Overlord (Ôbârôdo, 2015 – 2022) é uma adaptação em anime de uma série de ligh novels de mesmo nome, iniciada em 2010 e até hoje em publicação. A versão animada da trama já conta com quatro temporadas e uma quinta deve estrear ainda em 2024 (ao menos, no Japão).
A história segue a estrutura de um isekai nos moldes que já conhecemos: o protagonista (cujo nome real não é revelado) entra pela última vez no seu jogo de realidade virtual favorito antes dos servidores serem desligados. Porém, quando o jogo deveria ser desconectado, nada acontece. Ele percebe então que é impossível deslogar do seu personagem e não consegue mais interagir com a interface do software. Assim, ele se vê preso na sede de sua guilda, e percebe que todos os NPCs “ganharam vida” e agem de forma autônoma e independente. Descobrimos ainda que toda a sua base foi transportada para outro universo, que não é o mundo virtual nem a nossa realidade. Preso nesse novo mundo de magia e perigos, ele agora é Ainz Ooal Gown, um feiticeiro morto vivo extremamente poderoso e líder de um exército de demônios e monstros que querem dominar essa nova terra.
Embora Ainz não tenha nenhum interesse em dominar o mundo, seus seguidores querem fazer com que ele se torne o governante supremo de todas as nações. Ainz acaba embarcando na ideia, pensando que, dessa forma, ele talvez seja capaz de encontrar seus antigos companheiros do jogo e descobrir que não está sozinho ali.
Overlord conta com personagens bem carismáticos, alívios cômicos interessantes e uma boa trama, porém sofre por ser uma adaptação muito fiel a obra original. Cada temporada conta com apenas 13 episódios e tenta adaptar pelo menos 3 volumes da light novel, fazendo com que muitos fatos sejam apresentados de forma apressada e alguns conflitos sejam resolvidos de maneira anti-climática. A primeira temporada apresenta bem os personagens principais e introduz o mundo que iremos explorar, mas termina de uma forma muito abrupta. Na segunda e terceira temporadas, passamos a maior parte do tempo acompanhando os aldeões, guerreiros e reis desse universo, do que propriamente Ainz e sua guilda. Isso não é, em si, um problema, mas o protagonista e os personagens que o cercam são tão interessantes, que esses outros núcleos narrativos parecem bem mais fracos. O que ajuda a intensificar essa sensação é que nenhuma das três primeiras temporadas têm exatamente um arco narrativo bem definido, tendo pontos de partida e encerramento quase arbitrários.
Na quarta temporada, porém, a história assume um tom mais acelerado e com muito mais ação do que nas anteriores. Agora, também temos um arco narrativo bem delimitado: o desenrolar da primeira guerra de Ainz para dominar o reino de Re-Estize. Embora, sim, muitas coisas ainda tenham sido cortadas e vários conflitos tenham sido solucionados de maneira muito simples, essa temporada compensa toda a construção de mundo que vinha sendo desenvolvida até então, ligando vários pontos e dando desfechos narrativos para quase todos os personagens secundários aos quais fomos apresentados. A personagem que mais se destaca, nessa temporada, é a princesa Renner, que surpreende a todos com suas ações e entrega um plot-twist digno de Game of Thrones. Tendo seu arco iniciado cedo no anime, a personagem se destacava em suas aparições, mas parecia nunca agir de fato, delegando sempre a agência para outros. Agora, entendemos a motivação de suas ações e conseguimos ligar todos os pontos.
Embora essa temporada não escape ao mesmo problema das demais, ao juntar diversas tramas diferentes em um curto espaço de tempo e apressar os acontecimentos, o senso de grandiosidade aqui é muito impactante: estamos enfrentando clãs de dragões e sendo apresentados aos aventureiros mais forte desse mundo, tudo isso enquanto acompanhamos passo a passo o plano de dominação de Re-Estize e a guerra contra o império. Tudo que assistimos até então ganha proporções muito maiores e, embora esse esteja muito longe de ser o fim da história, traz um ar de clímax derradeiro. Se, até então, exploramos junto de Ainz esse universo desconhecido, agora já o conhecemos e estamos prontos para dominá-lo.
A quarta temporada foi, sem dúvida, a mais prazerosa e divertida de assistir, porém talvez tivesse sido muito mais se a introdução dos elementos que culminaram nessa situação tivessem sido igualmente interessantes nas temporadas anteriores. Como um todo, Overlord é um anime divertido, com ótimas ideias e momentos incríveis, mas que falha em se sustentar como uma obra completa. Porém, é uma ótima introdução à trama e pode cativar os espectadores a consumirem o material original.
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Jornalista, roteirista e escritor, apaixonado pela arte de contar histórias. Fã de narrativas de horror e suspense, perdido em mundos de fantasia e magia. Obcecado por musicais e dramas existenciais.