5 Séries derivadas de filmes

É bem verdade que, para a maioria, uma vez envolvido no mundo das séries, não tem mais como desapegar. Ao menos uma produção da telinha foi responsável por apresentar tal universo narrativo a você que lê este texto. Há até quem prefira o formato de série ao cinematográfico, pela chance de ter um melhor desenvolvimento na história. Talvez, esse seja um dos principais motivos que leva a investir – como o caso do ainda inédito remake de Duna (Dune, 2020), o qual está preparando ponte para uma série -, mesmo que isso não reflita sinônimo de sucesso no percurso, afinal, às vezes só sobram as intenções. Pensando nisso, separei 5 séries derivadas de filmes, das derrapadas aos acertos que tiveram o propósito de dizer mais acerca daquele filminho.


Scream

(2015 -)

Essa pode ser uma das mais conhecidas, mas é também um dos exemplos que não deram muito certo. Para começar, ter a ideia de explorar a mitologia revolucionária da franquia Pânico (Scream) tão bem equilibrada na sua trajetória (e que em breve vai voltar para um quinto capítulo), dependeria da ousadia e uma visão criativa que soubesse conversar com um novo público e agradar a legião de fãs. Apesar do início empolgante, para quem não estava acreditando no que a MTV iria trazer, a produção executiva do diretor Wes Craven na  primeira temporada, assim como os talentos do roteirista Kevin Williamson (permanecendo até a fase mais recente), Scream (2015-) se desfazia do seu potencial ao mesmo tempo que tentava mostrar a que veio – acabou deitando, capotando, levantando e cambaleando, e agora espera a sentença final.

Dizer que a versão televisiva foi de toda ruim, seria injusto, e dizer que foi boa, uma baita mentira. Em resumo, Scream: The TV Series nunca soube onde estava indo, mesmo que pintasse algo promissor. O lance não se tratava apenas de jogar com o “nova década, novas regras” e incorporar a trama à referências pífias aos vários títulos prestigiados do horror (foram poucos os momentos que de fato o enredo conseguiu contextualizar com o nome posto no episódio, como o quase excelente 2×04, Happy Birthday to Me, ou o seguinte, 2×05, Dawn of the Dead), e sim entender o choque que os filmes de Pânico causaram desde 1996 e a linha lógica acompanhada pelas sequências.

Por um pouco, ainda que com os atores apáticos escolhidos para protagonizar a empreitada, a série parecia entender o contexto metalinguístico que precisava empregar, e o maior exemplo disso está no seu piloto, no interessante debate na sala de aula ao qual os colegas de classe falavam sobre clássicos literários dispostos na telinha, até Noah (John Karna) chegar no ponto chave: não dá para adaptar filmes slashers como séries de TV. Nisso, traçava argumentos, ponderando que a fórmula logo se perderia, visto os dois formatos distintos, enquanto a montagem já encaixava o bom texto da cena, à descoberta do primeiro corpo na fictícia Lakewood. Um assassino, matança e final girl, só de três elementos se fazia o slasher?

A isca era essa, e era muito boa por sinal: a safra slasher tem seu modelo, mas como ficaria numa série? Certo que, já imaginamos os desdobramentos se a aposta não se inspirasse na franquia de Wes Craven, e trouxesse um assassino a uma cidade e exercitasse a fórmula do slasher, mas insistir foi escolher a própria forca. De longe, o ano inicial promoveu a fase mais proveitosa da produção, porém, as trilhas para explorar a premissa cinematográfica sem enfraquecer o argumento, não justificava o péssimo roteiro. Então, tivemos algo que quis contextualizar série x filme, e considerando seu canal de origem, desenrolaram um apelo teen mesclado a uma trama que não se comprometia.

