Thor: Amor e Trovão – Armas, rosas, melodrama, exagero e o humor do Taika

Thor: Amor e Trovão (Thor: Love and Thunder, 2022) é, sem sombra de dúvidas, uma continuação de Thor: Ragnarok (2017). Dirigido novamente pelo responsável por repaginar o personagem no Universo Cinematográfico da Marvel, Taika Waititi volta ainda mais afiado na missão de fazer do Deus do Trovão e tudo que o cerca uma das coisas mais divertidas desta longeva franquia, e dessa vez se sentindo ainda mais confortável para dar seu tom de humor à história, já que agora, além de dirigir, Taika também co-roteirizou o filme, o que para quem conhece o tipo de humor dele, fica bastante evidente em cada linha de diálogo e piada infame.

Nesta nova “aventura do Thor” – como ele mesmo passa a vociferar -, temos um herói um tanto quanto abatido, mas ainda assim “ajudando” os Guardiões da Galáxia em suas empreitadas pelo universo afora. Até que uma nova ameaça surge colocando em risco todos os deuses do universo, inclusive o próprio Thor. O plano de Gorr, O Carniceiro dos Deuses (Christian Bale) é eliminar completamente todas as divindades de todos os panteões existentes no universo, como uma forma de vingança pelo que lhe aconteceu no passado. Enquanto isso, Jane Foster (Natalie Portman), renomada cientista e, por acaso, ex-namorada humana de Thor, passa por uma grave situação em que nem mesmo a ciência poderá ajudar, precisando apelar para a fé.

Claro que tudo isso ficaria muito melhor sendo contado na voz de Korg (Taika Waititi), e é ele mesmo que se coloca como narrador de boa parte do que acompanhamos e também do que não acompanhamos nessa história.

Não é nenhuma história extraordinária, assim como também não o era a de seu antecessor, mas uma narrativa complicada nunca fez parte do plano de reformulação do Thor. O principal objetivo sempre foi torná-lo carismático, divertido e sensível, o que foi feito com bastante êxito em Ragnarok, não só por mérito de Taika, mas claro, também pela natural aptidão de Chris Hemsworth para este tipo de papel. Nesta continuação o objetivo parece ser reforçar ainda mais estas características, de forma a quase exagerá-las, e isso fica bastante claro quando rapidamente entendemos que a principal referência para o filme, além, óbvio, dos quadrinhos, é o Heavy Metal dos anos 80, especialmente a icônica banda Guns N’ Roses. E não estou falando apenas da trilha musical que, sim, é utilizada em momentos excepcionais e com efeitos arrebatadores, mas da própria essência do filme.

Quem conhece ao menos um pouco das músicas do gênero feitas neste período sabe que o melodrama, o exagero, o épico, são carros chefes em qualquer letra e/ou melodia que se escutasse – sem falar dos clipes -, e são esses os mesmo ingredientes utilizados na construção de Amor e Trovão, com aquela pitada desmedida do humor inconfundível de Taika Waititi. E aí o que poderia incomodar alguns, como a falta de compromisso com o resto daquele universo, ou os excessos evidentes, acabam se tornando parte da piada e nos entregando uma experiência das mais divertidas que já tive com filmes de super-heróis até hoje.

Mas nem só de pastelão vive Amor e Trovão. Algumas doses de um drama bastante denso também são colocadas nesta receita, e é perceptível o esforço empregado para se fazer sério em meio a um filme como este, mas creio que ele consegue quando se faz necessário em momentos pontuais. Além do mais o vilão Gorr, e sua incrível interpretação por Bale, é uma das coisas mais sombrias da Marvel até o momento, me fazendo esquecer rapidamente de algum outro filme da franquia que se propôs a flertar com o horror.

E dentre tanto melodrama e galhofa, Thor: Amor e Trovão consegue trazer uma mensagem que, mesmo que boba, condiz exatamente com algumas das mais bonitas mensagens do hard rock oitentista: o amor é capaz de vencer qualquer adversidade. E já que Taika Waititi trouxe o Guns para o ajudar nessa tarefa, me sinto à vontade para evocar um outro ícone dos anos 80, só que nosso, mais especificamente de Brasília, que dizia: “ainda que eu falasse a língua dos homens, e falasse a língua dos anjos (deuses!), sem amor eu nada seria.”


VEJA TAMBÉM

AVANTE GUERRA INFINITA | Thor: Ragnarok

AVANTE GUERRA INFINITA | Thor: O Mundo Sombrio

AVANTE GUERRA INFINITA | Thor