Alexander Payne é um diretor e roteirista que possui um currículo curto, mas consagrado. Seus últimos três filmes chamaram atenção das premiações, sendo indicados em muitas categorias em seus anos respectivos. Dos três, dois deles – Sideways – Entre umas e outras (Sideways, 2004) e Os Descendentes (The Descendants, 2011) – ganharam um Oscar cada em roteiro adaptado e o último, Nebraska (2012), foi indicado a 6 Oscar, incluindo melhor filme. Portanto, quando se teve notícia do seu projeto mais recente e promissor, não se esperava pouca coisa.
Em Pequena Grande Vida (Downsizing, 2017) somos apresentados a um mundo em que a ciência conseguiu desenvolver um método de encolhimento de criaturas vivas a um tamanho minúsculo. Após esse sucesso, a pesquisa é apresentada para a população, sua premissa seria criar novas comunidades em que seres humanos reduzidos a mais ou menos 13 centímetros, solucionando assim diversos problemas de escala global, como superpopulação, escassez de alimentos e excesso de lixo produzido. Para além da mudança física, o processo de transição de encolhimento tem implicações econômicas em larga e pequena escala, os recursos financeiros de quem se submete ao procedimento são convertidos para novos valores, bastante atraentes, ao mesmo tempo que a economia mundial se complica para os que optaram por ficar no tamanho original. Acompanhamos o protagonista Paul Safrânek (Matt Damon), um cidadão comum de classe média, endividado e entediado com a própria realidade que decide passar pela transição do encolhimento juntamente da esposa Audrey (Kristen Wiig).
Até aqui estava indo tudo bem na história e no filme, apesar de não ser a comédia que se esperava pelo marketing, o conceito de ficção científica é envolvente, o tom é leve e fácil de acompanhar, então é uma jornada agradável porque você deseja ver como vivem as pessoas encolhidas, como é o processo efetivamente e quais são as consequências de tudo isso. Só que, bem no ponto de virada, o que poderia se desdobrar em algo inesperado e interessante acaba sendo descartado e subaproveitado. A partir desse momento o filme vai se perdendo, tentando falar de muitas coisas ao mesmo tempo sem conseguir, aposta em personagens e tramas e descarta-os logo em seguida, muda de tom, assim como muda também o caminho do personagem principal e, mesmo quando tenta retomar e definir algum sentido no que foi feito, já quase no fim do filme, não soa tão bem assim. Mesmo que você entenda as motivações (ou a falta delas) do personagem, o filme continuaria arrastado e confuso sobre os assuntos que quer abordar e acaba simplesmente não funcionando.
É uma pena que Pequena Grande Vida seja essa confusão porque os temas que ele tenta abordar não são ruins, pelo contrário, são bandeiras e críticas pertinentes que não mereciam terem sido vistas de maneira superficial como foram. No fim das contas fica essa impressão de que havia essa urgência para tocar em muitos assuntos e de que o resultado é até mediano, mas que ficou muito menor do que poderia ser.
Roteirista e podcaster bacharel em Cinema e Audiovisual. Ex-potterhead. Escuta música triste pra ficar feliz e se empolga quando fala de The Last of Us ou Adventure Time. É viciado em convencer as pessoas a assistirem One Piece, apreciador dos bons clássicos da Sessão da Tarde e do Cinema em Casa e, acima de tudo, um Goonie genuíno.