perdeu para mim, elas não estavam nada amedrontadoras apesar de fazerem suas melhores caras de malvadas. Mas então chega Serafina com seu olhar intimidador e assusta as crianças que desistem da vingança e vão embora. No fim, fica a sensação que o momento foi muito mal conduzido.

Então, todos vão para o meio da floresta ali ao lado da cidade, porque vale lembrar que teoricamente Citagazze está cheia de centenas de espectros, mas a mão de Will segue infeccionada. Temos um leve conflito, já que Will está muito receoso em confiar nas feiticeiras, mas Lyra sabe que são boas, se sente muito segura e diz para o amigo confiar nelas também. Em situações como essa sempre me vem que nossos protagonistas ainda são crianças e talvez o que Lyra mais queira agora é uma adulta que a guie, proteja e diga o que fazer. Serafina dá uma olhada na faca e pede a opinião das outras duas feiticeiras aleatórias, mas nenhuma tem muita reação, mas dizem que nunca viram nada assim.

Lyra e Serafina finalmente conversam, na série elas ainda não haviam tido contato direto e as feiticeiras querem levar a menina de volta para o mundo delas, tanto para curar Will – já que lá as plantas são mais poderosas -, como para mantê-la segura. O que não faz muito sentido. Se Lyra tem que cumprir um papel muito importante em uma profecia, como ela faria isso presa, confinada em algum lugar?

Depois, Will fica em um misto de egoísta e desconfiado, mas ainda quer procurar pelo pai só com Lyra. Consultando o aletiômetro descobrem que ele está perto, já está nesse mundo. Acontecem alguns desentendimentos entre Lyra e Will, o que eu gosto, pois os dois brigam como iguais, os dois são protagonistas dessa história realmente.

Em mais uma conversa com Serafina, Lyra fala sobre o aletiômetro e como descobriu que sua ligação com o objeto importa, assim, a feiticeira decide que tudo bem, os dois podem decidir o caminho e ela vai proteger a ambos (junto com as duas feiticeiras aleatórias, claro) e fala que Lyra não é incrível por ler o aletiômetro como muitos disseram, e sim por ser quem ela é.

Para ajudar o garoto, as feiticeiras decidem fazer um feitiço, já que só magia poderia curar uma ferida mágica. O ritual foi incrivelmente rápido e muito simples. Pelo que entendi tentaram fazer algo parecido com alguns ritos de cura do mundo real por isso o momento foi menos místico do que no livro, mas ainda assim, não durou nem um minuto direito. Mas depois Pantalaimon (Kit Connor) dorme ali do ladinho de Will, então tudo valeu a pena. E temos a informação de que o pai de Will está mais para cima.

Will simpatiza um pouco mais com Serafina, porque o feitiço funcionou e sua mão finalmente está ficando boa. Ela comenta com ele sobre a profecia de Lyra. Na verdade ela e Kaisa (David Suchet), que não sabem se a profecia o inclui, porque ela fala de um garoto que tem que seguir a jornada com ela, mas se não fosse Will, quem seria? De qualquer modo, agora eles são responsabilidades um do outro.

Depois temos uma interação bacana de Will e Lyra, de novo em uma espécie de jardim, falando sobre crianças más e comentando um pouco das suas infâncias, o que faz o garoto se abrir um pouco falando que já viu crianças agindo daquele jeito. O diálogo, porém, ficou um pouco ruim. Muito leve e até mais infantil do que no livro, onde Will conta que chegou a quebrar o braço de um colega da escola por conta de como ele tratou sua mãe e que esse foi um momento divisor para ele, como percebeu que tinha que se comportar e agir de um jeito que ninguém o incomodasse e a sua mãe.

E pela primeira vez, assistimos em maiores detalhes um ataque dos espectros, quando um deles ataca uma das feiticeiras aleatórias e que na verdade ninguém se importa, mas Will consegue espantar o monstro com a faca, embora ele não pareça vê-lo direito ainda. Mesmo assim, o ataque é claramente rápido, preciso e até violento. Segundo o HBO Extras, os espectros ali foram mandados pela Sra. Coulter (Ruth Wilson) que conseguiu fazê-los voar mais alto, mas… Tudo bem ela os controla, mas como ela sabia que haveria pessoas ali? Os personagens estão andando a mais ou menos dois dias, estão afastados de Citagazze, como ela sabia em que direção manda-los? E como sabia que havia adultos com eles, porque espectros não veem crianças, então qual seria o sentido de mandar espectros atrás delas? Lembrando que Marisa não sabe que Will está quase na idade de ser visto pelas criaturas.

