Sekiro – Você não morre só duas vezes

 

O nosso título é um trocadilho com o nome do jogo Sekiro: Shadows Die Twice, jogo publicado pela Activison e desenvolvido pela From Software, conhecido pelos jogos da franquia Souls e Bloodborne, cuja marca registrada é a notável dificuldade. Dificuldade essa que gerou um debate nas redes e nos comentários dos sites de jogos. Afinal, Sekiro é difícil mesmo? Ou é apenas reclamação de quem não é tão habilidoso assim?

Antes disso, vale a pena ressaltar a beleza do jogo. Sekiro é um jogo lindo. Desde a representação das vestimentas japonesas, até os mínimos detalhes de caracterização de personagens, os cenários são deslumbrantes. A abertura do jogo mostra uma cena muito realista e violenta de um campo de batalha japonês, esse nível de detalhe e beleza acompanha o jogo inteiro. As mecânicas de gameplay também são bem agradáveis e simples de aprender, continuamente são apresentados tutoriais aos jogadores com constantes treinamentos para aprender a dominar todas as técnicas de combate.

Voltando a pergunta: Afinal, Sekiro é difícil mesmo? Ou é apenas reclamação de quem não é tão habilidoso assim? A resposta para as duas perguntas é sim. Sim, Sekiro é um jogo difícil, não a ponto de ser desafiador, mas a dificuldade real e crescente no decorrer do jogo, requer ao jogador muita habilidade e conhecimento das técnicas para passar dos chefes. É natural que essa dificuldade aumenta a reclamação dos jogadores que não conseguem desenvolver essas habilidades. Acontece que o jogo não deveria ser só isso. O diretor, Hidetaka Miyazaki, disse que essa era a essência dos jogos da From Software e que buscava um realismo ainda maior e um engajamento no fator replay para os fãs. Eu respeito a opinião do diretor, afinal tudo é criação dele e é graças a isso que temos esse belo jogo, mas também me dou o direito de discordar dessa parte.

Em um momento de expansão da cultura de vídeo games, entregar um jogo que apresenta um só nível de dificuldade não o torna acessível. Limitar a experiência a isso é não dar escolha ao jogador. Se o desejo do diretor era prover essa sensação de dificuldade máxima, poderia simplesmente dar a opção ao jogador e um pequeno texto antes do jogo começar, recomendando a dificuldade elevada para uma imersão total ao mundo de Sekiro. A escolha de não deixar opções de dificuldade para o jogador acaba sendo bastante limitadora: ou jogam os que já são fãs dos jogos da From Software ou aqueles que se orgulham por terminar os ditos games impossíveis. Lembrando que, com qualquer uma das opções acima, a chance de alimentar uma cultura de ódio na internet é muito grande, os trolls aproveitam para humilhar jogadores inexperientes ou que possuem algum tipo de limitação. Lembrando que a acessibilidade não vem só para as deficiências físicas, mas também para os distúrbios de origem psicológica. Uma pessoa com um nível alto de ansiedade, déficit de atenção e depressão pode ficar muito frustrado com a experiência de Sekiro, por exemplo. E tudo seria facilmente resolvido com a opção de escolha (por parte do jogador) de uma dificuldade mais baixa. 

Dito tudo isso, Sekiro é um bom jogo, um dos melhores do ano, com uma boa história e boa jogabilidade que peca em sua dificuldade, mas que apresenta aos jogadores um dos mundos mais ricos e mais bem representados ambientados em um universo do Japão feudal e da época dos samurais. Acredito que o jogo deva ser jogado sim e principalmente debatido, principalmente na discussão sobre acessibilidade, seja na roda dos amigos e amigas gamers ou em ambientes universitários e de pesquisa.