A maior pergunta que ficou após assistirmos os excelentes Capitão América 2: O Soldado Invernal (Captain America: The Winter Soldier, 2014) e Capitão América: Guerra Civil (Captain America: Civil War, 2016), era como seria um filme de espionagem dirigido pelos Irmãos Russo? Eis que chegamos em 2022 e finalmente temos a resposta para esta pergunta com o lançamento do esperado blockbuster da Netflix, Agente Oculto (The Gray Man, 2022) protagonizado por Ryan Gosling e Chris Evans em um jogo de gato e rato numa trama global recheada de ação.
A trama baseada no livro The Gray Man de Mark Greaney de 2009 conta a história de um mercenário habilidoso da CIA chamado de Sierra Six (Ryan Gosling) que acidentalmente descobre segredos obscuros da agência e passa a ser caçado por um mercenário psicopata chamado Lloyd Hansen (Chris Evans) que coloca uma força tarefa para fazer uma busca global para intercepta-lo usando quaisquer meios necessários.
Com o roteiro escrito a três mãos por Joe Russo, Christopher Markus e Stephen McFeely, o longa tenta estabelecer uma caçada global ininterrupta que bebe da fonte de filmes como 007, John Wick e outros de espionagem que trazem uma trama que roda o mundo em várias locações e entregando ação desenfreada da melhor qualidade.
O que você precisa saber sobre esse longa é que ele tem todos os clichês possíveis, neste ponto a direção dos irmãos Anthony e Joe Russo não inova, mas com certeza sabe trabalhar dentro daquilo que são bons, combates corpo-a-corpo de primeira e muita tensão numa história cheia de adrenalina que apesar de não ser um primor em termos de diálogo e reviravoltas, trilha um caminho seguro que vai no mínimo deixar você na ponta da cadeira do começo ao fim.
Outro ponto que faz Agente Oculto um longa interessante é a forma como consegue entregar uma trama de espionagem cheia de subtramas e conspirações que vão se desenvolvendo e moldando esse mundo de agentes que são treinados para executar perigosas missões, porém são descartados como papel se cometerem algum erro. O roteiro aqui é bom em desenvolver a narrativa como um thriller, mas que claramente necessita de mais suspense, conseguindo apenas ser explicito ao ponto de entregar uma história movida a ação.
É claro que o filme poderia ser mais inteligente em alguns momentos, ainda mais tendo um super elenco com personagens que poderiam render muito mais, porém aqui servem apenas como peça de roteiro de um intrigante quebra-cabeça que poderia ter reviravoltas mais surpreendentes, porém acabamos vendo várias delas chegando à distância. E isto nos deixa com uma incógnita, será que isso faz desta obra um filme fraco? Acredito que não, até porque entrega aquilo que se espera, entretenimento e ação na medida.
Isto tudo também só funciona porque o elenco é muito bom e cheio de rostos conhecidos. Enquanto Ryan Gosling entrega o que se espera dele como um agente letal e cheio de recursos que bate, corre, luta e escapa das piores situações possíveis, temos um vilão canastrão que é o completo oposto vivido por um Chris Evans que escapa da caricatura devido ao seu carisma, que aqui deixa seu personagem mais aceitável, sem falar que ambos atores parecem a vontade em seus respectivos papéis e trazem um humor bacana e rivalidade ácida toda vez que se encontram em tela.
O resto do elenco coadjuvante é um presente, enquanto o longa aposta em rostos conhecidos de veteranos como Billy Bob Thornton e Alfre Woodard (ótima), por outro lado temos Ana De Armas mais uma vez entregando na ação e no carisma, temos o astro indiano Dhanush proporcionando uma das melhores sequências de ação do filme, além da bela Jessica Hedwick e o astro de Bridgerton (2020 -), Regé-Jean Page como agentes da CIA, sem falar na presença ilustre do brasileiro Wagner Moura, cada vez mais presente em produções hollywoodianas. E fechando o elenco temos a jovem Julia Butters no papel de adolescente da vez, uma personagem que as vezes irrita, mas serve peça chave para movimentação da trama.
Em termos de produção, o blockbuster de 200 milhões de dólares faz jus a seu custo ao trazer várias locações ao redor do mundo, muitas delas conhecidas dos Russo, mas usadas de forma a aumentar o escopo e a urgência da história. Destaque mesmo vai para sequência aérea nos céus de um país asiático, além da insana sequência em Praga que vale cada segundo investido na trama até então, com perseguições, tiroteios intensos, destruição desenfreada tudo fazendo jus ao estilo dos irmãos de fazer ação.
A mitologia criada é bastante rica e bem estabelecida, tudo pensado para gerar várias sequências se este primeiro longa for bem recebido. É claro que o ritmo do filme raramente cai do primeiro para o segundo fechando no caótico terceiro ato, mas nos respiros fica claro que falta mais cuidado na direção em certos momentos, principalmente quando os Russo perdem a mão ao abusarem da câmera flutuante que deixa o expectador mais zonzo do que impressionado, sem falar que a edição poderia ser menos picotada em determinados momentos, quando isso não acontece, o filme flui muito melhor.
No geral, Agente Oculto entrega aquilo que se espera de um filme de ação, ninguém pode reclamar desse quesito em relação ao blockbuster. Apesar de não trazer nada de novo para o gênero, o longa é feito na medida para quem curte muita porradaria, sequências insanas e lutas bacanas. Quando o filme não se perde na pirotecnia ou pesa na direção, entrega uma trama de qualidade boa e com bastante potencial, servido de um elenco cheio de estrelas, temos aqui um exemplar de espionagem promissor que se o público abraçar, deve gerar várias continuações, nós fãs do entretenimento escapista, agradecemos.
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Engenheiro Eletricista de profissão, amante de cinema e séries em tempo integral, escrevendo criticas e resenhas por gosto. Fã de Star Wars, Senhor dos Anéis, Homem Aranha, Pantera Negra e tudo que seja bom envolvendo cultura pop. As vezes positivista demais, isso pode irritar iniciantes os que não o conhecem.