Já falando nela, Sra. Coulter e Boreal (Ariyon Bakare) também chegaram a Citagazze, ela inclusive com um visual bem “exploradora aventureira”, praticamente dizendo que está indo para um lugar desconhecido, exótico. Logo que chegam, Boreal está claramente aterrorizado, mas para uma cidade repleta de centenas de espectros os dois demoram bastante para encontrar algum. Então, enquanto isso, Marisa se diverte às custas do medo de Boreal.

Os dois se deparam com alguém que foi sugado pelos espectros e vemos a reação da Sra. Coulter a isso. Lyra ao ver alguém que foi sugado, teve empatia, mas Marisa olha para aquilo com um ar científico, clínico, e só de ver ela já sabe que é pior do que ser cortado de seu daemon.

Mais tarde eles continuam explorando a cidade e Sra. Coulter parece ter encontrado um perfume interessante por ali, que eu genuinamente pensei que fosse perfume por um segundo. Até que o macaco dourado sente os espectros e fica zangado, agressivo, na defensiva e Marisa vai até as criaturas enquanto Boreal se esconde. Ela faz algo que deixa o macaco inerte, como se estivesse com sono e vai até os monstros, que vistos agora com calma e mais de perto, parecem muito mais com espuma do que tecidos. E claro, aqui Ruth Wilson protagoniza mais uma das melhoras cenas dessa temporada.

Os espectros rodeiam a Sra. Coulter, mas não a atacam, até mesmo depois que o macaco desperta e ela os manda embora, nenhum é agressivo em relação a ela. Ela os controlou e fica bem animada com isso e até decide comemorar com um bom vinho em um momento em que rola um leve clima entre os dois, para o deleite de Boreal.

Ela explica que foi capaz de controlar os espectros porque consegue esconder deles tudo que ela tem de humano, ela se suprimiu. Sabemos então que ela não passou pelo tal ritual das feiticeiras que torna o elo com seu daemon maior, ela conseguiu sozinha o que parece ser algo bem difícil e doloroso de se fazer, além de calar sua própria alma, ela consegue deixa-la dormente, uma desconexão inimaginável. E como o HBO Extras apontou, sem sentimentos, sem empatia, isso que nos torna humanos, a pessoa não consegue medir as consequências de seus atos. Então, se desconectando de sua alma, como é possível exigir de Marisa que ela se importe com outras pessoas? 

Os dois bebem, mas logo no início da cena, vemos ela chegando com uma nova garrafa que só coloca no copo de Boreal. Ele muito apaixonado, diz que quer o poder da faca para os dois agora, já que os dois são iguais, mas sejamos honestos, não são. É muito fácil depois dessa demonstração de poder da Sra. Coulter de repente ele querer igualdade.

Nesse jogo de sedução em que a daemon de Boreal basicamente se entrega para o macaco dourado, ele percebe que foi envenenado, já que atrapalharia os planos. O tal perfume no fim das contas era veneno e assim o Lorde Carlo Boreal morre. Marisa, por sua vez, continua bebendo sozinha por um bom tempo e se autoflagela, assim como já vimos MacPhail (Will Keen) fazer, para se punir pela morte de Boreal e no processo intimida o macaco dourado, que ela inclusive cada vez mais incorpora.

Não lembro se já comentei isso, mas não custa relembrar, a autoflagelação para o Magisterium é um modo de perdoar os pecados com antecedência, o Tribunal Consistorial chama de penitência e absolvição preventivas, a pessoa se castiga corporalmente para compensar o pecado que vai cometer, independente do que seja.