No geral, o desempenho de Scream: the TV Series não levava seu público a sério, e o pior, não compreendia mesmo o material ao qual se inspirou. Mudaram os showrunners, e na segunda temporada o máximo de entrega foi referenciar filmes nos títulos dos episódios – mesmo diminuindo o teor da fórmula teen contemporânea na TV. O terceiro ano se deu com um reboot, passo mais ousado desde a cena de debate em classe, e que porém, não alcançou o efeito que pretendia dada a execução e texto repleto de furos. A franquia marcada para retornar em 14 de janeiro de 2022, está com empolgação fervorosa dos fãs, e esse seria o momento ideal da versão televisiva se despedir e largar esse osso com larvas e terra que ninguém quer mais conta. Bate logo esse martelo que o Ghostface tá voltando.


Bates Motel

(2013 – 2017)

Diferente do exemplo anterior, a segunda série desta lista foi um bom fruto. Despontando em 1960, Psicose (Psycho) se tornou marcante desde seu planejamento para um longa-metragem. A história era de arrepiar os cabelos, permear a dúvida e chocar com a tragédia, e Alfred Hitchcock quis ocultar o máximo do conteúdo, a ponto de comprar todos os livros existentes, os quais continham informações essenciais acerca do seu filme.

Apesar de contar com três sequências que se encerraram em 1990, com Psicose 4: A Revelação (Psycho IV: The Beginning), o que garantia mesmo as investidas, era ter Anthony Perkins reprisando seu papel na pele de Norman Bates. Não importava o quanto o texto não tinha a mesma sacada de Joseph Stefano, tampouco, a direção magistral de Hitchcock, mas Perkins se esforçava. De longe, o último capítulo antes do remake de 98, foi o que mais trouxe um toque de curiosidade e frescor para a trama que parecia não andar pra frente depois de Psicose 2 (Psycho 2, 1983) – e acharam lindo jogar com um filme para TV em 87, o chamado Bates Motel.

Foi então que, em 2013, Carlton Cuse, Kerry Ehrin e Anthony Cipriano desenvolveram um prequel com mote contemporâneo para narrar o passado do psicopata Bates. O curioso nisso é que, mesmo se passando longe da década de 60 e trazendo a história para o atual, a regência, assim como a ambientação, se caracteriza por manter uma peculiaridade que pouco apelava para a bolha da atualidade, e sim, nos remetia à época do filme original – como as roupas e o penteado de Norma (Vera Farmiga).

O sucesso de audiência do primeiro ano, garantiu logo a renovação para mais dez episódios, e ainda que não tenha sido 100% enxuta ao conduzir as façanhas, no geral, a atração recebeu muitos elogios, aproximou o clássico para um novo público e nos marcou com as primorosas atuações de Freddie Highmore vivendo o Norman assim como Farmiga interpretando a sua icônica e cômica Norma.

A química da dupla era incrível, e com certeza Bates Motel cumpriu seu intuito de narrar o início dessa história conturbada sem oferecer um desserviço. Se bem que cinco temporadas é o suficiente para Hollywood não considerar outro remake tão cedo – e seria suado arranjar outras performances tão empenhadas.


The Exorcist

(2016 – 2018)

Acho que nem precisa pensar muito para perceber que a indústria norte-americana tem jogado como isca a ideia de tornar suas revisitações atraentes: é uma nova história, mas continuando daquela onde tudo começou – o lucro. Podemos ver isso, por exemplo, em Halloween (2018), Exterminador do Futuro: Destino Sombrio (Terminator: Dark Fade, 2018), e no caso das séries aqui, The Exorcist (2016-2018).

Como no caso de Scream, O Exorcista (The Exorcist, 1973) foi e segue sendo memorável, mas Jeremy Slater achou proveitosa de realizar para a Fox uma versão televisiva, ignorando as duas sequências do longa, trazendo então uma trama que acompanharia os eventos decorrentes da trama original.

De fato, Jeremy estava certo. Com bastante uso de CGI e menos maquiagem para caracterizar, a trama da primeira temporada foi muito feliz ao introduzir seu tema que não se limitava apenas em retomar ao clássico de 73: o exorcismo. Certo de que o miolo demorou a engatar, mas a proposta não pretendia ir longe dos dez episódios encomendados, e graças a isso, é inegável que o forte não estava em trazer mais da vida de Regan (para quem não viu, vou poupar o spoiler da sua intérprete), e sim pela independência ao abraçar seu universo tão bem encabeçados pelos padres Tomas (Alfonso Herrera), Marcus (Ben Daniels), e Bennett (Kurt Egyiawan).

