King Jack

 

A adolescência é um tema amplamente abordado no cinema, dia após dia vemos saírem cada vez mais filmes que tratam direta ou indiretamente esta complexa fase da vida, sejam os “terríveis” problemas amorosos que inevitavelmente a acompanham ou a rebeldia que parece ser obrigatória nesta idade, mas poucos filmes conseguem de alguma forma aprofundar o tema, fugir dos clichês que esta temática carrega desde quase sempre, presente não só no cinema, mas nas séries de TV e na literatura. Não diria que o longa de estreia do jovem diretor Felix Thompson seja uma exceção à regra, mas certamente o realizador, que também assina o roteiro, apresenta bem seu ponto de vista sobre o assunto.
Jack (Charlie Plummer) é um garoto de 15 anos que vive em um desses bairros (genéricos) violentos de classe média baixa em algum subúrbio dos Estados Unidos. Mora apenas com sua mãe, sempre ausente, que parece não se importar com seu filho mais do que a “função” de mãe a obriga, e seu irmão mais velho, típico irmão mais velho de filmes adolescentes dos anos 80 e 90 e igualmente ausente na criação do caçula. Fora do lar caótico o garoto sofre as tradicionais consequências do ambiente: poucos amigos, o que gera uma frequente tentativa de enturmar-se levando a hábitos como fumar de forma desenfreada e praticar pequenos delitos, e claro, como não poderia faltar, há a presença dos clássicos bullies infernando sua vida.

 

O cotidiano de Jack se transforma após a chegada de um primo mais novo que, após problemas de saúde da mãe, precisa ficar por algum tempo na casa da tia. Ben (Cory Nichols) é um garoto extremamente calado e cabisbaixo, nos apresentado através de uma atuação simples, mas certeira do jovem Cory Nichols.  O comportamento de Ben, presumimos, são causas dos problemas que sua mãe vem passando e talvez por um lar tão caótico quanto o de Jack.
A relação entre os dois, perceptivelmente conturbada no início, como era de se esperar, rapidamente torna-se uma amizade quase inocente, cercada por uma cumplicidade belamente posta em uma sequência em que os dois brincam do clássico “verdade ou desafio” com duas garotas e nos fazem recordar (e rir) das descobertas que a adolescência invariavelmente nos proporciona.

 

 

O roteiro peca em vários momentos não por sua simplicidade, o que muitas vezes é seu ponto forte, mas por não surpreender, trazendo iscas que soam claras demais. Quem não adivinharia que a garota por quem Jack é apaixonado não estaria o enganando no terceiro ato ou que a habilidade de Ben com o taco de basebol não seria útil em algum momento? No entanto Thompson é seguro na direção e acerta ao fazer a escolha pelos planos próximos no rosto quase sempre sujo ou ferido do protagonista em contradição ao limpíssimo de Ben ou até mesmo o uso de planos da bela paisagem para transitar entre uma sequência e outra.
Trazendo uma fotografia já comum aos filmes ditos indie (uma espécie de filtro do Instagram que, confesso, quando bem utilizado, agrada a este que vos escreve), bem como uma trilha sonora óbvia, mas ainda assim, coerente, King Jack pode não ter sido o primeiro filme da história do cinema a desvendar os mistérios da adolescência, mas com certeza traz um novo olhar sobre antigas questões acerca deste famigerado período.