A jornada de Lee e Jopari é bem fiel ao livro, a diferença maior é que no original os acontecimentos são divididos entre os dois no ar e em terra, enquanto na série eles optaram por concentrar mais eventos enquanto os dois ainda estão no ar e no próximo episódio os dois em terra. Os dois chegaram ao mundo de Citagazze pela anomalia, que está sem proteção, aparentemente o Magisterium desistiu um pouco depois do ataque das feiticeiras, então eles passam facilmente.

A viagem dos dois é muito boa, as conversas entre eles, além de interessantes, desenvolvem bem os personagens. Os dois conversam sobre o poder dos xamãs, de Jopari, dos quais Lee duvida um pouco, falando que o homem nem voa, ao que ele responde que ele precisou voar, chamou Lee e agora está voando. O texano não engole muito isso, pede ajuda com fogo e recebe uma caixinha de fósforos. Jopari tenta deixar claro que mesmo tendo convivido com todo tipo de gente ele ainda é apenas humano.

Os dois viram a noite juntos, algumas informações são repetidas sobre a faca, o portador e a família de Jopari que mesmo tendo feito as pazes com suas limitações ainda sente falta deles e Lee questiona se aquela é uma viagem de sabedoria ou insensatez, mas não parece existir uma resposta. Quando chegam a Citagazze, Lee se preocupa com Lyra ao ver os espectros, mas Jopari o tranquiliza dizendo que os monstros não vão atrás de crianças e para que eles continuem. É sempre irônico quando Lee se preocupa com Lyra e Jopari com o portador da faca, quando ambos estão juntos e cada vez mais ligados.

Pouco depois os zepelins do Magisterium aparecem no horizonte em comparação ao modesto balão de Lee. Acontece uma perseguição, o aeróstata pede armas ao xamã e acha melhor que eles pousem, Jopari entra em um misterioso transe e as coisas acontecem. Ele convoca uma tempestade, um raio atinge uma das aeronaves inimigas e a derruba e a outra é atacada por aves, mas antes que algo seja feita com a terceira, o balão começa a cair.

Nesse episódio Mary ficou um pouco a esmo, já que os anjos não falaram muito do que ela teria que fazer depois de passar pela janela. Ela vai então curtindo um pouco Citagazze e sua primeira parada é ali do lado da Torre degli Angeli, em uma linda composição com a esquerda da tela tendo uma parede com textura de asas de anjos e a direita uma estátua imponente de um anjo, demonstrando a proteção que estão exercendo sobre Mary. Ela está tranquila, sem se preocupar com espectros porque tem os melhores protetores possíveis e faz uma leitura em seu I Ching, talvez procurando mais orientação, mas aquele meio é bem mais difícil de interpretar. Mais tarde ela vai dar um rolê na praia e é vista por Angelica e Paola, que veem que ela não é atacada por espectros e temos nossa primeira visão mais próxima dos anjos, um vislumbre de asas batendo atrás de Mary, a guardando.

Posteriormente, em mais um encontro inédito na obra original, Mary interage com Angelica e Paola. Elas se mostram frágeis, assim como Lyra com Serafina, Paola pede um abraço para a cientista, são crianças que sentem falta de atenção, de serem cuidadas e de poderem ser crianças. Elas falam sobre os espectros, que conheceram Lyra com quem ela está e que o resto das crianças foram para as montanhas encontrar os adultos, mas elas não quiseram ir, talvez por saberem que seus pais, já que faleceram, não estariam lá. Comovida, Mary diz que as acompanha até os adultos.

Imagino que foi incluído para poder explorar o aspecto materno de Mary, já que paternidade/maternidade é um assunto que a história fala bastante e ela não desemprenha esse papel até então, mas vamos ter várias mães que perderam os filhos de algum modo, como Serafina Pekkala, a própria Sra. Coulter e a saudosa Mãe Costa (Anne-Marie Duff).

Fiquei curiosa, será que finalmente falaremos com adultos em Citagazze? Vão fornecer alguma orientação para Mary? Ou alguma informação para esse mundo? Fica para o próximo episódio.

