Redução de Imposto Gamer – Não seja feito de gado

Nos últimos anos muito se tem falado sobre acessibilidade no mundo dos games. Esse assunto possui diversas formas de ser abordado, porém, o pensamento a ser desenvolvido aqui é do âmbito da acessibilidade de ordem econômica. O console de videogame sempre foi um produto para as elites. Não que somente os mais abastados pudessem comprar, mas seu pensamento e preço foram planejado para um público que possui dinheiro. Pensando em nossa realidade econômica e social, principalmente em tempos de pandemia, é quase uma loucura comprar um console, seja ele de nova geração ou da geração passada. 2000, 3000 até 5000 reais. Na população geral, não há quem disponha dessa quantia de dinheiro para comprar, e os mais ousados apelam para o parcelamento em 10, 15, 20 vezes em lojas do varejo. Aliás, esse tipo de compra gera um outro problema: dívidas. Tão comum ao povo brasileiro e que se agravou durante a pandemia de COVID-19 no país.

No Brasil, 2020 é um ano atípico, além da chegada dos videogames de nova geração, trata-se de um ano eleitoral. Isso por si só já gera um sentimento de oportunismo por parte dos políticos brasileiros. É nesse contexto que campanhas referentes à redução de impostos nos jogos ganham força e servem para manipular o eleitorado. Sim, isso mesmo, manipular. Antes de tudo, cabe uma ressalva: nós do site Só Mais Uma Coisa somos favoráveis a redução da carga tributária sobre o trabalhador brasileiro. É necessário uma revisão urgente e buscar modos que freiem os constantes abusos e humilhações que o excesso de tributos, sobretudo nas classes mais pobres, causam nos trabalhadores. Contudo, isso não é o que essas promessas de campanha propõem. Sob a ótica desse “discurso mais igualitário”, muitos políticos, sobretudo os de direita, manipulam e tangem seu eleitorado. Apenas diminuir os impostos não é a maneira mais adequada de baixar os preços dos videogames, esse discurso serve apenas para inflamar uma comunidade que, em grande parte, é adepta das ideias direitistas e conservadoras, basta uma rápida olhada em fóruns e sessões de comentários em redes sociais. 

Se esses políticos querem enganar seu eleitorado, então o que pode de fato ser feito para que os preços dos videogames e dos jogos sejam mais justos? O primeiro ponto que defendemos é uma distribuição maior de renda e uma melhor condição de trabalho. O Youtuber BRKS Edu postou em seu Twitter esses dias que, para se comprar um videogame de nova geração no Brasil seria necessário 5 meses de trabalho, tendo em consideração o trabalhador que recebe apenas um salário mínimo, enquanto em outros mercados como Canadá ou Estados Unidos o tempo necessário para se conseguir comprar um novo console são entre duas e três semanas. Portanto, para que no Brasil se tenha um preço mais justo em relação aos videogames é necessário uma valorização maior da força de trabalho e do trabalhador. Lutar por questões sociais e por aumento de políticas públicas que visem a melhoria salarial e de condições de trabalho. 

Outro ponto que os políticos que prometem preços mais justos só com a redução dos impostos esquecem é a desvalorização de nossa moeda. O dólar, no momento em que escrevo este texto, vale aproximadamente 5,70 R$. Essa desvalorização de nossa moeda acarreta em uma subida de preços no geral, sobretudo para eletrônicos e produtos importados. Portanto, apostar em políticos que priorizem o fortalecimento da economia e uma política mais protecionista do nosso mercado interno, propondo, por exemplo, a construção de fábricas de montagem das grandes empresas no Brasil, parece-me um caminho mais acertado do que aqueles que sugerem uma medida milagrosa apenas com a redução de um imposto.

Outros fatores também são responsáveis direta e indiretamente para um preço mais justo. Por exemplo, políticos com discursos mais voltados para o desenvolvimento de políticas públicas no âmbito cultura devem ser ouvidos. É necessário fomentar a criação de jogos no Brasil, seja por incentivo fiscal ou por criação de leis e editais que permitam o aperfeiçoamento de uma produção nacional. Políticos que vendem a ideia da redução de um tipo de imposto como solução, mas que nos bastidores age para sucateamento das instituições e uma abertura cada vez mais descarada para o mercado externo devem ser evitados. 

Por fim, como um bom pessimista esperançoso, acredito que a comunidade de jogadores tem o poder de se unir, pesquisar e cobrar esses políticos com falsas promessas ou discursos distorcidos. Mesmo essa nossa comunidade sendo tão desunida e tóxica, ainda há um fio de esperança, mesmo que este esteja emaranhado a diversos outros. A comunidade com tanto potencial não pode sucumbir a esse caminho cheio de ódio, de mentira e de comportamento tóxico. Ainda é cedo para desistir. Avante, camaradas! 

Assista vídeo no nosso IGTV sobre o assunto.


VEJA TAMBÉM

Kind Words – Uma luz de esperança no mundo tóxico dos jogos

Os Jogos e a Cultura do Ódio