A Babá: Rainha da Morte – A sátira descomedida da adolescência

Somando três colaborações com a Netflix, é notável que McG tem trabalhado com temáticas semelhantes com a grande vermelha: o coming of age. Contudo, é incontestável que seu estilo encontrou apreço do público através de A Babá (The Babysitter, 2017). Humor negro, mistura de estilos e uma comicidade irônica e cínica, rendeu um divertido relato da pré-adolescência absurdamente expandido num culto satânico, respigando o gore e identidade. A produção parecia ter dado conta numa só cajadada, mas eis que a seita sanguinolenta voltou em A Babá: Rainha da Morte (The Babysitter: Killer Queen, 2020) ampliando a sátira exagerada e exacerbada da adolescência.

É possível enxergar a satisfação do diretor pelo que tem desenvolvido nessas duas empreitadas. Se no antecessor, a escrotice surgia dosada, às vezes discreta e até implícita (só inocente para não ver), aqui McG pega todos os ingredientes da receita e triplica, sem freio do que deseja ostentar. Já é sabido que breguice e falta de moderação o também responsável por As Panteras (Charlie’s Angels, 2000) e o piloto da série Chuck (2007 – 2012) conduz de olhos fechados, mas nesta sequência, é como se ele não se importasse o quão datados estão certos arquétipos humorísticos, contanto que possa brincar com a linguagem e aplicar nos seus moldes. Nisso, pra começar, o longa já abre com uma espécie de refilmagem da abertura de A Babá, justamente para sinalizar o caminho que irá seguir.

Tendo a base dos receios de reconhecer a vulnerabilidade (nem que isso fosse visível no medo de tomar vacina), foi assim que conhecemos Cole (Judah Lewis). Mas agora, sua fragilidade está mais forte, visto a experiência traumática que teve com Bee (Samara Weaving) e a trupe de sádicos bobocas que a acompanhavam. Ou seja, Cole é caracterizado como um típico protagonista sobrevivente de filmes de terror, onde tem seu testemunho invalidado e, mesmo com o medo tomando conta, tenta se inserir a normalidade. Porém, a passagem na adolescência não é curta, então, o culto retorna mais louco e caótico que a primeira vez – e de novo, McG jogou com a refilmagem de cenas do anterior, faltando apenas o efeito do imprevisível eclodindo em tela.

A partir disso, é tocar para uma viagem insana e sem volta, a qual apoiada em acertos e erros, a sequência de A Babá pode ser um passatempo divertido – para quem estiver com saco e na vibe de surfar nessa onda do McG. A intenção do cineasta é tratar das várias questões que lidamos na adolescência de maneira debochada, sem definir, de fato, um ponto de discussão a ser levado a sério – preferindo uma crítica a futilidade – , mas que ainda assim, fale de alguma delas. Porém, não é por optar por tal abordagem que se obtém o efeito esperado, ou ao menos, orgânico da coisa. A cena em que Phoebe (Jenna Ortega) se apresenta na nova classe é um exemplo da tentativa do diretor em causar um desconfortável, cômico e inteligente desdobramento autoral, mas que pode ou não funcionar para quem assiste, uma vez que a tática está atrelada a fórmula de fazer humor que zomba da própria investida.

No entanto, o critério aqui era não ter limites. Se na empreitada anterior a pegada slasher marcou presença, em Killer Queen o diretor não economiza com cabeças explodindo, corpos esmagados e olhos saltando ao explorar os cenários e inserindo mais e mais estilos – são inclusões aleatórias como a cena de luta de videogame que pontuam a abordagem louca. Contudo, ainda que com os meios desbocados de realizar essa receita satírica, o modo de preparo erra no passo a passo em certos pontos. Há momentos que é claro o divertimento e marca do diretor, mas também, ao apelar com outras facilidades cômicas, o resultado fica em excesso. O que cito aqui John (Andrew Bachelor) e sua personalidade ambulante de referenciar e zombar da cultura pop, destoando assim, do evidente retrato dos besteiróis americanos por meio de Max (Robbie Amell), Allison (Bella Throne) e Sonya (Hana Mae Lee).

Assumindo um trash escroto, Killer Queen veio para repetir a dose de sucesso, mesmo que para isso ignorasse os furos (o livro que foi queimado, mas aparece inteiro) e com justificativas didáticas buscando efeitos emotivos (a ligação de Phoebe com Bee), mas que no final alcança o que quis ser: uma comédia de terror desenfreada sobre a adolescência. Com ar de “ainda voltarei”, McG já pensa numa trilogia. A Netflix vai dar sinal verde para o culto?


VEJA TAMBÉM

6 Filmes de terror que a crítica odiou, mas o público não

Host – Faz o óbvio com eficiência