Temos pouco de Mary nesse episódio, mas para o desespero do editor desse texto, me vejo obrigada a puxar uma discussão atrasada aqui. Eu ouvi o podcast oficial de His Dark Materials da HBO, e eles me chamaram atenção para algo que apareceu no episódio 4, quando Mary fala com a caverna e eu não me toquei. Além das asas, aparece outra imagem na tela, um cubo de Metatron. Fãs de Sobrenatural (Supernatural, 2005–2020) já conhecem esse nome porque a partir da 8ª temporada se tornou bem presente. Então vamos lá para os frutos de uma pesquisa até demorada que eu fiz na internet e já agradecendo ao site http://animamundhy.com.br/, onde eu encontrei muitas informações boas.

O cubo de Metatron apareceu no querido episódio 4 quando os anjos falam o “pelo que somos, espírito, pelo que fazemos, matéria. Matéria e espírito são um só.” O cubo é uma é uma figura geométrica composta de  13 circunferências e 78 linhas retas, a formação é conhecida como fruto da vida. 

As circunferências representam o princípio feminino do universo e as linhas o masculino, então circunferências seriam óvulos e linhas seriam espermatozoides, juntos representam a junção dessas dualidades em uma unidade que representa o Pleno, o Todo. Talvez Deus? Mas é algo que se aplica a lógica do mundo de Lyra, porque os daemons das pessoas nascem com o sexo biológico oposto ao delas, Lyra é menina e Pan é menino (esse complemento também se aplica a personalidade), existe menção nos livros a pessoas raras que tem daemons do mesmo sexo e existem teorias para isso, mas é outra história.

No mundo de Lyra, já que as pessoas existem individualmente como um “eu”, mas também em conjunto com seus daemons, como um “nós”, seria possível dizer que todos são feminino e masculino ao mesmo tempo, completos, ou talvez, perfeitos, já que existem algumas ideias de que o ser humano só se tornaria completo ao conciliar seu lado feminino e masculino.

Mas calma, ainda tem mais, se segurem. Dentro do sistema de círculos e linhas do cubo de Metatron, é possível ver além do fruto da vida, os 5 sólidos platônicos (tetraedro, cubo, octaedro, dodecaedro e icosaedro) que são a base da geometria sagrada (algo que eu não sabia que existia) e os elementos da criação, fogo, ar, terra, água e éter. O cubo mostraria que a verdade tem a mesma origem, onde encontramos Deus. 

Pode parecer besteira, mas se você se lembra das suas aulas de matemática, lembra que existem formas que se repetem na natureza, a geometria sagrada dá significados sagrados e simbólicos a essas formas e proporções geométricas e é considerada o modelo da geometria natural e a base de todas as formas. É basicamente uma crença de que Deus criou tudo de acordo com um plano geométrico. Existem algumas coisas na internet sobre ter o cubo ter alguma relação com chackras para ativar e trabalhar, mas foge muito do tema que quero falar aqui, exceto que o cubo estaria então dentro de nós de algum modo.

Mas como os já mencionados fãs de Sobrenatural bem sabem, Metatron também é um nome próprio, de alguém que pode ou não existir no universo de His Dark Materials, só o tempo responderá isso.

Metatron é um anjo, mais especificamente um serafim que seria a voz de Deus. Se Deus falasse diretamente conosco sua voz nos destruiria, então Metatron fala por Ele, é um mensageiro, um porta-voz.  Apesar de sabermos que anjos existem nessa história, não sabemos o quanto do que nós sabemos se aplica a eles, sequer se essas hierarquias existem. 

Metatron é considerado o criador do tarô, o fornecedor das 22 letras do alfabeto arábico, além de ter sido quem impediu o sacrifício de Isaac por Abraão, guiou o povo hebreu a atravessar o mar vermelho falando com Moisés e foi o anjo da morte, a última das sete pragas do Egito, (aquele mesmo que matava o primogênito de todo mundo que não colocasse sangue de cordeiro na porta).  Fora algumas coisas para pensar por serafim significar serpente e fogo que queima. Metatron poderia ter sido a serpente que tentou Eva, então?

Em resumo, podem esquecer Miguel, Rafael e Gabriel, Metatron é quem é foda de verdade, sendo ainda superior aos três arcanjos em hierarquia, ele aparece não só na bíblia cristã, como também em escritos judáicos e islâmicos.

