Equals

Imagine uma sociedade futurista onde, após alguma crise ou desastre, seja ambiental ou social, a humanidade seja obrigada a se reorganizar e acabar perdendo ou tendo que controlar o que lhes fazem humanos. Uma sociedade onde todos se comportem como autômatos e os sentimentos e emoções sejam proibidos por provavelmente terem sido os causadores de sua quase extinção. Aposto que você já viu ou ouviu falar de um filme com esta premissa ou pelo menos com algo próximo a isso, seja 45 anos atrás, em THX 1138 (1971) ou 2 anos atrás e de forma mais infantil em O Doador de Memórias (The Giver, 2014). Esta premissa também está presente em Equals (2015), longa de Drake Doremus que teve sua estreia um ano atrás no Festival de Veneza com alguma expectativa e muita decepção.
Doremus, que costuma filmar romances como Loucamente Apaixonados (Like Crazy, 2011) e Paixão Inocente (Breathe In, 2013), tenta a sorte em uma, aparentemente brusca, mudança de gênero, mas mantendo ainda a temática das paixões proibidas ou impossíveis. Entretanto a ficção científica trazida pelo roteiro insosso de Nathan Parker, em praticamente nenhum momento parece ser crível para uma possível sociedade distópica, o que é de se espantar, pois Parker é responsável pelo roteiro do ótimo Lunar (Moon, 2009).
Na trama, ambientada basicamente no cenário que já descrevi acima, Silas (Nicholas Hoult) trabalha como ilustrador em uma empresa que parece ter a função de “documentar conhecimento”. Nos primeiros minutos o filme se detêm em algo fundamental neste gênero cinematográfico, explicar as regras que regem este universo e aqui passamos a entender que uma doença chamada SOS (Switched On Syndrome) está ameaçando o bem estar da Comunidade (como é chamada esta sociedade, por mais óbvio que pareça), a síndrome desperta de forma gradual nas pessoas sentimentos e emoções, tornando-as perigosas tanto para a Comunidade quanto para elas mesmas, causando uma grande incidência de suicídios entre a população afetada.
Após desconfiar que está sofrendo da síndrome Silas percebe que Nia (Kristen Stewart), uma colega de trabalho, sofre do mesmo mal e tenta esconder. É claro que enquanto as autoridades estudam uma cura os dois se aproximam e acabam por se apaixonar, e seus desejos intensos afloram em uma sequência romântica que não posso chamar de nada a não ser brega.
A partir daqui tudo que acontece é previsível ao extremo. Desde o grupo secreto de pessoas atingidas pela síndrome até o plano de fuga dos dois  desembocando em um desfecho que não é péssimo, mas é totalmente prejudicado pelo desenrolar anterior do romance. Além disso, a forma como algumas explicações são resolvidas através de uma espécie de onipresente e constante noticiário assistido pelos protagonistas não deixa de parecer uma saída preguiçosa do roteiro.
O desenho de produção, ainda que seja eficiente para apontar a apatia daquele universo trazendo tanto as vestimentas quanto o ambiente monocromáticos, sempre brancos ou em tons claros, se mostra pouco inventivo bastando lembrar das referências dos dois filmes que citei no início do texto e de muitos outros que trazem a mesma temática. A impressão que tenho é que estamos vendo uma história que se passa dentro dos prédios da Apple.
Quanto às atuações o único destaque do filme é de Stewart, que tem se saído bastante bem em seus últimos papéis e que aqui claramente se esforça para dar verossimilhança à sua Nia, ao contrário de Hoult que nunca me convenceu antes e aqui muito menos.
Equals é fruto de uma investida que poderia ter sido corajosa, mas acaba por ser covarde parecendo apenas uma tentativa de pegar carona no boom de filmes distópicos que teve início de uns anos pra cá. E mesmo que a intenção tenha sido boa, sabemos que de boas intenções o cinema está cheio.