É engraçado ter crescido assistindo alguns musicais mais mainstream, como Mamma Mia! (Mamma Mia!, 2008), e sentir falta de mais obras musicais vindas do cinema brasileiro. Sentar-me na sala de cinema para assistir O Melhor Amigo (2024) se mostrou uma experiência particularmente satisfatória, emocionante e divertida. Allan Deberton – diretor do ganhador de inúmeros prêmios nos recentes anos Pacarrete (2019) e muitos outros – conseguiu trazer uma essência satisfatória e tocante para a história de Lucas (Vinicius Teixeira) buscando viver um romance de seu passado na praia de Canoa Quebrada.
Não sei se de forma proposital ou mesmo se é uma memória afetiva, mas achei muito criativa a presença de Canoa Quebrada, muito me relembrou a ilha onde o filme Mamma Mia! se passa. Temas especificamente diferentes, mas a atmosfera onde o ambiente, as cores, o espaço vibra junto dos números musicais contribui para essa sensação. Contar essa história numa das cidades turísticas mais conhecidas do Ceará traz uma magia peculiar essencial para a atmosfera praiana e colorida da obra. Para encerrar possíveis comparações, O Melhor Amigo é O Melhor Amigo, mas também um Mamma Mia Brasileiro.
Um elenco fenomenal misturando talentos cearenses e nacionais, mas obviamente sinto a necessidade de ressaltar como a obra não seria a mesma sem a presença de Deydianne Piaf, Muriel Cruz, Souma e Mulher Barbada. As quatro contribuem de forma única para a atmosfera não apenas musical, por suas vozes e performances, mas também como uma pessoa cearenses é necessário reconhecer a importância de trazer talentos do estado para um filme feito aqui. Elas entregam de todas as formas possíveis, inclusive Deydianne é uma parte mais do que essencial para a narrativa, ainda sendo capaz de entregar um dos planos mais bonitos da obra com um cigarro na mão e uma parede – quando assistirem irão entender.
Mais importante, elas interpretam a si mesmas no musical.
Mas falando um pouco do romance do filme, O Melhor Amigo fala sobre a busca de Lucas por um amigo do passado, alguém por quem ele havia se apaixonado e nunca foi capaz de superar e de repente sumiu de sua vida deixando aquele sentimento de “e se”. Porém, sua vida não parou, e quando o filme começa é mostrado como ele seguiu em frente e está tendo um relacionamento com Martin (Leo Bahia). Devido a sua vontade de se encontrar, Lucas pede um tempo da relação e decide viver algo louco viajando para Canoa Quebrada para passar um final de semana. De repente lá ele encontra Felipe (Gabriel Fuentes), o melhor amigo do título do filme e do começo desse parágrafo.
Quando os dois se conheceram, no primeiro semestre da faculdade, Lucas menciona como nem sabia exatamente quem ele era – até achando ser hétero na época – e como depois de um beijo em um rolê onde os dois haviam bebido Felipe havia sumido. A razão de Lucas ter ido “viver” esse final de semana parece ter sido sobre Felipe, mas isso não o proíbe de aproveitar os sabores e prazeres da cidade, mesmo ele sendo tímido. Sutilmente é mostrado como só há uma pessoa no coração de Lucas, através de sua capacidade de se despir de suas inseguranças.
O desejo e a química entre os personagens, apesar de terem personalidades extremamente distintas, tornam possível assistir o desenrolar desta história de forma o mais interessante possível. No caminho de sentimentos, “amar” pode não ser o suficiente, mas viver um amor pode marcar as vidas das pessoas para sempre, às mudando. O destino é tão importante quanto o caminho para chegar lá, mas é bem mais satisfatório aproveitar da melhor forma o caminho.
O cuidado da direção, da fotografia (assinada por Beto Martins) e da direção de arte (Rodrigo Frota) desse filme em conseguir transmitir sentimentos e sensações específicas são notáveis e agem de forma criativa ao longo da obra. Íntimo, emocionante, divertido e engraçado, O Melhor Amigo se mostra uma obra brilhante e solar com participações especiais, um desejo de cantar e viver um grande romance nem que seja um final de semana.
O Melhor Amigo chega aos cinemas no dia 13 de Março.
VEJA TAMBÉM
Pacarrete – Do direito à loucura
A Filha do Palhaço – Laços não convencionais também podem ser bons laços
Cineasta graduade em Cinema e Audiovisual, produtore do coletivo artístico independente Vesic Pis.
Não-binarie, fã de super heróis, de artistas trans, não-bináries e de ver essas pessoas conquistando cada vez mais o espaço. Pisciano com a meta de fazer alguma diferença no mundo.