Sobre ele existem teorias também, algumas bem interessantes. Metatron não teria nascido divino, mas sido transformado, sendo ele Enoque, pai de Matusalém (aquele que viveu 969 anos) e talvez sido o anjo que lutou com Jacó e feriu sua coxa, cujo nome não é dito. Por sua forte relação com Deus, ainda existe uma teoria de que ele seria a manifestação de Deus em forma corpórea, ou seja, um cara que você conhece chamado Jesus, uma confusão em traduções poderia teoricamente ter perdido essa informação.

E mais, talvez a parte que você mais precise lembrar sobre Metatron para essa história. Numa visita de um homem ao céu, ele teria visto Metatron sentado no trono do céu, mas ali era um lugar exclusivo de Deus para sentar, então o céu teria dois Deus, duas autoridades. E qual o nome da divindade que o mundo de Lyra venera? A Autoridade.

Achou que não deixaria seu líder religioso zangado hoje por gostar dessa série, não é mesmo?

Já que falamos tanto sobre divino e religião, vamos ao núcleo do Magisterium, que teve apenas duas cenas dessa vez, mas as duas muito importantes.

Primeiro Frei Pavel (Frank Bourke) vai relatar ao Cardeal MacPhail sobre a consulta ao aletiômetro. Que pessoalmente achei um pouco rápida, já que já tinha sido mencionado que para consultar e entender a resposta do aletiômetro era preciso dias de interpretação, mas tudo bem. Ele fica um pouco apreensivo sobre contar as descobertas ao superior, tocando o próprio ombro com medo quando pergunta se deve ser punido pelas palavras, fazendo eu me perguntar se ele já se puniu ou foi punido por coisas que o aletiômetro diz. Mas MacPhail dá algumas voltas e diz que não foi ele quem disse, ele ouviu, então não existe mal algum. 

Ele revela que a Sra. Coulter está procurando Lyra, que está em outro mundo. Heresia, estão negando a anomalia, por isso ele achou que seria punido. Pavel também conta que um tempo atrás, antes da anomalia de Asriel, lá na primeira temporada, Marisa pediu para ele perguntar ao aletiômetro “quem é Lyra Belacqua?”, ele não chegou a dar a resposta para ela, talvez por ser algo muito complexo de se interpretar, não se sabe bem, mas ela não sabe a resposta.

Porém com isso ele descobriu que a menina tem outro nome, um que ele não diz, isso vai ficar para o último episódio, mas ele dá pistas. Diz que as feiticeiras conhecem esse nome por causa de uma profecia, mas é heresia claramente. Esse outro nome de Lyra dita o destino dela, ela vai estar na posição daquele que causou a “nossa queda”, antes, a mãe de todos e a causa de todo pecado e que se acontecer de ela ser tentada pela serpente, então é provável que ela caia e o Pó e o pecado triunfarão.

Dá para imaginar muito bem que nome é esse, temos pistas suficientes, mas não vou dizer nada agora. Mas que queda? A “nossa”? Nossa de quem, do Magisterium? E o Pó e o pecado vão triunfar, mas nós sabemos que o Pó são os anjos, os anjos vão triunfar? Em quem? Sobre o que?

Diante dessa revelação – que não nos foi totalmente revelada -, MacPhail convoca uma reunião, provavelmente com os líderes do Magisterium, e fala que a instituição precisa entender seu verdadeiro propósito, mas a Autoridade falou com ele e agora eles tem uma nova direção, um novo objetivo. Frei Pavel trouxe informações de uma ameaça muito grave por natureza, que o mundo só viu uma vez. Mas nós sabemos que Pavel trouxe informações sobre a Lyra, como ela pode ser uma ameaça ao Magisterium? E que vão fazer o necessário para combater, então enviaram tropas para anomalia para enfrentar a ameaça, justamente aqueles zepelins que vimos. E a primeira a tomar parte nesse sacrifício será Lyra. Então oficialmente o Magisterium está atrás de Lyra e obviamente, de qualquer pessoa que se alie a ela.