Infelizmente, ter boas críticas não impulsionava a audiência, o que levou ao cancelamento após o segundo ano. No aproveitamento mais inteligente e criativo que se fez, The Exorcist era isso: começou com o mote do clássico e partiu a se aprofundar no, ainda cheio de tabus, mundo das possessões e exorcismos. Se vale a curiosidade, um reboot com ideia parecida (rejeitando as sequências e continuando a narrativa do original) já está em produção. O corpo esfriou em 2018 e lá vai Hollywood de novo!


Cobra Kai

(2018 -)

Nem só de terror se faz uma lista. Analisando bem, além do terror e suspense, o gênero de ação vem ganhando bastante destaque nas telinhas. Das muitas produções, a ideia parte de um prequel ou de dar continuidade ao universo apresentado nos filmes – é reboot em formato de série, minha gente!-, como no caso de Cobra Kai (2018-). Anteriormente adquirida pelo YouTube Red, o maior sucesso do streaming antes de ser vendido para a Netflix, a dita série ganhou popularidade por seguir, 34 anos depois, as consequências do final clássico de Karetê Kid – A Hora da Verdade (The Karete Kid, 1984).

Dos exemplos anteriores, essa é a que melhor surfou – e surfa -,  encontrando doces frutos do carinho dos fãs graças a criatividade aplicada para reviver o palco do dojo Cobra Kai. Talvez, se o projeto não fosse pensado em formato televisivo, poderia não ir tão bem já que em 2010 ganhou um reboot estrelado por Jack Chan e Will Smith, mas já com outra temporada pronta, a série de Karatê Kid ainda tem muito a render se continuar tocando seu potencial com essa ambição criativa que cativou e surpreende.

Basicamente, a trama trouxe o dilema dos, agora adultos, Johnny Lawrence (William Zabka) e Daniel Larusso (Ralph Macchio), com contrastes divididos pelos caminhos que seguiram: o primeiro  ainda lutando no dojo, e o outro um empresário que abandonou a carreira de luta e agora quer reparação através do Cobra Kai. O sucesso todo se trata apenas de um segundo round com ares de “quero de volta o que é meu”?


Fargo

(2014 -)

Para encerrar esta lista, venho com outro exemplo de sucesso. Dentre os filmes supostamente inspirados em fatos reais mais que não são, Fargo (1996) ganhou grande notoriedade quando lançado. O motivo foi se tratar de um suspense policial com toques de humor ácido, assinado e dirigido pelos Irmãos Coen.

Naquela vez, além do Oscar de Melhor Atriz para Frances McDormans em 97, e de Melhor Roteiro Original para os Coen, a dupla também venceu prêmios no BFTA, Cannes e Bodil (premiação dinamarquesa), por isso, ao ser anunciada pela Fox a encomenda de uma série de nome homônimo com produção executiva dos irmãos e com o mistério se o enredo se trataria ou não de algo verídico, as expectativas não poderiam ser baixas.

Com a atual temporada em pré-produção (sendo a única a dispor de 11 episódios, um a mais para o padrão da série), a atração deu super certo ao trazer, em cada temporada, uma história policial diferente, contendo, claro, o característico humor bizarro. Depois de três anos desde a terceira fase, é sinal que a antológica Fargo (2014-) esteja mais que pronta para atrair mais elogios e prêmios no seu retorno, previsto para o dia 27 deste mês de setembro.


Menções honrosas para as vindouras Chucky, que continuará a história da saga de filmes proposta numa narrativa mais atual sobre tecnologia, brinquedos e crianças, Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado, baseada no enredo do primeiro filme e Parasita, série inspirada no emblemático longa de Bong Joon-Ho para a HBO ao qual já teve Mark Ruffalo confirmado no elenco, mas mantém mistério sobre a trama.

Sentiu falta de alguma série inspirada em filme? Diz aí nos comentários.


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