Sim, ela voltou! A Vermelha, a Sombra Carmesin, a Dama de Vermelho, La Femme Rouge: Carmen Sandiego. Com uma nova temporada focada em encontrar sua mãe desaparecida, sem nunca, é claro, deixar de interferir nos planos da VILE no caminho, mas essa temporada foi com certeza a mais pessoal e centrada na protagonista até agora.
Tecnicamente tudo mantém o mesmo nível, sem decepcionar em nenhum quesito: arte, cenários e movimentação, mesmo que os cenários continuem um pouco vazios, temos um episódio com um desfile onde a tela fica mais movimentada. Do mesmo modo com as cenas de ação, lutas e perseguições, assim como fotografia, direção e trilha sonora. É ótimo a série manter uma qualidade, mas talvez seja hora de evoluir um pouco, a equipe pode ter encontrado uma zona de conforto da qual não quer sair.
Atuações, tanto em voz original como na dublagem, também seguem tendo uma boa qualidade, inclusive acho que a dublagem da série deve ter sido feita em homestudio, com os dubladores trabalhando de casa. E para os amantes de dublagem e de Kim Possible (2002 – 2007) tivemos uma grata surpresa com Fernanda Baronne participando de um episódio. Ela é a voz da Kim e caso você acompanhe os textos que já fiz sobre Carmen Sandiego aqui sabe das semelhanças com essa outra série, inclusive Fernanda era minha aposta para quem dublaria a Carmen antes de começar a assistir.
Mas antes de falar sobre a terceira temporada, vamos a um pequeno recap do que acontece no final da segunda para os que estiverem um pouco perdidos. Primeiro a treinadora Brunt revela para Carmen que Shadowsan supostamente matou seu pai, para tentar jogar os dois um contra o outro, como o professor Maelstrom havia planejado. Quando Carmen vai tirar satisfação com o dito cujo, descobrimos a verdade.
O pai de Carmen era um professor da VILE chamado Dexter Wolfe, que inclusive ministrava a disciplina que, depois, foi de Shadowsan, mas como um bom aventureiro ele estava sempre cumprindo missões e raramente na academia. Porém, secretamente ele estava roubando dinheiro da VILE e se preparando para deixar a agência, por isso mandaram mata-lo.
Quando Shadowsan chegou à casa de Wolfe, ele viu Carmen e entendeu que o homem pretendia deixar a agência para ficar com a família que tinha constituído. Coincidentemente, na mesma noite, a Interpol apareceu, Wolfe escondeu Carmen com a boneca russa e tentou fugir, mas foi morto por Tamara Fraser, ninguém mais ninguém menos do que a Chefe, ainda uma agente, que usaria aquela missão para fundar a ACME depois.
Shadowsan então queimou a casa, levou Carmen e assumiu a responsabilidade pelo assassinato para a VILE. Não satisfeita, Carmen hackeia a ACME, o que deixa a Chefe furiosa, mas consegue descobrir que a casa de seu pai estava no nome de uma mulher chamada Vera Cruz, que já teria falecido, mas isso era mentira e talvez ela ainda esteja viva.
Isso é o que vai permear a temporada e incomodar a cabeça de Carmen, enquanto ela busca pistas sobre a mãe, também pensa bastante sobre família.
Nos episódios da temporada visitamos Buenos Aires na Argentina, Veracruz e Cidade do México no México (dã), Nova Orleans nos Estados Unidos, Veneza na Itália e Londres na Inglaterra, sendo que, exceto o de Londres, os outros são permeados por uma temática de Halloween e também levemente ligados, apesar de ser mais forte nos primeiros, em todos está presente a temática da mãe, da família de Carmen. Tanto que a cada episódio temos personagens com quem a Carmen se identifica: uma mulher que poderia ser sua mãe, uma com seus talentos furtivos, um homem com uma ligação forte com seus ancestrais e etc. Isso tudo com um pouco mais de dificuldade porque ela voltou a ser procurada duplamente.
A VILE está se recuperando da destruição de sua antiga sede, agora estabelecida na Escócia, e temos mais tempo com os líderes, porém de um modo meio bobo, mais voltado para o alívio cômico, o que achei um certo desperdício, pois seria o momento perfeito para suas histórias serem trabalhadas, desenvolvidas e sabermos mais sobre eles.
Com uma nova turma de formandos também temos novos personagens, Spinkick, Flytrap e Troll. Sendo que Troll foi o que eu vi mais potencial por ele ser um hacker, então teríamos pela primeira vez um adversário para o Player. Todos pareciam oferecer um desafio real, mas não, são apenas mais vilões que Carmen dá conta facilmente. Porém, algo interessante foi os vilões já conhecidos formarem equipes que não conhecíamos, já que a equipe padrão era Tigresa, El Topo e Le Chevre, no máximo os dois sem a Tigresa. Agora vimos Tigresa trabalhando com Estrela de Papel e Mímico trabalhando com Neal, foi bom ver a dinâmica dessas duplas.
Do lado da ACME temos a Chefe ainda bem zangada e a dinâmica de Devineaux da Julia muda completamente porque Julia decide sair da ACME e ir fazer alguma coisa que só vamos saber na outra metade da temporada. Zari, que já conhecíamos, se tornou parceira de Devineaux e ele passou por uma transformação, uma mudança interessante, mesmo mantendo aquele jeito meio ridículo ele mudou de um jeito inesperado. De personagens secundários quem teve maior desenvolvimento, além de Devineaux, foi Shadowsan.
O aspecto educacional foi deixado um pouco de lado em função de trabalhar melhor a história, o que pessoalmente achei okay. Talvez seja o momento de fazer isso, mas também acho que poderia haver episódios mais ricos em informações, como o do México poderia ter sido, mas tentaram algumas coisas novas. No primeiro episódio Carmen vai de Buenos Aires para Veracruz e é feita uma comparação entre as duas cidades e entre a Argentina e o México, o que foi novo e bem interessante, mas nesse episódio as informações não são bem aplicadas, e nos outros tentaram algo que é dar informações novas fora do momento das informações, soltar dados novos ao longo do episódio como uma conversa normal, continua bem orgânico, mas fixa menos no espectador.
E sim, a Netflix cometeu o ato horrendo que eu detesto, de partir a temporada ao meio. Tivemos cinco episódios (que passam rápido demais, snif snif) e os outros cinco, a outra metade da temporada, virão depois em uma quarta temporada. Isso inclusive talvez signifique que Carmen Sandiego pode terminar em uma quinta temporada, porque foi esse o mesmo caminho que a Netlix seguiu com She-Ra e as Princesas do Poder (She-Ra and the Princesses of Power, 2018-2020), uma terceira temporada dividida em duas e a quinta temporada foi a última.
Pelo andar da carruagem, pode realmente ser isso que vá acontecer com Carmen, e talvez aconteça de um modo mais desenvolvido do que foi com She-Ra, que apesar de ter uma última temporada ótima, também é muito apressada.
A terceira temporada de Carmen Sandiego é boa, nos traz muito mais sobre a personagem e faz pensar bastante sobre identidade e ancestralidade, além de deixar uma curiosidade para o que os episódios restantes do arco podem trazer.
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Bacharel em Cinema e Audiovisual, roteirista, escritora, animadora, otaku, potterhead e parte de muitos outros fandoms. Tem mais livros do que pode guardar e entre seus amigos é a louca das animações, da dublagem e da Turma da Mônica. Também produz conteúdo para o seu canal Milady Sara e para o Cultura da Ação TV.