Na questão dos daemons, gosto do que fizeram com os das feiticeiras, estão mais presentes e conversam mais. Pan também teve sua presença e seu papel bem desempenhado no episódio e foi muito bom ver a reunião do Magisterium e atestar que nem todos tem daemons insetos ou répteis e um lagarto subindo pelo braço de um dos homens.

Mas o destaque ficou para o nosso querido macaco dourado. Pelo menos até A Faca Sutil, segundo livro de Fronteiras do Universo, essa inércia não acontece, a Sra. Coulter não chega a “desligar” o macaco para controlar os espectros, essa desconexão tão grande com o daemon, o que até me assusta. Mas foi interessante de saber que ela conseguiu isso sozinha, sem passar pelo ritual das feiticeiras, que não sabemos se é indolor ou não, mas definitivamente o modo pelo qual a Sra. Coulter conseguiu essa habilidade doeu. Ela machuca seu próprio daemon, a própria alma, a si mesma, sua essência, que ela cala e reprime tanto a ponto de se desligar de si mesma.


Momento comparação com o livro!

  • Em A Faca Sutil, a chegada das feiticeiras é bem mais animada. Elas chegam em um grupo com mais de vinte feiticeiras, já que Serafina e Ruta praticamente levaram seus clãs. Pouco depois de chegarem, encontram um grupo de pessoas e testemunham um ataque dos espectros, entendem como as pessoas ali estão vivendo essa realidade e conversando com elas descobrem sobre os anjos que veem no céu. Elas descobrem que os anjos eram vistos frequentemente em gerações anteriores e que eles estão indo para o Polo, embora ninguém saiba bem porque, mas é dito que o Norte daquele mundo é a morada de espíritos e que se os anjos quiserem se reunir e atacar o céu é para lá que eles vão.
  • Depois das descobertas, Ruta deixa as outras feiticeiras e vai até os anjos. Quando chega a eles, ela os vê como humanos altos, nus, musculosos, com asas e brilhantes, mas essa é a forma que ela os enxerga, se ela pudesse percebê-los na forma verdadeira seriam uma arquitetura composta de inteligência e sentimentos. Conversando com os seres, Ruta descobre que estão respondendo a um chamado de Lorde Asriel e pede para acompanha-los. Juntos, atravessam para outro mundo por uma janela no céu e chegam até onde Asriel está.
  • No livro, Will associa os espectros com a condição de sua mãe quando Lyra conta que ao ser atacado, Tullio contou os tijolos de uma parede até ficar imóvel. Ele diz que a reação seria como se tentassem ignorar o perigo e o medo de algo próximo.
  • Will e Lyra estão em uma casa perto das janelas que abriram para buscar o aletiômetro porque o Wil estava fraco demais para voltar até a casa onde estavam. Quando as crianças chegam, são entre quarenta e cinquenta realmente determinadas a mata-los, algumas com pedaços de madeira e outras com armas de fogo. Para não saírem do lado da casa do Boreal caso abrissem uma janela, os dois sobem a colina e chegam a um templo, mas quando tentam abrir uma janela lá, ela dá para o ar, porque estão muito alto. Eles são salvos por Kaisa que chega voando e pelas feiticeiras que lançam várias dúzias de flechas e assustam as crianças e essa é a última vez que nós as vemos no segundo livro. Kaisa conta para Lyra que ali ao redor tem mais de cem espectros, para encontrar as feiticeiras precisam ir para mais longe das casas e que já perderam uma feiticeira para os monstros. Quando encontram a Serafina, Lyra já a conhecia então a abraça.
  • Will evita olhar para própria mão, por ficar abalado com os dedos cortados e ter sangrado tanto que quase morreu algumas vezes.
