Poucas vezes eu saí de uma sala de cinema com a sensação de que um filme foi lançado no momento certo. Lógico que há uma centena de filmes necessários pra nossa formação social, histórica, que nos fazem refletir sobre os males, sejam da sociedade moderna, sejam os que se arrastam desde as fundações de nossos povos – racismo, machismo, xenofobia, LGBTfobia… Mulher-Maravilha 1984 (Wonder Woman 1984, 2020) não fala de nada disso (não de maneira direta, pelo menos) e é um filme tão precioso quanto todos os outros.
Para a sequência de Mulher-Maravilha (Wonder Woman , 2017), a diretora Patty Jenkins conseguiu fazer um filme grandioso, épico, uma aventura digna de Superman: O Filme (Superman, 1978), além de ser uma história emocionante, que toca nossos corações, traz uma mensagem de positividade e esperança para os dias difíceis que vivemos no ano de 2020.
A cena de abertura do longa, mostrando o torneio das amazonas e Diana (Gal Gadot), ainda criança, competindo contra mulheres adultas, já dá o tom do que vem a seguir: cenas de ação de fazer o queixo cair, uma trilha sonora arrebatadora e, ao final de tudo, um ensinamento sobre verdade e perseverança. É como se fosse um “minifilme”, um resumo, de tudo que viria depois disso.
Sendo este o segundo filme de uma franquia, a gente não precisa de muito tempo para apresentação de personagens. A ambientação é rapidamente contextualizada e o trabalho de produção desse cenário é simplesmente primoroso. É como se a gente assistisse a um filme gravado realmente nos anos 1980. As cores, os ângulos de câmera, os cabelos, roupas. Não é como se as pessoas estivessem vestidas como em 1984, o arranjo do filme realmente nos leva até essa época.
Durante a jornada a trama não se perde. A aventura vai ganhando proporções grandes, atravessando fronteiras e, quando a gente se dá conta, Diana está de cara com uma questão global que pode desencadear o fim de tudo como conhecemos. Tudo isso provocado por um vilão que parece linear durante boa parte do filme, mas que acaba se revelando com muito mais profundidade. Não fosse isso o bastante, a Mulher-Maravilha ainda precisa lidar com seus próprios problemas pessoais, com o sentimento de perda e lutar pela redenção de uma amiga.
Por fim, é provável que você sinta algum desconforto no terceiro ato – o que parece ser o ponto fraco da diretora, uma vez que o filme antecessor tem esse mesmo problema. É nessa hora que o vilão parece caricato e teatral. Porém, não é algo que possa estragar a experiência. Wonder Woman 1984 tem uma missão e cumpre esta missão muito bem: ele traz uma atmosfera iluminada, colorida e um discurso que vai esquentar nossos corações ao sair da sala, imaginando um mundo melhor do que era antes da gente sentar na poltrona do cinema.
Um filme para todos os públicos, certamente. Assim, se você for um fã de histórias em quadrinhos e acompanha Diana há algum tempo nas HQ’s, vai adorar o fan service e perceber que o roteiro foi bem pesquisado e que os personagens são bem caracterizados. E, se não for o seu caso, você vai descobrir um mundo de personagens profundos, bem construídos e verossímeis, tanto quanto um filme de super gente pode permitir (porque, afinal, ainda é um filme de super-heróis).
Emocionante, arrebatador, carismático e surpreendente, pelas coisas que você consegue ver e, principalmente, pelas que você “não consegue” ver.
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Gay, Nerd, jornalista e podcaster. Chato o suficiente pra achar que pode se resumir em apenas quatro palavras. Fã de X-Men e especialista em Mulher-Maravilha. Oldschool – não usa máquina de escrever, mas bem que poderia. There’s only one queen, and that’s Madonna!