Godless – A atualização de um gênero

O gênero Western sempre fez sucesso com o público, em sua era de ouro criou clássicos como “A trilogia dos Dólares” e foi se reinventando, ano após ano, sendo trabalhado duas vezes por Tarantino em Django Livre (Django Unchained, 2012) e Os Oito Odiados (The Hateful Eight, 2015) e até mesmo indo para outras mídias, ganhando jogos como Red Dead Redemption e Call of Juarez. O Faroeste está tão presente na cultura pop que é constantemente abordado de alguma forma, mesmo quando a obra não é especificamente sobre aquela época, como é o caso de De Volta Para o Futuro Parte III (Back to the Future Part III, 1990) e Westworld (2016 -).

Não sou muito fã desse gênero, mas a figura do Cowboy, do nativo americano, e a diversidade do oeste dos Estados Unidos sempre me despertou certo interesse. Talvez por ser um mundo sem lei, onde você conseguia ver a verdadeira natureza do ser humano, já que, muitas vezes, a maior preocupação das pessoas é simplesmente sobreviver naquele novo mundo. É então que em 2017 a Netflix, na surdina, lança a série Godless. Dirigida e escrita por Scott Frank, diretor de Caçada Mortal (A Walk Among the Tombstones, 2014) e co-roteirista de Logan (2017). A trilha sonora é marcante desde a abertura da série e a fotografia é muito bem utilizada para dar um clima de aridez, desolação e imensidão do Velho Oeste.

Na série nós acompanhamos a cidade de La Belle, Novo México, um lugar onde praticamente todos os homens foram mortos por um acidente na mina em que trabalhavam, deixando às mulheres da cidade em uma situação de poder, independência e fragilidade nunca vista antes. Porém, apesar desse ser o palco principal da série, a trama é sobre o embate do criminoso Frank Griffin (Jeff Daniels) com seu ex-protegido que o traiu Roy Goode (Jack O’Connell).
A série não tem pressa de desenvolver seus personagens e avançar com a trama, tanto que a maioria dos episódios passam de 1h de duração. A história vai crescendo cada vez mais no decorrer dos episódios até chegar no ultimo que entrega tudo o que queríamos e nem sabíamos. As personagens femininas proporcionam uma dinâmica bem diferente na série, além de serem extremamente bem trabalhadas e bastante diversas, variando da viúva do prefeito, que pôde explorar sua sexualidade e sua habilidade com armas depois da morte do marido Mary Agnes (Merritt Wever), a mãe solteira, dona do próprio rancho Alice Fletcher (Michelle Dockery), até a ex-prostituta que se tornou professora Callie Dunn (Tess Frazer).

Um dos principais diferenciais da série para mim é a relação dos personagens com os cavalos, que em outras obras podiam ser tratados como companheiros, mas no fim eram sempre vistos como meros instrumentos de locomoção. Em Godless o respeito e o carinho que os personagens tem com o animal é fantástico e essa característica além de impulsionar a história serve para conectar os 2 protagonistas.
Apesar de ter achado a série cansativa para maratonar, pela duração dos episódios e o modo como eles são construídos e organizados, muitas vezes não tendo inicio, meio e fim, nem gancho no final. A série acerta magistralmente na interação e desenvolvimento dos seus personagens, além de construir e humanizar o vilão por meio de flashbacks e ações dele com os demais indivíduos, sem transforma-lo em um anti-herói, mostrando assim que pessoas são complexas, nada é preto no branco, mesmo em uma terra sem deus.
Godless é a renovação que o Western precisava, tem personagens e história interessantes, mantém a essência dos seus predecessores, mas sem deixar de inovar e diversificar um gênero que existe a décadas.