Levando em conta a imensa quantidade de jogadores e fãs, e dada a longevidade do sucesso de Minecraft, precisamos confessar que já estava demorando para que um filme live action envolvendo o jogo fosse lançado, afinal, seria uma aposta certeira de lucro, o que podemos notar com as notícias sobre a bilheteria após a estreia de Um Filme Minecraft (A Minecraft Movie, 2025). Ainda mais quando observamos a reviravolta que algumas adaptações de jogos clássicos para o cinema têm dado nos últimos anos (vide Super Mario Bros. e a franquia Sonic, Angry Birds entre outras), já que antes disso o mais comum é que esse tipo de adaptação enveredasse mais para o fracasso completo do que o contrário. Talvez o alvo anterior não estava tão bem pensado pela indústria, que insistia em adaptar jogos mais voltados para um público adulto, agora, o foco parece ser o público infantil, o que tem se mostrado um frutífero acerto.
Bem, jogo Minecraft praticamente desde que se é possível jogar Minecraft. O jogo me cativou imediatamente pela gama de possibilidades que me trazia, unindo desenvolvimento criativo com a alegria de poder coletar recursos e ir melhorando de “vida”. Um jogo de sobrevivência em mundo aberto e que depois foi ganhando ares de um RPG simples e que ainda possibilitava jogar em grupo, com amigos. Outro ponto que logo me fez gostar de passar horas em frente ao PC jogando foi exatamente o que, de início, parece ter afastado algumas pessoas: os gráficos propositalmente quadriculados, proporcionando uma jogabilidade diferente de tudo o que eu já havia visto até aquele momento. Meu filho nasceu, anos depois, e coincidentemente ou não, alcançou um novo boom de jogadores, impulsionados pelos gamers, youtubers e streamers que começavam a pipocar na internet, se beneficiando da já conhecida capacidade inventiva do jogo. Passamos então a jogar juntos, o que me deu um novo olhar para Minecraft, me fazendo apaixonar-se ainda mais por aqueles mundinhos cúbicos que explorávamos a cada nova jogatina.
Dito isto, foi com grande expectativa que aguardamos a vinda desta adaptação. Afinal, Minecraft, apesar de grandioso, não é um jogo com uma narrativa que se pudesse transportar para o cinema. Não é que fosse difícil de adaptar, mas sim que não havia exatamente o que adaptar. Claro que já haviam várias animações que utilizavam o mundo e a mitologia do jogo para contar histórias dentro dele, mas um live action seria um desafio completamente diferente. E, de fato, quando finalmente assistimos ao filme, essa dificuldade ficou ainda mais óbvia, e o que me pareceu é que os roteiristas simplesmente desistiram de pensar em algo muito elaborado e decidiram apostar na aleatoriedade (o que, compreendo, também é uma das possibilidades que o jogo nos permite).
O filme começa com Steve, uma criança que tinha verdadeira obsessão por cavernas e mineração, mas que nunca conseguia permissão para entrar numa mina para viver as grandes aventuras que imaginava. Até que cresce (vira o Jack Black) e sem conseguir ser feliz em um trabalho chato de adulto decide reavivar sua antiga obsessão e finalmente enfrentar as cavernas. É quando coincidentemente encontra um artefato mágico que abre um portal para um mundo mágico, onde quase tudo é possível. Sim, parece que foi uma criança que deu o pontapé inicial para esse enredo, e não uma das mais inteligentes.
O conflito que une essa introdução a uma variedade completamente aleatória de personagens que se junta a Steve é tão simplório quanto se possa imaginar, e é assim que o filme segue até sua conclusão. O que um fracassado campeão de um jogo antigo, brutamontes e sem um pingo de noção, Garrett (Jason Momoa), dois irmãos sem nada de especial que acabam de se mudar para uma pequena cidade, Henry (Sebastian Hansen) e Natalie (Emma Myers), e uma corretora de imóveis que faz bico de cuidadora de animais, Dawn (Danielle Brooks), têm em comum para ajudar Steve a salvar os mundos (tanto o mágico quanto o real)? Absolutamente nada! Não há nenhuma explicação que justifique a formação deste grupo. Até aí tudo bem, já que estamos falado de um filme infantil que claramente flerta com o surrealismo, e claro que especialmente Garrett e Steve rendem momentos de diversão (Jack Black como sempre parece estar se divertindo pra valer em seu papel), mas para mim fica muito clara a confiança que os produtores tinham de que apenas o nome do jogo e a base de fãs já previamente estabelecida seria o bastante para o sucesso do filme, então não há necessidade de pensar em nada muito elaborado, no que eles parecem estar absolutamente certos.
Mesmo para um fã antigo (e talvez adulto demais) como eu, o filme deixa a desejar, explorando de forma muito superficial as inúmeras possibilidades que o jogo permite e dá de bandeja para um bom roteirista. A maioria das referências ao jogo são muito mais easter eggs do que algo que contribua de fato com a narrativa que estamos acompanhando, são momentos para que os jogadores notem e apontem eufóricos para a tela afirmando que perceberam, e só. Além do que a segurança de que haverão muitas e muitas continuações fez com que qualquer expectativa de que algo mais da rica mitologia do jogo fosse introduzido vá por água abaixo, claramente jogado para as prováveis sequências.
Um Filme Minecraft acaba sendo tremendamente decepcionante, mas que, por mais contraditório que seja, diverte e empolga em alguma medida, algo que podemos dizer que não é mais que sua obrigação, tendo em vista o material original. É mais um fruto da predatória indústria cinematográfica que deve gerar bilhões para uma meia dúzia de produtores de grandes empresas, mas que não contribui em praticamente nada mais nem para os expectadores, nem para os jogadores, além de uma diversão rasa e barata. É como quando escavamos e escavamos e escavamos e não encontramos nada de interessante, nem um mísero minério de ferro, só pedra e terra e mais pedra, até nossa picareta quebrar e não termos nem mesmo madeira para fazer uma craft table. Triste demais.
VEJA TABÉM
Super Mario Bros. – Um filme infantil pensado para os adultos
Sonic 2 – O inimigo ainda é o mesmo… mas tem outro também

Cineasta e Historiador. Membro da ACECCINE (Associação Cearense de Críticos de Cinema). É viciado em listas, roer as unhas e em assistir mais filmes e séries do que parece ser possível. Tem mais projetos do que tem tempo para concretizá-los. Não curte filmes de dança, mas ama Dirty Dancing. Apaixonado por faroestes, filmes de gângster e distopias.