Um garotinho fica sozinho em casa na véspera de Natal e, apenas com sua excepcional inteligência para criar armadilhas e defesas, precisa deter bandidos terríveis que o ameaçam. Se você tiver idade e/ou caráter o suficiente, deve ter pensado no clássico inabalável de fim de ano Esqueceram de Mim (Home Alone, 1990), mas pasme, estou dando uma palhinha do que se passa na mais nova animação do Homem Morcego lançada na Amazon Prime Video, O Natal do Pequeno Batman (Merry Little Batman, 2023). Dirigido por Mike Roth – conhecido por escrever roteiros de episódios de clássicos da animação da Cartoon Network como As Trapalhadas de Flapjack (The Marvelous Misadventures of Flapjack, 2008 – 2010) e Apenas um Show (Regular Show, 2010 – 2017) -, e escrito por Morgan Evans e Jase Ricci, ambos acostumados com animações infantis de super-heróis da DC, como Os Jovens Titãs em Ação! (Teen Titans Go!, 2013 -) e DC Super Hero Girls (2019 – 2021), o filme usa de várias liberdades poéticas para nos falar de um mundo onde Bruce Wayne/Batman acabou definitivamente com todo o crime em Gotham, prendendo absolutamente todos os seus super-vilões, para se dedicar completamente a criação de seu filho, Damian, uma criança endiabrada que idolatra tudo o que está relacionado ao antigo alter ego fantasiado de seu pai.
Em um certo Natal, quando o pequeno Wayne praticamente destrói a mansão de sua família enquanto persegue a pobre gatinha Selina (sim rs) e enlouquece o solícito e velho mordomo Alfred, Bruce adianta seu presente e dá a seu filho uma réplica de seu famoso cinto de utilidades, só que bem mais seguro, com bat-curativos e um bat-apito de emergência ao invés dos tradicionais batarangues e bat-ganchos. É neste clima familiar que uma inesperada ligação da Liga da Justiça obriga Bruce a sair da aposentadoria em plena véspera de Natal, deixando Damian sozinho com o velho mordomo, não sem várias tentativas do garoto de ir junto na empolgante missão de super-herói. Não demora até que o garoto arranje uma maneira de se livrar do velho mordomo para ter a enorme mansão toda para suas estripulias. E é quando acaba se envolvendo em um plano maligno de alguns dos mais ilustres vilões da vasta galeria de Batman para retomar o crime na agora pacífica Gotham.
Sem me estender demais para não acabar dando mais spoilers do que o necessário, devo dizer que esta é provavelmente a história mais divertida que já pude acompanhar de um personagem geralmente tão sério como o Batman, um dos meus heróis favoritos, mesmo com todas as contradições que suas histórias implicam. Ok, o filme não é exatamente do Batman, o protagonismo é quase que completamente de Damian, mas o velho Homem Morcego não fica completamente esquecido, tornando o filme, no fim das contas, sobre pai e filho – e confesso que ter assistido a animação com meu próprio filho deu um gostinho a mais. Mas o que mais me alegrou foi a mudança completa da personalidade do jovem Wayne, um personagem que passei a detestar após o pouco que o vi em cena (principalmente nos filmes animados mais recentes da DC), mas que aqui se mostra um garotinho empolgado ao extremo, com pensamentos rápidos e claramente hiperativo. Teimoso e ranzinza, como o Damian que eu já conhecia, mas ainda assim uma criança maravilhosa de se acompanhar, não deixando a desejar a nenhum personagem clássico do Cartoon Network.
O traço da animação é um show à parte, diferente de qualquer adaptação de personagens da DC que eu já tenha visto, com um traço que lembra bastante o do já mencionado Flapjack e um sensacional design de personagem, desde o Batman com um queixo avantajado e uma barba que evidencia sua paternidade até os vilões, com feições grotescas, mas ao mesmo tempo engraçadíssimas. O humor também tem uma vibe Flapjack, mas lembra também o de Jovens Titãs em Ação!, com tiradas super rápidas e sagazes, mas com uma inocência ainda infantil, muitas vezes indo até para o humor físico, o que funciona perfeitamente na história.
O Natal do Pequeno Batman é uma excelente pedida para assistir neste e em próximos Natais com toda a família, um filme que agradará os fãs mais antigos do herói e talvez até traga o interesse dos mais jovens para um Batman diferente da seriedade a que estamos acostumados. Um história leve e com um aprendizado que pode emocionar até o mais durão dos vigilantes.
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Cineasta e Historiador. Membro da ACECCINE (Associação Cearense de Críticos de Cinema). É viciado em listas, roer as unhas e em assistir mais filmes e séries do que parece ser possível. Tem mais projetos do que tem tempo para concretizá-los. Não curte filmes de dança, mas ama Dirty Dancing. Apaixonado por faroestes, filmes de gângster e distopias.