Empyre – Um marcante épico espacial nos quadrinhos da Marvel

O evento mais recente da Marvel Comics colocou os heróis mais poderosos da Terra e a primeira família da editora para evitar uma invasão alienígena e aniquilação do Sol. Império (em inglês, Empyre) contou a história dessa ameaça à terra com foque na unificação de duas raças alienígenas lideradas por um Jovem Vingador, transformado em Novo Vingador e finalmente em Imperador – Teddy Atlman, o Hulkling.

A primeira aparição do personagem conhecido como Hulkling, um híbrido de duas raças alienígenas em guerra, foi junto do grupo Jovens Vingadores. O mesmo entrou para a vida como herói acreditando ser um mutante com habilidade de mudar de forma, e apenas no arco final do primeiro volume dos quadrinhos descobriu sobre sua origem alienígena. Para os fãs dos filmes da Marvel, existe um prévio conhecimento sobre os Krees e os Skrulls pois ambas as raças e seu conflito foram apresentados no filme Capitã Marvel (Captain Marvel, 2019). 

Durante sua história, Teddy Altman fez parte da equipe formada pelo mutante Roberto da Costa, de Novos Vingadores, junto de seu noivo, Billy Kapplan, o Wiccano. Os dois foram apresentados como casal desde sua introdução, ambos sendo gays e cujos pais foram receptivos a seu relacionamento. Noivos desde a jornada para a busca da Feiticeira Escarlate, mãe (de alma) de Billy e do seu irmão gêmeo (de alma) Tommy Shepherd. 

É seguro falar sobre como da equipe original de Jovens Vingadores o casal gay formado por um alienígena e um poderoso feiticeiro originado de uma alma roubada do inferno ganharam um tremendo destaque. Talvez junto de Kate Bishop, que veio a ser a Gaviã Arqueira ao lado de Clint Barton, e passando a trabalhar sozinha, tiveram a maior jornada dentro do universo Marvel dos quadrinhos. O dois cresceram como casal, em certos momentos até demais, deixando de explorar o potencial narrativo de ambos.

Por muito de seu tempo nos quadrinhos o fato de Teddy ser o legado de dois grandes impérios alienígenas foi colocado de lado, salvo o volume 1 de Jovens Vingadores e a um dos arcos recentes de Novos Vingadores. A nova saga da Marvel, Império prometeu focar na parte alienígena do personagem e a sua relevância histórica como unificador de duas raças por muito tempo em guerra. E assim o fez, apresentando o conflito de Hulkling assumir um novo império e trazer a dominação ao planeta Terra.

Inesperado, sim. Especialmente vindo de um herói cuja origem foi sempre pautada em proteger os inocentes e seus amigos e se sacrificar. Para a surpresa de quase ninguém, o evento apresenta importantes pontos de virada justificando os acontecimentos e as motivações do Imperador Doreek ViII (nome de batismo dado ao herói por sua mãe, a princesa Skrull Anelle). Como uma verdadeira ópera espacial meio Game of Thrones, a trama de Império é cheia de revelações, traições e beijos históricos. 

Em contraposição ao império unificado Kree e Skrull existe uma raça alienígena chamada Cotati, liderada por Sequoia – filho do vingador falecido conhecido como Espadachim e da Mantis (sim, a mesma dos filmes Guardiões da Galáxia). A relação dos Cotati com as demais raças alienígenas é muito antiga, assim como a profecia sobre um messias salvador. Essa figura messiânica é representada por Quoi (nome usado por Sequoia), cuja história com os Vingadores faz com que ele busque ajuda deles para os proteger da nova aliança Kree-Skrull. 

Por dentro das edições principais da saga, dividida em seis partes, existem incríveis trabalhos de arte feitos por Valerio Schiti. Com direito a um épico casamento marcando o universo Marvel, a recriação da invasão de Wakanda no ‘Guerra Infinita’ a saga consegue realmente prender os leitores e os fazer permanecerem interessados.

Através do seu laço prévio e por ser considerado pelos Vingadores como Thor, Capitão América e Homem de Ferro, como uma espécie de sobrinho, ele faz o chamado à equipe para pedir ajuda. Os Cotati são uma raça alienígena semelhante a plantas, não feitos de carne e osso ou matéria animal. Isso dá aos cotati a capacidade de agir através do controle de plantas, como muito de suas armas funcionam. O conflito dessas raças alienígenas toma lugar na atmosfera terrestre, assim como antigamente a Guerra Kree/Skrull. 

O evento se alonga não apenas no quadrinho principal, intitulado Império, mas se estende também a outros títulos como Vingadores, Quarteto Fantástico e também os X-Men. As duas primeiras equipes, inclusive, são extremamente importantes para esse evento, marcando o grande retorno do Quarteto ao foco do Universo Marvel. Talvez resultado da compra da FOX pela Disney após muitos anos de exclusão das narrativas da primeira família da Marvel. 

Enquanto Capitã Marvel – a Carol Danvers – e o Tocha Humana trabalham para reduzir o conflito no espaço juntos, demais Vingadores batalham na lua ou na Terra. O evento coloca Carol, recentemente revelada como uma personagem da raça kree, na posição de Suprema Acusadora Kree. É uma importante posição dentro daquele povo, uma raça cuja cultura é totalmente pautada na atividade militar. O enredo da heroína se estende também por suas próprias edições.

A família conhecida como Quarteto Fantástico é responsável por resgatar um jovem Kree (Jo-Venn) e uma jovem Skrull (N’Kalla) forçados a lutar por anos e manter a chama do ódio de suas raças viva. Os dois jovens são apresentados como um ponto aparentemente não tão relevante da história, mas com o progresso da narrativa as coisas revelam não serem tão simples assim. 

Um dos importantes ganhos desse evento é o fato de colocar em conflito as diferenças das duas raças, Kree e Skrull. Isso pelo fato de uma dessas sociedades ser pautada em costumes tradicionais e crenças em profecias antigas enquanto a outra é uma sociedade paramilitar, cuja razão de viver é guerrear. Essas duas raças já tiveram dois conflitos acontecidos na Terra, a mais recente motivada exatamente pela existência do jovem Doreek VIiI. 

O evento foi extremamente marcante e divertido de se ler, especialmente os épicos desenhos do casamento dos personagens Wiccano e Hulkling. A conclusão final do evento é uma cerimônia espacial de casamento judeu com direito a presença de vários heróis e rendendo incríveis cenas e quadros. 

A saga deveria incluir um total de 28 edições espalhadas por vários locais do universo Marvel, mas graças a pandemia atual oito edições foram canceladas. Devido à quarentena as lojas de quadrinho passaram meses fechadas e o evento, assim como várias publicações, foram adiados. O evento deveria ter começado entre os meses de Março e  Abril e passou a acontecer entre Junho e Julho. Os roteiros das edições principais foram feitos por Dan Slott e Al Ewing, cuja perspicácia em trabalhar combinações nunca antes escritas de personagens torna a história bem mais interessante.

Com a recente conclusão do evento, houveram importantes mudanças no universo Marvel, mas se tratando de quadrinhos nunca se sabe quanto tempo essas mudanças vão durar. A parte mais interessante é o fato dessa história, extremamente relevante, poder ter garantido o amadurecimento de dois heróis vistos crescendo nos quadrinhos. Afinal, enquanto o marido de Hulkling é um ser místico extremamente poderoso, ele é o imperador de dois grandes impérios galácticos. É extremamente satisfatória para mim em particular, ver que o casal gay que acompanhei desde o primeiro volume dos Jovens Vingadores, ganhar tanta importância dentro do grande Universo Marvel nos quadrinhos.


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