  • No livro o ritual de cura que as feiticeiras fazem é muito mais místico, envolvendo uma canção, deixar a faca a luz das estrelas, bater palmas e pés e um caldeirão fervendo com ervas. Elas abrem uma lebre ainda viva para testar se o unguento estava pronto, quando colocam o líquido na ferida dela o animal se curou como se nada tivesse acontecido. A princípio parece ter tido efeito em Will, mas depois é mostrado que não foi forte o bastante.
  • Na conversa entre Will e Lyra, ele conta como descobriu que crianças eram capazes de agir como as que os atacaram. Um dia, sua mãe teve uma crise e foi atrás dele na escola quase sem roupas, as outras crianças ficaram atirando coisas nela e no dia seguinte ele brigou com o líder do grupo que fizera isso, quebrando o braço do menino. Ele queria brigar com todos os outros, mas percebeu que se fosse muito longe chamariam sua mãe e se descobrissem sua condição, talvez a tirassem dele.
  • Não acompanhamos a Sra. Coulter no segundo livro, então não vemos tudo que a série mostrou acontecendo. Mas em certo momento uma feiticeira que está com o grupo de Lyra e Will vai espreitar um pouco o que está acontecendo ali e vê os soldados sem daemons que vieram com a Sra. Coulter, e a vê bebendo com Boreal. Basicamente ele é morto da mesma forma, mas enquanto convalesce, conversa com Marisa. Ela diz que os espectros a obedecem porque sabem que ela pode dar mais alimento para eles se continuar viva.
  • Enquanto Boreal vai morrendo ela vai perguntando para ele porque ele quer o menino, e só então ele conta da faca para ela e é quando pela primeira vez temos o nome da faca associado á palavra Æsahættr e descobrimos que elas são a mesma coisa.
  • A viagem de Lee e Jopari é basicamente igual ao livro, tirando que os dois atravessam por uma janela no ar e não pela anomalia e quando ainda estão voando, Jopari só derruba um zepelim com o raio, depois que eles caem e armam acampamento, além da perseguição ser muito lenta, o que aumenta sua tensão. Lee tem sonhos muito estranhos alternados com visões bizarras de Jopari, algo bem místico e misterioso. Nesses sonhos/visões ele vê um zepelim sendo derrubado por aves convocadas para isto e um piloto de outro sendo atacado por um espectro, também convocado por Jopari. Assim como na série, fica sobrando uma nave, que sobrevoa o lugar onde eles estão acampados antes de os soldados descerem.
  • Quando Lee pergunta se a viagem é de sabedoria ou loucura, Jopari responde que é a maior sabedoria que ele conhece.
  • Quanto a Mary, só vamos encontrar de novo depois de atravessar para Citagazze, no último livro da trilogia, A Luneta Âmbar. Ela chegou a Citagazze sem orientação, perdida e saiu vagando, viu adultos atacados e crianças selvagens, como ela diz, e todos por quem passa pedem para que ela fique, pois os espectros a evitam, ela não chega a ver nenhum inclusive. Ela sai da fazendo de um casal de idosos, continua subindo a montanha e é lá que ela faz a leitura do I Ching que vimos no episódio.
  • As cenas do Magisterium adaptam um capítulo de A Luneta Âmbar, onde Frei Pavel está em julgamento. As mesmas informações são passadas e discutidas quase do mesmo jeito, com Pavel temendo ser castigado pelas palavras que a feiticeira torturada ou a Sra. Coulter ou o aletiômetro disseram e terminam com a mesma conclusão, que Lyra precisa ser morta. A maior diferença seria que eles já sabem sobre Will e a faca e a situação política da instituição é um pouco diferente.

