Desde que assisti ao trailer durante o comercial que antecedia os episódios de Game of Thrones, Euphoria (2019 -) foi amor à primeira vista. Tal qual Rue quando viu Jules pela primeira vez, andando de bicicleta pela rua, fui capturada imediatamente pela premissa e pela estética. Depois da estreia do piloto, eu só confirmei minhas suspeitas: estava apaixonada pela série. Por cada um dos personagens, por todo aquele microcosmos assustador, perturbador, pesado, cativante.
Como a própria Zendaya, que interpreta Rue, alertou ao público na sua conta do Instagram, uma “representação crua e honesta sobre vício, ansiedade e as dificuldades de viver a vida atualmente” feita para audiências maduras embora seus personagens sejam, em sua grande maioria, da chamada geração z. Algo que é no mínimo curioso e não deixa de ser irônico que, mesmo sendo a primeira “série adolescente” da HBO, com a trama situada em ambiente de high school e conflitos que geralmente são trabalhados em histórias voltadas para os jovens, Euphoria tenha recebido, acertadamente, uma classificação indicativa para maiores de idade. Já que, independentemente do tipo de série, a marca registrada do canal estava lá, genitálias e sexo.
Mesmo que, à primeira vista, Euphoria trabalhe com os clichês do universo colegial, como os atletas, as garotas superficiais, as garotas inseguras, Sam Levinson, criador e diretor da maioria dos episódios, ainda consegue acrescentar camadas aos personagens que apresentou, episódio atrás de episódio. Como se só isso já não fosse bastante louvável, Euphoria também não teve medo de arriscar em direção, fotografia, trilha sonora extremamente marcante e atual, figurino, maquiagem e surpreendia em todos os aspectos, todo domingo eu tinha certeza que ficaria completamente fascinada, seja pelo drama daquelas pessoas seja pelo modo que eu estava experienciando aquelas vidas. Nada mais justo do que a série encerrar do jeito que encerrou, de modo catártico através de uma performance apoteótica.
Zendaya e Hunter Shafer, Rue e Jules, respectivamente, vivem personagens tão cativantes que é como se eu tivesse feito amigas íntimas durante a série e realmente sinto saudade de estar na companhia delas, mas não só elas merecem destaque, todo o elenco tem seu momento de brilhar, um aceno especial para o talento impressionante de Sydney Sweeney, Jacob Elordi e Barbie Ferreira, todos, cada um à sua maneira, me deixaram de boca aberta.
Talvez a promessa de uma segunda temporada seja o que mais me deixa apreensiva quanto à série, não que eu duvide que tudo o que eu disse continue ou consiga ser replicado, mas talvez a força de Euphoria tenha se dado justamente por carregar dentro de si essa sensação de urgência, essa impressão de fugacidade, de finitude, algo que remete, de fato, ao nome da série, um momento único, curto, intenso de puro arrebatamento. A HBO não precisa de uma nova Game of Thrones, mas o mundo das séries, os outros canais e serviços, bem que poderiam ter muitos outros picos de euforia como foi essa série do começo ao fim.
Roteirista e podcaster bacharel em Cinema e Audiovisual. Ex-potterhead. Escuta música triste pra ficar feliz e se empolga quando fala de The Last of Us ou Adventure Time. É viciado em convencer as pessoas a assistirem One Piece, apreciador dos bons clássicos da Sessão da Tarde e do Cinema em Casa e, acima de tudo, um Goonie genuíno.