Extraordinário – Otimista e emocionante

Feel Good Movies” sempre foi um estilo de filme que me chamou atenção. Já ouviu falar desse termo? São filmes que tem como objetivo fazer o espectador se sentir bem, feliz por ver aquela história de superação e aprendizado do personagem. Todas as pessoas tem seus dias ruins e seus problemas na vida, é por isso que grande parte dos Feel Good Movies ensinam lições e são de fácil identificação, como A Vida Secreta de Walter Mitty (The Secret Life of Walter Mitty, 2013), Mesmo Se Nada Der Certo (Begin Again, 2013), Pequena Miss Sunshine (Little Miss Sunshine, 2006) e Compramos Um Zoológico (We Bought a Zoo, 2011), talvez, porque nesses filmes os personagens sempre estão passando por uma certa crise e precisam superá-la, correndo atrás dos seus sonhos ou mudando completamente seu estilo de vida e o modo como veem o mundo, isso passa para o espectador o sentimento de que ele é capaz de superar as adversidades e que a vida, apesar dos seus problemas, pode ser fantástica, se você souber aproveitá-la.
Dirigido por Stephen Chbosky, de As Vantagens de ser Invisível (The Perks of Being a Wallflower, 2012), o longa, baseado num best seller de R. J. Palacio, conta a história de Auggie Pulmman (Jacob Tremblay), um garoto de 10 anos que nasceu com a Síndrome de Treacher Collins, uma doença causadora de deformidades crânio-faciais, prestes a largar o ensino doméstico para estudar pela primeira vez em uma escola e conviver com pessoas da mesma idade.
A história, por ser contada na estrutura de ponto de vista, cresce absurdamente com isso, apesar do foco ser o drama do Auggie, os personagens no entorno do garoto são bem trabalhados e ganham complexidade. O elenco foi muito bem escolhido e todos, com exceção do pai, tem os seus momentos no filme. Julia Roberts vive a mãe de Auggie, a autoridade da casa, uma mulher que largou tudo para dedicar sua vida na criação do filho, enquanto Owen Wilson vive o pai do garoto, um sujeito de bem com a vida que age como o clássico pai amigo, evitando participar de discussões e não se envolvendo muito na repreensão dos filhos. Mesmo com esses dois grandes atores, a personagem secundária que mais me chamou atenção foi a da Izabela Vidovic, a irmã de Auggie, que por ter um irmão com deficiência, teve que aprender a ser independente e não esperar muita atenção dos seus pais. A adolescente, apesar de compreender e aceitar seu lugar na família, vive uma constante solidão e encontra no teatro um lugar onde pode se expressar.
Jacob Tremblay é realmente um achado em Hollywood, o ator, mesmo sobrecarregado de maquiagem, entrega uma expressividade fantástica ao protagonista, seja nos momentos de drama ou de diversão. As cenas de Auggie com Jack Will (Noah Jupe) são lindíssimas, o relacionamento entre os dois personagens é orgânico e muito bem construído, sendo Jack, a primeira experiência de amizade do protagonista.
Pessoalmente, acho que a escola tem mais um caráter social do que educacional e o filme discute isso. Auggie se mostra muito inteligente, mas nunca teve que interagir com outros de sua idade e encarar o julgamento e preconceito das pessoas, porque sempre usava um capacete de astronauta quando saía de casa, ele não sabe como reagir a essas abordagens e mesmo tentando se isolar do mundo com a ajuda dos conselhos de sua mãe e de seus devaneios com Star Wars, ele aprende que deve aceitar às suas fraquezas para que elas não sejam usadas contra você, porque as pessoas não vão mudar, então você tem que aprender a conviver com elas. Apesar disso, o longa consegue tratar o bullying com muita sensibilidade e empatia, explorando até mesmo, em um breve momento, o ponto de vista do agressor.
Em alguns momentos o filme me lembrou muito a série Atypical (2017 -), que também usa a estrutura de ponto de vista enquanto desenvolve o bullying que os adolescentes enfrentam na escola e os problemas pessoais dos integrantes da família, a diferença é que nesse original Netflix, o protagonista é autista.
Extraordinário é otimista e bem gostoso de ser assistido, apesar de ter os seus clichês e momentos piegas, os personagens são apaixonantes e a história é bem contada, te leva fácil. O filme consegue transmitir lições e reflexões a respeito da vida, e quando os créditos sobem você simplesmente sorri por ter acompanhado aquela jornada, um verdadeiro Feel Good Movie.