Momento informação interessante do HBO Extras!

  • Jack Thorne pensou em rejeitar o convite para trabalhar em His Dark Materials porque sua esposa estava grávida, mas por ter muito apreço pela obra de Phillip Pullman, acabou aceitando. Escreveu 24 roteiros junto com Jane Tranter, produtora da série, antes de chegar a um definitivo e depois trabalhou diretamente com Pullman, que lhe deu dicas e contou alguns segredos pra ajudar na escrita.
  • Ruta Gedmintas disse que foi um sonho poder estar envolvida no projeto.
  • Andres Scott teve certa dificuldade com as cenas do balão por conta do chroma key, ás vezes ele perdia a noção do tempo e do espaço e chegava a esquecer que estava em um balão vendo belas paisagens.
  • Métodos divinatórios podem ser confusos por serem formas de indagação qualitativa, dependendo do significado que damos aos símbolos, que dependem de todo um conjunto de circunstâncias culturais que nos cercam. No fim, usamos nossos sentidos físicos junto com a intuição e o subconsciente para acessar uma resposta que está dentro de nós.
  • A origem do tarô se perdeu com o tempo (ou pode ter sido criado por Metatron, né).
  • Jane Tranter, produtora da série decidiu criar um visual novo para as feiticeiras a partir das descrições dos livros, dando a elas características da natureza por viverem perto dela por centenas de anos. Caroline McCall e Jacqueline Fowler do departamento de arte encontraram modos de, além disso, expressar que as personagens estão sempre prontas para a batalha.
  • Por Citagazze ter sido construída em um estúdio, sua orla, tão presente no livro foi difícil de incorporar.
  • Phillip Pullman escreveu uma carta para Amir Wilson ao final das filmagens da segunda temporada dizendo que gostava do que o garoto estava fazendo e estava emocionado com a nova temporada.
  • Lin-Manuel Miranda e Andrew Scott se tornaram bons amigos ao longo das gravações.
  • Lorne Balfe, compositor criou a música de Citagazze para como ela, ser uma mistura de culturas, então juntou música do oriente médio com sons celtas, usando até mesmo instrumentos chineses.
  • Um dos motivos para Paolo ter se tornado Paola na série, é que a diretora de elenco Kahleen Crawford gostou da força de Bella Ramsey e Ella Schrey-Yeats, que tinham feito testes para o papel de Lyra, chamou as duas e deu mais cenas do que no livro para suas personagens.
  • Jopari tem fósforos porque foi escoteiro, está sempre preparado, isso é dito mais diretamente em A Faca Sutil.
  • A Boy Scouts of America (BSA) foi fundada em 1910, desde então mais de 110 milhões de americanos já fizeram parte do grupo, fora as pessoas no resto do mundo. Seu propósito é ensinar aos jovem a tomar decisões éticas e morais ao longo de suas vidas.
  • Dafne Keen recentemente escreveu e dirigiu um curta-metragem, ela não tem interesse em receber muita atenção da mídia.
  • O que Serafina faz para curar Will seria um cataplasma ou emplastro com ervas, preparações que podem ser feitas usando plantas medicinais, óleos ou outros ingredientes de origem botânica com ação anti-inflamatória, antibiótica ou sedativa. Outros tratamentos alternativos se baseiam na imposição das mãos, provocando a movimentação do Chi ou canalizando as bênçãos dos deuses. O método está presente em muitas culturas.
  • Citagazze ficou tão real que gaivotas nas paravam de se aproximar do set, tiveram que providenciar uma ave de rapina para mantê-las afastadas, mas nenhuma foi ferida (segundo o app).
  • O chão da casa onde Will e Lyra estavam reproduz os desenhos de aves de M.C. Esher.
  • O app associa o momento em que Daenarys sai das cinzas com os bebes dragões em Game of Thrones (2011-2019) com o momento em que Marisa não é atacada pelos espectros. Essa escritora acha que uma coisa não tem nada a ver com a outra, mas que a HBO precisa manter as pessoas lembrando de GoT até a nova série estrear.
  • Lin comparou seu Lee a Han Solo e Indiana Jones.
  • Dafne e Amir se tornaram bons amigos, quando ele foi escolhido para o papel, a família Keen o convidou para um show de flamenco em Madri.
  • Aryion Bakare disse que o que mais o ajudou a interpretar Boreal foi se inspirar na daemon dele, a serpente. Ele incorporou isso em um modo suave e lento de falar, quase sem expressão. Ironicamente era difícil para ele atuar com a serpente por ter medo do animal.
  • Condições climáticas ruins podem ser graves para balões aerostáticos que funcionam graças à diferença de densidade do ar dentro do balão com a de fora.
  • Lin comentou que as cenas da tempestade foram difíceis e ele deve ter dublado mais diálogos nessa temporada do que na anterior porque nesse momento não tinha como ouvir suas falas.

Mesmo com seus pontos altos, para mim o saldo é um episódio fraco comparado aos anteriores, com alguns momentos não transmitindo a emoção necessária, falta apenas o último para nos despedirmos desses personagens por um tempo. O finale da primeira temporada foi meu episódio favorito dela, praticamente perfeito, então minhas expectativas para esse último estão bem altas.