Quando a série Andor (Andor, 2022-2025) estreou em meados de 2022, mencionei na minha crítica que o “Star Wars para adultos” era simplesmente visceral. Uma série que trazia uma pegada mais madura, política e muito bem executada ao contar a história do rebelde Cassian Andor (Diego Luna) anos antes da sua missão final no filme Rogue One: Uma História Star Wars (Rogue One, 2016).
A série criada por Tony Gilroy foi um marco, não só pela ousadia de mostrar uma narrativa que fugia de todos os padrões que moldaram o universo Star Wars, mas trazer um contexto desafiador que pegou até mesmo o fã mais fiel de guarda baixa, entregando um entretenimento complexo e tremendamente bem feito.
Baseado nisto, a segunda temporada tinha a missão de continuar o que foi estabelecido e fazer a ponte final até o filme protagonizado por Jyn Erso (Felicity Jones). Foi então que no dia 22 de abril estreou finalmente a última jornada de Andor até seu destino trágico, que terminou dia 13 de maio de uma forma não menos que espetacular.
A série não só conseguiu manter a qualidade da primeira temporada, como conseguiu elevar a tensão, o suspense e o perigo em níveis inimagináveis. Não existe apenas mocinhos e bandidos aqui, existe personagens cinzas que transitam entre o lado bom e mal absorvidos por um contexto político pesado, que funciona como uma bomba relógio prestes a explodir.
A única ressalva de Andor vai para seu começo, um tanto quanto lento e com a leve impressão de que a narrativa estava demorando a engatar. Porém, não se engane, os três primeiros episódios – que funcionam bem como o primeiro arco da série – se passam um ano após os eventos da primeira temporada, com os episódios One Year Later (2×01), Sagrona Teema (2×02) e Harvest (2×03), que são basicamente a forma como os personagens são relembrados e posicionados numa teia de conspiração que atinge os dois lados do conflito.
Ao trazer a dinâmica de três episódios para cada arco de volta, com um avanço de um ano entre cada final de capítulo, a série ganha em urgência e consegue prender a atenção do expectador do começo ao fim. O escopo político se torna peça chave para série elevar seu patamar e atingir um nível poucas vezes alcançado pela saga.
O segundo arco com os episódios Ever Been to Ghorman? (2×04), I Have a Friend Everywhere (2×05) e What a Festive Evening (2×06) mostram que o perigo nunca esteve tão próximo e os riscos nunca estiveram tão altos, enquanto a ala política, com Mon Mothma (Genevieve O’Reilly), Kleya (Elizabeth Dulau) e Luthen (Stellan Skarsgård) encontram vários entraves.
A guerra volta seus olhos para a comunidade Ghorman, onde império e rebeldes travam um conflito silencioso com as peças se movendo nesses três episódios com uma clara conspiração se desenvolvendo no plano de fundo, trazendo um clima de espionagem que vai crescendo numa teia de relações complexas onde cada passo, cada peça deste tabuleiro fosse importante para algo que está preste a acontecer.
É com este sentimento que a série trouxe da temporada anterior e aqui finalmente eclode, com planos finalmente tomando forma e sendo executados abrindo uma sequência de eventos que vai desembocar na guerra aberta entre Império e Aliança Rebelde no Episódio IV de Star Wars. E Andor não para por aí, a série continua intensa principalmente quando acompanhamos a trama do próprio Cassian, em contraponto a história dos soldados do império Syril Karn (Kyle Soller) e Dedra Meero (Denise Gough) que aqui mostram as consequências daqueles que se entregam a causa do Imperador.
O melhor desta narrativa é finalmente escancarar, de uma forma bastante explicita, o monstro do fascismo na sua pior forma, quando chegamos no melhor arco da temporada com Messenger (2×07), o brilhante Who Are You? (2×08) e o excelente Welcome to the Rebellion (2×09), que traz uma atuação impecável de Genevieve O’Reilly no papel de Mon Mothma, que recita um discurso de arrepiar, mostrando que esta é mesmo a série do ano.
A qualidade desses dois episódios mostra não só uma construção de personagem e narrativa no seu ápice de qualidade, mas coloca Star Wars num patamar de excelências poucas vezes visto no audiovisual. As críticas e as camadas políticas desses episódios impressionam pela execução precisa da direção, a riqueza de diálogos do roteiro, a produção impecável e atuações de tirarem o fôlego revelando o Império como um inimigo cruel na melhor analogia aos conflitos que enfrentamos na atualidade, como o conflito entre Gaza e Israel, ou Rússia e Ucrânia.
O pano de fundo que Andor estabelece nos seis últimos episódios é de uma destreza tão impressionante que é difícil parar de assistir. A qualidade da produção é gigante, passando pela trilha sonora épica e ao mesmo tempo sufocante, pela sonoplastia que acentua o suspense, terminando com os efeitos visuais práticos na construção de cenários e sequências de ação, tudo muito bem pensado e bem inserido tornando tudo mais crível.
É simplesmente incrível como o seriado consegue subir o nível e não descer mais ao apresentar o arco final com uma sequência espetacular de episódios com o fantástico Make It Stop (2×10), trazendo atuações surpreendentes da novata Elizabeth Dulau e do veterano Stellan Skarsgård, além do excelente Who Else Knows? (2×11), com uma sequência de tirar o fôlego em Coruscant no melhor estilo thriller de ação de Guerra Fria, terminando com o series finale impecável de Jedha, Kyber, Erso (2×12), que faz conexões, traz uma atuação poderosa de Diego Luna e a certeza que estamos testemunhando um marco da TV.
Andor é daquelas obras-primas que vão ficar marcadas não só pela qualidade, mas pela ousadia de entregar tudo aquilo que precisávamos assistir no universo Star Wars. Não existe ponto de retorno aqui, Tony Gilroy e seus roteiristas com carta branca da produtora Kathleen Kennedy entregaram uma extensão desse universo trazendo ainda mais simbolismo à vitória dos rebeldes na trilogia clássica.
A série lembra das grandes perdas pela causa em duas temporadas com personagens complexos movidos por um único objetivo, a liberdade contra um regime ditatorial. A última cena do seriado traz esperança e é uma finalização satisfatória que aponta o caminho imediato que vai fazer você não esperar os créditos subirem para começar a assistir a Rogue One, que fica ainda melhor depois da construção estabelecida por Andor, de longe a melhor série do universo Star Wars.
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Engenheiro Eletricista de profissão, amante de cinema e séries em tempo integral, escrevendo criticas e resenhas por gosto. Fã de Star Wars, Senhor dos Anéis, Homem Aranha, Pantera Negra e tudo que seja bom envolvendo cultura pop. As vezes positivista demais, isso pode irritar iniciantes os que não o conhecem.