Nós sabemos bem como é difícil para um filme nacional ser bem divulgado. Ele fica por baixo de todos os estrangeiros, que recebem mais atenção da mídia, têm mais dinheiro para marketing e ainda pegam mais salas de cinema. Foi nesse cenário que eu fui assistir Os Enforcados (2024), sabendo nada além dos nomes dos atores que interpretam os protagonistas. E que surpresa incrível.
Os Enforcados conta a história de um casal que tenta sair do negócio criminoso da própria família, envolvido com caça-níqueis, jogo do bicho e afins. No entanto, seus esforços só os empurram ainda mais fundo no buraco do qual esperavam escapar.
É claro que a sinopse já entrega uma história de crime, mas o que não fica explícito é o tom tragicômico da situação absurda em que os protagonistas se envolvem. Os planos mirabolantes que eles criam acabam servindo apenas para aprofundar ainda mais a lama em que estão. E mesmo que a gente ria de nervoso ou da ironia de tudo aquilo, o filme tem um peso dramático muito claro. O buraco aqui é o do crime organizado do Rio de Janeiro, e cada decisão errada leva o casal a um beco cada vez mais estreito, mais escuro e mais sem saída.
Irandhir Santos e Leandra Leal seguram praticamente sozinhos toda a narrativa. Estão em tela quase o tempo inteiro e fazem isso com uma química intensa e uma força dramática que nunca cansa. A transformação que os personagens sofrem ao longo do filme é uma das maiores qualidades da obra. Eles mudam muito, tanto como indivíduos quanto como casal, e acompanhar isso é um dos pontos altos da experiência.
A direção é de Fernando Coimbra, o mesmo de O Lobo Atrás da Porta (2013), e mais uma vez ele entrega um trabalho cru, marcante e preciso. Sabe exatamente quando chocar e quando ser sensível. Sabe onde parar, quando respirar e quando acelerar. É uma condução que segura o espectador até o fim.
Ao sair da sessão, fiquei com a certeza de que esse vai ser mais um daqueles filmes tratados como joia rara. Uma gema escondida que pouca gente viu, mas que tem tudo para cativar qualquer fã de histórias criminais. Em tempos em que qualquer documentário morno de true crime da Netflix faz sucesso, Os Enforcados merecia muito mais atenção. Mas, infelizmente, é bem provável que muita gente nem fique sabendo que esse filme foi lançado.
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Estudante de Publicidade na Universidade de Fortaleza, Miguel é o Sonserina mais Lufa-Lufa que se tem notícia. Esse grande apreciador de açaí passa a maior parte do seu tempo tentando ser o mais legal possível. E quase sempre consegue. Legalzão é cheio de surpresas, chora fácil, ri mais fácil ainda. Gosta de cozinhar, toca um monte de instrumentos, ama correr, assistir filmes de ação, joga videogame como quem respira e venera animes de esportes, quase tudo na mesma medida (a medida do exagero).